«Se Nicolás Maduro mantiver a intransigência e se recusar a participar nesta solução de transição pacífica, isso significa que mais ninguém poderá contar com ele […) deixará de ser interlocutor válido», disse ontem o governante à imprensa em Lisboa.
Nos primeiros dias da mais recente crise política, o Palácio das Necessidades já havia defendido a posição de que se deveriam realizar «eleições livres» e que Maduro devia «compreender que o seu tempo acabou».
As declarações iniciais de Lisboa não foram bem recebidas por Luís Jorge dos Santos, Conselheiro das Comunidades Portuguesas na Venezuela, que pediu ao executivo português para ter mais «prudência» nas posições que toma em relação a Caracas, pelos riscos que a comunidade portuguesa no país pode correr. «Acho que dizer agora se estão de um lado ou de outro é irresponsável», disse o emigrante ao jornal i, explicando que o Executivo de António Costa deveria ter aguardado «mais uns dias para ver como as coisas se resolvem».
No entanto, Jaime Moreira, presidente da Federação de Lusodescendentes, garantiu ao i por telefone que as posições do Executivo não têm trazido quaisquer problemas à comunidade portuguesa na Venezuela. «Os venezuelanos são umas boas pessoas e acho que não há aquele conceito de agredir a nossa comunidade por causa das declarações de algum membro do Governo», garantiu, acrescentando que as palavras de Santos Silva «não afetaram diretamente» a comunidade.
Na Venezuela ainda vivem pouco mais de 500 mil portugueses, quando antes rondavam os 1,5 milhões. A comunidade tem passado por crescentes dificuldades com o acentuar da crise económica e da instabilidade política no país. «Com o salário mínimo dá para comprar uma caixa de ovos e um bocado de carne para o mês todo», disse David Alcaria, presidente do Centro Português da Venezuela. À inflação galopante, junta-se a escassez de alimentos e medicamentos, visto a Venezuela importar 80% do que consome, levando ao aumento da criminalidade.