A jornada 21 da Liga portuguesa começa esta sexta-feira em Moreira de Cónegos, com a receção do Moreirense ao campeão e líder FC Porto. Nos dragões, uma ausência de peso: Marega lesionou-se no nulo em Guimarães, no domingo, e deverá ficar algumas semanas fora dos relvados. Uma situação que Sérgio Conceição lamenta, como é fácil de depreender atendendo aos elogios que reservou para o avançado franco-maliano.
"O Marega é um grandíssimo jogador. Fez um ano e meio de grandíssimo nível comigo. Mas também perdemos o Aboubakar no começo de época e não se tem falado muito nisso, porque as coisas têm corrido bem e temos feito muitos golos. Houve um momento da época em que perdemos o Tiquinho, que nem foi inscrito na Liga dos Campeões por isso mesmo. Durante muito tempo tivemos de jogar só com um avançado. O Marega não é o típico jogador que pode ser uma referência no ataque e, no entanto, fizemos um trajeto acima da média na Liga dos Campeões. A dinâmica da equipa tem de colmatar a ausência de um jogador tão importante como Marega. Não me refiro só à manobra ofensiva, mas também defensiva: nas transições é o jogador mais forte que já treinei. Mas temos de arranjar soluções", salientou o treinador portista.
Conceição admitiu, ainda assim, que a forma de jogar da equipa "pode mudar um bocadinho" sem Marega: "Independentemente do jogador que entrar ou do sistema, são as dinâmicas e as nuances que definem o que é o FC Porto. Por vezes até jogamos em 4x2x4, mas isso são outras situações que não temos tempo para abordar. Obviamente que não vou dizer, mas há a possibilidade de meter mais um homem no meio ou de continuar com dois na frente. Temos essas soluções e penso que amanhã apresentaremos o onze que acho mais forte para ganharmos os três pontos. De forma muito geral e básica quero que a equipa explore a largura, profundidade e capacidade de jogar por dentro. Tudo o que treinamos é dentro desses princípios, jogue quem jogar. O Marega explora constantemente a profundidade. Vamos fazer de outra forma. Ao desvendar mais, posso revelar a estratégia para o jogo. A profundidade pode ser dada pelos avançados ou pelos laterais. Depende da estratégia para o jogo", realçou.
Pela frente, o FC Porto terá a equipa sensação do campeonato. O Moreirense é o atual quinto classificado da Liga, somando apenas duas derrotas em casa: frente ao Sporting, logo na primeira jornada, e com o Santa Clara, na ronda 12. Sérgio Conceição mostrou estar bem alerta para as qualidades do conjunto orientado por Ivo Vieira. "Esperamos um jogo difícil, talvez com a equipa revelação do campeonato. É uma equipa bem orientada, com jogadores muito interesses que têm qualidade para jogar em patamares superiores, com todo o respeito pelo Moreirense. É um conjunto interessante coletivamente, tem bons princípios. Vai ser um jogo difícil à imagem de tantos outros. Preparámos o jogo da melhor forma para ir a Moreira de Cónegos vencer", garantiu o técnico, desvalorizando o facto de este jogo anteceder a partida dos oitavos-de-final da Liga dos Campeões em Roma: "Jogos antes da Champions são de alto risco? Este é. É difícil jogar em Moreira de Cónegos. O FC Porto não tem saído muito feliz do campo do Moreirense. Preparamos e pensamos os jogos a pensar no próximo adversário, nunca nos jogos seguintes. É um jogo difícil de campeonato, de risco normal. Não pensamos nem pensaremos em nada a não ser no jogo de amanhã."
