Constantino Sakellarides está preocupado com a pouca continuidade dada ao projeto SNS+Proximidade, que visava reforçar cuidados de saúde de proximidade à população idosa e com mais doenças e resolver problemas como o congestionamento das urgências dos hospitais. Há oito meses pediu a demissão das funções de consultor do Ministério da Saúde, onde liderava o projeto, e diz que entretanto os sinais são de que a iniciativa está "moribunda".
O risco é grande, alerta. "O nosso Serviço Nacional de Saúde nasceu para a mortalidade infantil e é bom nisso, é bom para as crianças, para o desenvolvimento infantil. Mas ainda não deu a volta para ser um bom serviço para as pessoas que envelhecem e esse é o grande desafio", diz em entrevista ao SOL. "Tem de dar a volta, de se transformar, não é só ter mais recursos. Se não, acontece isto: vai ser inverno todo o ano nos serviços de urgência. São o barómetro de que alguma coisa não está a funcionar. Não é só haver mais clínicos gerais nos cuidados primários, é muito mais do que isso. É a resposta integrada, mais cuidados em casa, um conjunto de coisas que sabemos quais são mas ainda não visualizamos um SNS capaz de o fazer. Só sobrevive se o fizer" No quadro atual, o especialista da Escola Nacional de Saúde Pública acredita que o Estado está continuadamente a pôr recursos num "sistema disfuncional" que não resolve os problemas da população nem melhora os problemas de saúde.
Sakellarides fala da degradação do SNS, da discussão em torno da Lei de Bases da Saúde e da falta de uma estratégia, que tornou a governação num ato de pôr "paninhos quentes" sobre os problemas. "Como é que se consegue gerir alguma coisa e definir prioridades quando não há uma previsibilidade do que se pode gastar? Não há outro remédio se não ir sobrevivendo e tapando buracos."
Leia a entrevista na edição do SOL este fim-de-semana nas bancas.