Foi a acusar o regime de Nicolás Maduro de o querer intimidar que Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional que se autoproclamou presidente interino da Venezuela, anunciou que as forças especiais da polícia entraram ontem em casa dele à procura da sua mulher. “A FAES está em minha casa e perguntaram pela Fabiana [a mulher]. Considero o cidadão Nicolás Maduro responsável pela integridade da minha filha que ali se encontra”, acusou Guaidó no Twitter, enquanto apresentava o seu “plano para o país”, um programa de transição até às eleições.
Depois da apresentação, dirigiu-se a casa, onde várias dezenas de jornalistas já o esperavam. E, com palavras de desafio, o líder da Assembleia Nacional garantiu que a sua família não será intimidada: “O objetivo é evidente, mas eles não vão conseguir quebrar a família venezuelana”.
Poucas horas antes, o Parlamento Europeu (PE) tinha aprovado uma resolução a reconhecer Guaidó como presidente interino da Venezuela. A moção, apresentada pelo Partido Popular Europeu, foi aprovada por 439 votos a favor, 104 contra e 88 abstenções. “O PE reconhece o senhor Guaidó como presidente interino da República Bolivariana da Venezuela, segundo o artigo 233 da sua Constituição e expressa total apoio ao seu rumo”, pode ler-se na moção.
A moção aprovada apela ainda às instituições europeias e aos 28 Estados-membros que deem os mesmos passos, adotando “uma posição firme e comum” até que “seja possível convocar novas eleições presidenciais livres, transparentes e credíveis, tendo em vista restabelecer a democracia”.
O prazo do ultimato europeu ao presidente venezuelano – eleições ou reconhecimento de Guaidó – termina apenas no domingo, mas o mais provável é que se esgote sem resposta. Maduro já recusou a convocatória de eleições presidenciais antecipadas e acusou a Europa de “insolência” com o ultimato. Por sua vez, o autoproclamado presidente convocou para este sábado uma grande manifestação contra o governo e em apoio à UE.
Bruxelas voltou ontem a aumentar a pressão sobre Caracas, agora por causa dos jornalistas detidos pelas autoridades venezuelanas. “Apelo em nome pessoal à libertação dos jornalistas”, afirmou Federica Mogherini, chefe da diplomacia europeia, em Bucareste, Roménia, onde decorreu uma reunião informal dos ministros dos Negócios Estrangeiros cujo principal tema na agenda era a crise no país latino-americano.
As autoridades venezuelanas detiveram nos últimos dois dias vários jornalistas estrangeiros, registando-se também ataques contra pelo menos 26 profissionais nas ruas de Caracas.
Na quarta-feira, dois jornalistas da agência espanhola EFE – o espanhol Gonzalo Domínguez Loeda e a colombiana Mauren Barriga Vargas – foram detidos pela SEBIN, a secreta venezuelana, na sede da agência na capital, sendo depois encaminhados para o hotel para recolherem os seus pertences. Ficaram detidos, mas entretanto já foram libertados, aguardando a deportação. Horas antes, ainda de manhã, o jornalista colombiano Leonardo Muñoz, também da EFE, havia sido detido quando se dirigia para uma das manifestações da oposição.
Não foram casos isolados. Outros dois jornalistas da TVN, a televisão nacional chilena, e dois venezuelanos foram detidos na terça-feira à noite quando faziam imagens frente ao Palácio de Miraflores, em Caracas. Os três jornalistas já foram libertados, mas poucas horas depois mais dois jornalistas franceses, Yann Barthes e Rolando Rodríguez, do canal TF1, foram detidos ao cobrirem uma vigília de apoiantes de Maduro no mesmo local.
Conhecido o paradeiro dos jornalistas, os respetivos governos começaram a exigir a sua libertação. “Exigimos a libertação imediata de jornalistas da TVN detidos na Venezuela. A nossa diplomacia está a fazer todas as diligências necessárias”, escreveu Sebastián Piñera, presidente do Chile, no Twitter.
O governo venezuelano acusou as agências e meios de comunicação social de enviarem jornalistas “sem os requisitos mínimos prévios”, caracterizando as suas ações como “irresponsáveis”. “É estranho e irresponsável que meios de comunicação enviem jornalistas sem cumprir os requisitos mínimos prévios que a lei da Venezuela exige, para logo armarem um escândalo mediático a que se juntam os seus governos. Outra faceta da operação mediática contra o país”, alegou Jorge Arreaza, ministro dos Negócios Estrangeiros venezuelano, no Twitter.