Do Moreirense chegou Loum, o médio senegalês assegurado pelos dragões no último dia do mercado de inverno. Questionado sobre uma eventual "ajuda" do reforço no que respeita ao conhecimento do adversário desta sexta-feira, Sérgio Conceição foi taxativo. "Não pedi conselhos, apesar de ele falar bem português. Comentei apenas uma situação de bola parada para confirmar uma coisa. 'É, é mister, é verdade'. Hoje em dia sabe-se tudo: quem faz o sinal com a meia, quem mexe na cabeça, quem tira qualquer coisa do olho", atirou o treinador do FC Porto, que ainda não esqueceu o 0-0 em Guimarães, que permitiu a Benfica e Braga aproximar-se dos azuis-e-brancos: "Estou com mais azia, porque estávamos a cinco e agora estamos a três. Perdemos pontos importantes. Mas temos de olhar para isso de forma tranquila: perdemos dois pontos, mas a jogar desta forma vamos ganhar muitos jogos. O Luís Castro disse que o Vitória teve de baixar linhas de acordo com a intensidade de jogo do FC Porto. Não houve uma equipa que tenha criado seis ou sete ocasiões claras para marcar em Guimarães. Podíamos ter ganho o jogo e estamos convictos de que vamos ser campeões. Existem jogos em que criámos muito menos e ganhámos 1-0. A riqueza do futebol a ver com isso."
Ainda sobre a partida de Guimarães, Sérgio Conceição queixou-se do tempo perdido pelo adversário e lembrou um gesto de Silas, treinador do Belenenses, SAD. "Muitas coisas passam despercebidas aos adeptos e aos jornalistas que estão a analisar o jogo. Não reparam nos apanha-bolas que, por vezes, deixam a bola no chão em vez de entregarem aos jogadores. Temos filmagens que apanham tudo e vimos alguns comportamentos que não são normais. Aconteceu algo semelhante no Jamor e o Silas chamou a atenção dos apanha-bolas ao intervalo. Tive a oportunidade de estar com ele na Cidade do Futebol e falámos disso", revelou o antigo internacional português, elogiando o adversário desta sexta-feira a esse respeito e abordando também as mudanças que os oponentes fazem, por opção ou obrigação, quando defrontam o FC Porto: "Nunca vi o Moreirense perder tempo, muito sinceramente. Isso é de louvar. É uma equipa positiva, que quer jogar, fiel à sua identidade. Amanhã vamos ter períodos em que vamos jogar no meio-campo defensivo deles. Contudo, isso não significa que o princípio do Moreirense não passe por jogar e procurar a baliza contrária. Olhar de forma incisiva para a baliza não tem nada a ver com saber jogar. Temos quase 70 por cento de posse de bola. A posse de bola passiva não me interessa, não vejo o jogo dessa forma. Por vezes, os adversários são obrigados a alterar as identidades que tanto apregoam. Depois esquecem-se que jogam contra equipas que os obrigam a alterar essa identidade. Se jogasse contra o FC Porto também teria cautelas e precauções pela intensidade grande que coloca em campo e pelo impacto físico incrível que tem."
Conceição foi ainda questionado sobre o facto de ter agora dez brasileiros no plantel, mas desvalorizou o assunto por completo. "Sinceramente nem sabia. Não estou atento à nacionalidade dos jogadores, ou à cor de pele, ou se gosta de ver filmes ou jogar consola. Vejo-o como ele é enquanto atleta e pessoa. Joguei com muitos brasileiros e os que tenho aqui são diferentes. Não diferencio os jogadores pela sua nacionalidade, quero é bons jogadores", realçou. Igualmente contundente foi a análise à notícia de que Jesús Corona vai falhar o encontro com a Roma – o internacional mexicano havia sido castigado por dois jogos pela UEFA, que interpretou como propositado o amarelo visto na parte final do jogo frente ao Schalke 04, e ficou agora a saber-se que o recurso dos dragões foi rejeitado. "Eles leem os pensamentos dos jogadores. Está pronto para este jogo e isso é o que me interessa. A seu tempo falaremos desse jogo, a nossa Liga dos Campeões é amanhã. Mas é verdade que está fora do jogo com a Roma", sentenciou.