Em entrevista exclusiva ao jornal espanhol "El País", Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional que se autoproclamou presidente interino da Venezuela, recusou haver no país latino-americano o risco de uma guerra civil entre as forças da oposição e o regime de Nicolás Maduro. "Na Venezuela não há risco de uma guerra civil, como alguns querem ver", disse Guaidó, acrescentando que "90% da população quer mudança".
"Há uma pequena liderança militar ou de apoio ao regime que forma uma segurança de paramilitares, que chamamos por aqui de coletivos", afirmou o autoproclamado presidente. "A maioria do país quer mudanças, há um parlamento que cumpre as suas funções, há um presidente legitimamente encarregado de poderes pela Constituição, que procura uma solução política para o conflito", referiu.
Guaidó acusou ainda o regime de Maduro de governar pelo medo, agora que os subsídios são escassos com o bloqueio económico imposto pelos Estados Unidos e com a queda do preço do petróleo. "A única relação, a propósito, que o venezuelano tem com o Estado é de terror e subsídios. O subsídio, cada vez menos, e terrou ou medo é perdido todos os dias", garante, referindo que "mais de 140" pessoas morreram nos protestos violentos nas ruas da capital venezuelana em 2017. Todavia, entre estas, pelo menos 30 foram queimadas vivas por elementos da oposição nas ruas. As vítimas foram encaradas como apoiantes do chavismo.
Quanto a uma possível intervenção militar no país, Guaidó evitou falar de intervenção militar concentrando-se na reafirmação de a oposição ter pedido "a proteção de ativos" e "apoio humanitário", acrescentando que ainda hoje irá pedir a Bruxelas que avance com a "proteção dos bens da Venezuela, mas também apoio à ajuda humanitária e recursos para projetos". O Parlamento Europeu reconheceu hoje Guaidó como presidente interino da Venezuela.
Recorde-se que os Estados Unidos congelaram as contas bancárias da petrolífera estatal venezuelana, a PDVSA, permitindo o acesso às mesmas apenas a Guaidó. Uma decisão norte-americana que tem como objetivo exercer pressão sobre o regime de Maduro, ao mesmo tempo que sufoca a economia e afasta uma das fontes de receita do Estado e das forças armadas.
"Não terão como resgatar a economia, o mundo não reconhece as suas competências constitucionais. Há muitas pessoas pragmáticas ao redor e nós estamos à porta, digamos, de um momento pré-transição", declarou Guaidó. Sabendo que os militares são a espinha dorsal do regime, o autoproclamado presidente interino voltou a reforçar a amnistia e garantias aos militares que escolham desertar das forças armadas para apoiarem a oposição.
Caso tome as rédeas de facto do país, Guaidó garantiu que conseguirá organizar eleições livres "em seis, nove meses, no máximo 12".