A aprovação da moção de confiança veio criar melhores condições para esta liderança se afirmar?
Sim, porque pôs-se definitivamente cobro a uma fase de um certo desencontro interno. A partir da moção da confiança, ficaram clarificados os procedimentos internos do PSD. Nós tivemos algum ruído ao longo dos últimos meses. No congresso surgiu logo uma intervenção do Luís Montenegro a posicionar-se em termos de futuro, mesmo quando nós ainda não tínhamos feito nada. Nem bem, nem mal. Depois, apareceram várias vozes na comunicação social que provocaram uma certa divisão interna e ajudaram a que fosse percecionado pelos portugueses que o partido não estava unido.
E os problemas ficaram resolvidos?
Foi feita uma clarificação com a votação da moção de confiança e essa clarificação vai contribuir para que a mensagem do PSD possa ser mais amplificada e com outra unidade. Não acredito que, a partir de agora, exista a possibilidade de alguém aparecer publicamente a contestar a liderança. O ambiente criado com a aprovação da moção de confiança leva a que o partido possa agora afirmar-se publicamente a uma só voz, independentemente das divergências que cada um possa manifestar. Não será da mesma forma que era até aqui, porque a clarificação foi feita. Isso vai ter influência na eficácia da nossa mensagem, porque a partir de agora a voz do líder e da direção vai ter outra repercussão na opinião pública. Isso ajuda-nos a passar a mensagem mais facilmente.
Continua convencido de que seria prejudicial para o PSD realizar eleições diretas?
Está à vista. Se o partido, nesta altura, aceitasse o desafio das eleições diretas tinha 90 dias, pelo menos, para fazer um próximo congresso. O processo não termina com as eleições diretas. Só pode terminar com a realização de um congresso, porque o líder eleito em diretas só tem capacidade de decisão depois do congresso extraordinário. Em maio estaríamos a resolver a situação interna e ao mesmo tempo a fazer campanha para as europeias e a preparar as legislativas. Escusado será dizer que isso destruiria por completo as possibilidades de o PSD poder ser alternativa a este Governo durante esse período. Nenhum português votaria num partido que andasse a discutir questões internas enquanto os outros debatiam os problemas do país.
O que o faz ter a convicção de que a partir de agora vai haver paz interna e que os críticos não vão continuar a atacar Rui Rio?
Ficou demonstrado que o partido não entende quem tenta provocar alguma instabilidade. As eleições estão a aproximar-se e os militantes e simpatizantes não perdoariam nunca a quem o fizesse. As pessoas que têm algumas ambições sabem isso. Outra questão diferente é se acabaram as divergências dentro do partido e eu acho que essas não acabaram, nunca irão acabar, e ainda bem que existem. Cada um pode ter a sua opinião e as suas ideias. O que não pode fazer é sistematicamente usar essas ideias em termos táticos para a conquista do poder dentro do partido.
O PSD vai estar mais focado em fazer oposição e em falar dos problemas do país?
Não tenha qualquer dúvida. A pior coisa que nos podia acontecer era o partido aparecer dividido à beira das eleições. As pessoas iriam questionar-se: se eles não se entendem na sua própria casa como é que poderão entender-se para governar o país?
O PSD ainda está a tempo de vencer as próximas eleições?
O Governo, daqui a até às eleições, vai enfrentar cada vez mais dificuldades, porque o crescimento económico não é aquele que foi até aqui. E, por outro lado, a falta de investimento, nos últimos três anos, é cada vez mais visível na falta de qualidade dos serviços públicos. A área mais afetada é a Saúde. Aumenta o tempo de espera para as consultas, aumenta o tempo de espera para as cirurgias, os equipamentos estão a degradar-se. Este Governo está a ficar cada vez mais descredibilizado aos olhos dos portugueses.
No contacto que tem com os militantes do PSD sente que há essa convicção de que é possível ganhar as eleições?
O sentimento dos militantes anónimos, mesmo neste ano que passou, nunca foi de descrença. Conseguimos atrair cinco mil militantes. Tenho percorrido o país com o presidente do partido para ouvir os militantes e nunca vi desânimo nem desmotivação.
A presidente do CDS, Assunção Cristas, já afirmou várias vezes que o CDS é o único partido que recusa servir de muleta a António Costa. Como é que responde a esta crítica que é também feita pela oposição interna a Rui Rio?
