Guaidó “autoriza” que entre ajuda humanitária em desafio a Maduro

A Cruz Vermelha colombiana disse que não irá participar por não se tratar de ajuda humanitária

Num claro desafio à autoridade do chefe de Estado venezuelano, Nicolás Maduro, Juan Guaidó, autoproclamado presidente interino, “autorizou” a entrada de “ajuda humanitária” na Venezuela, apontando mesmo uma data: 23 de fevereiro. Para isso, apelou aos militares, o grande apoio do regime, que não bloqueiem a entrada no país. 

“A ajuda humanitária entrará na Venezuela quer queiram quer não, porque o usurpador vai ter de se ir embora da Venezuela”, afirmou Guaidó, acrescentando que “não é a primeira vez que a Venezuela se vai livrar de um tirano, esperamos que seja a última”.

Ainda que a oposição venezuelana conte com o sólido apoio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a hipótese de intervenção americana está posta de lado, porque o Congresso não a aprovará. “Quero deixar isto bem claro a quem nos está a ver: uma intervenção militar norte-americana não é uma opção”, garantiu o congressista democrata Eliot Engel, cujo partido a que pertence detém a maioria na Câmara dos Representantes. 

Fora dos EUA, há quem denuncie que a entrada de “ajuda humanitária” não é mais que uma “invasão” encapotada para depor o presidente Maduro, politizando um mecanismo internacional. “Não vamos participar nela, para nós, não é ajuda humanitária”, garantiu o porta-voz da Cruz Vermelha da Colômbia, Christoph Harnisch. 

Não foi o único a contestar a “ajuda humanitária” patrocinada por Washington. A ONU, através do porta-voz Stéphane Djarric, sublinhou que todas as ajudas que visam responder a situações de carência humanitária devem ser “independentes”. “A ação humanitária precisa de ser independente de objetivos políticos, militares ou outros”, garantiu, anunciando que as Nações Unidas pediram aos Estados-membros para aumentarem o orçamento dos seus programas humanitários  para a Venezuela.

Por sua vez, o Papa Francisco criticou Maduro por falta de “gestos concretos” para que a Igreja Católica possa mediar os conflitos internos no país. “Infelizmente, todas [as tentativas] foram interrompidas porque o que havia sido acordado nas reuniões não foi seguido de gestos concretos”, criticou o sumo pontifice, numa carta enviada a Caracas no dia 7 de fevereiro e a que o jornal italiano “Corriere della Sera” teve acesso exclusivo. O Papa encontrou-se na semana passada com Guaidó.