New horizons to explore, New horizons no one’s ever seen before. Limitless wonder in a neverending sky. We may never, never reach them. That’s why we have to try». Brian May, que até aqui muitos só associavam aos Queen, vestiu a sua camisola de astrofísico e compôs a banda-sonora. A ciência fez tudo o resto, e não foi pouco. Às primeiras horas do Novo Ano, a NASA cumpriu com sucesso a primeira resolução de 2019: sobrevoar um objeto celeste para lá de Plutão, no Cinturão de Kuiper – uma região gelada onde estão preservadas formações do início do sistema solar. A confirmação de que tudo tinha corrido bem e que a sonda New Horizons estava de boa saúde chegou 10 horas depois e o Ultima Thule entrou para a História: é o objeto celeste mais primitivo alguma vez alcançado pela Humanidade e um vislumbre do que terão sido os blocos na origem de planetas rochosos como a Terra.
Os dados completos deverão demorar 20 meses a chegar, mas a NASA, cada vez mais empenhada (e criativa) na comunicação dos seus feitos – mesmo com os escritórios em shutdown na já típica paralisia dos EUA enquanto o orçamento do novo ano não é aprovado – não poupou nas imagens para sublinhar a importância e dificuldade da missão. «O Ultima Thule tem apenas o tamanho de Washington DC, é tão refletivo com a terra do jardim e está iluminado por um Sol que lhe chega 1900 vezes mais fraco do que num dia aberto aqui na Terra. Basicamente estávamos a persegui-lo às escuras a uma velocidade de 51 mil quilómetros por hora», descreveram os investigadores na conferência de imprensa. A New Horizons, sonda que há três anos já tinha encantado o mundo ao revelar a geologia a formar uma espécie de coração na superfície de Plutão, passou a 3500 quilómetros do Ultima Thule, três vezes mais perto do que tinha passado do último alvo. São por isso esperadas imagens de enorme resolução do encontro a 6 mil milhões de quilómetros da Terra, mesmo que as primeiras tenham parecido algo turvas. Chegou a pensar-se que seria um único bloco em forma de pino, mas afinal trata-se de um sistema binário de contacto, uma espécie de ‘boneco de neve’, com dois blocos juntos. Como os cientistas são pouco inventivos com as palavras, justificou Alan Stern, investigador principal da missão, o corpo ficou a chamar-se ‘Ultima’ e a cabeça ‘Thule’.
A descrição da união teve alguma poesia. Há 4,5 mil milhões de anos, nos primórdios da formação do Sistema Solar, rochas de diferentes tamanhos giraram umas sobre as outras até que duas se aproximaram lentamente, ficaram coladas «como duas naves que acoplam» e assim permaneceram a «descansar» uma na outra, num ambiente gelado e praticamente na mesma posição, até hoje. Os dois blocos, praticamente esféricos, terão encostado um ao outro a uma velocidade de 1 ou 2 quilómetros/hora. «A velocidade a que estacionaríamos o carro. Se batessem a essa velocidade nem seria preciso preencher a declaração amigável», comparou Jeff Moore, responsável pela equipa que trata dos aspetos geológicos da missão New Horizons. Sobre este novo mundo gelado sabe-se para já que tem uma superfície avermelhada, poucas crateras e diferentes formações geológicas, aspetos que serão estudados a fundo nos próximos meses. As expectativas estão altas. «Vai revolucionar o nosso conhecimento sobre ciência planetária», disse Stern.