Tenho assistido à aplicação da estratégia do partido e nunca, mas nunca, Rui Rio quis ser muleta de António Costa. É uma mensagem que passou na comunicação social, porque se calhar as pessoas queriam, numa primeira fase, uma crítica mais agressiva ao Governo e nós quebramos um bocado a estratégia que vinha de trás e que não tinha dado resultados. Mas isso nunca existiu. Eu tenho a certeza absoluta e posso garantir aos portugueses que não existe por parte do líder a vontade de ser muleta do PS ou vice-primeiro-ministro, como alguns dizem. Está perfeitamente consensualizado que ele quer ser primeiro-ministro e não outra coisa qualquer em conjunto com o PS.
Mas criou-se a ideia de que o PSD poderá viabilizar um Governo socialista a seguir às eleições. Isso não é verdade?
Tentaram passar essa mensagem, porque nós, numa primeira fase, não fizemos uma oposição tão agressiva. O tom e a forma da critica foram diferentes. E tinham de ser diferentes porque se alguém propõe fazer acordos em nome do interesse nacional não pode fazê-lo aos berros.
Pode garantir que o PSD não viabilizará um Governo socialista?
O que posso garantir é que Rui Rio nunca será muleta de António Costa. Nunca será muleta do PS.
O PSD vai realizar a primeira Convenção Nacional do Conselho Estratégico do PSD no dia 16 de fevereiro. É o início de uma nova fase?
Vamos dar a primeira prova e o primeiro sinal aos portugueses de que o discurso do líder feito até aqui e às vezes incompreendido vai dar resultados. O presidente do partido sempre disse que era preciso uma nova militância no PSD. Rui Rio também disse sempre que os programas de Governo não podem ser feitos por meia dúzia de sábios sem ter a participação do país real. Quando se criou o Conselho Estratégico Nacional não foi para fazer um governo sombra. Foi para mostrar que podia haver uma nova militância, ou seja, que as pessoas poderiam aderir a um projeto liderado pelo PSD, independentemente de serem ou não militantes. Isso só enriquece o partido. Esta primeira convenção é a prova de que esta estratégia está a dar resultados. Vamos juntar cerca de 1.500 pessoas.
É importante os partidos terem o apoio de pessoas com um perfil mais técnico?
Muitos não são militantes, mas são altamente preparados e quiseram participar na construção desta nova militância do PSD. Isto dá razão ao líder do partido quando dizia que devemos manter a militância tradicional, mas devemos inovar e abrir o partido àqueles que não se querem filiar e querem colaborar com o país. A partir daqui será possível construir um programa eleitoral que tenha em conta as preocupações de todo o país.
Há muita gente à direita a queixar-se de que não existe uma alternativa ao Governo socialista. Vai aparecer uma alternativa clara?
A oposição, numa primeira fase, foi feita no sentido de colocar o país em primeiro lugar e conseguir acordos de regime. Nada disso o partido socialista quis. Nada disso a ‘Geringonça’ e o Governo quiseram então agora temos propostas concretas e bem fundamentadas para apresentar aos portugueses. Temos pessoas do PSD e fora do PSD com competência para poder protagonizar essa estratégia e temos quase a certeza absoluta que esta estratégia nos vai levar à vitória nas legislativas.
O que é que, no essencial, distingue o PSD do PS?
Várias coisas. Primeiro, existe uma diferença na liderança. Temos um primeiro-ministro que engana os portugueses. António Costa tem, hoje, uma imagem de que engana os portugueses. Do outro lado temos um candidato a primeiro-ministro que é um homem sério. Tem a coragem suficiente fazer aquilo que diz, mesmo quando as pessoas não concordam. Esse é um dos aspetos que vai decidir as próximas eleições. Se as pessoas querem um primeiro-ministro que cede aos interesses, que cede ao PCP e ao BE, ou se querem um primeiro-ministro que corta a direito e tem a coragem e determinação necessárias para decidir. A outra grande diferença são as propostas. Não é possível haver reformas num Governo com esta composição, porque o PS tem de satisfazer as clientelas e os partidos que o apoiam. Nós queremos reformas e vamos apresentá-las de uma forma consolidada.