Várias figuras do futebol mundial comentaram que nunca tinham assistido a nada assim. Referiam-se ao episódio protagonizado por Kepa Arrizabalaga na final da Taça da Liga inglesa, conquistada pelo Manchester City, no passado domingo.
Já no final do prolongamento, as imagens do guarda-redes a recusar-se a sair do terreno de jogo – quando o técnico do Chelsea queria lançar Caballero para o seu lugar – tornaram-se virais.
Por incrível que pareça, o espanhol não é caso único já que houve um jogador na época de 90/91 a rejeitar ser substituído: o português Paulo Futre. Na sequência do episódio com o jogador dos blues, Futre lembrou um episódio semelhante ocorrido nos tempos em que jogava no Atlético Madrid. O caso remonta à partida entre o Burgos e o Atlético, que terminou empatada a um golo.
Num post publicado nas redes sociais, o antigo internacional português relembrou a ira do jugoslavo Tomislav Ivić, à data seu treinador. «Kepa não foste o único. […] Em todos estes anos ainda não tinha visto nenhum caso tão escandaloso como o meu», escreveu. «Sobra dizer que é um gesto muito feio. Não é um exemplo para as crianças e merece um castigo exemplar», continuou o atual comentador desportivo, que, ainda assim, destaca a «ousadia» e «personalidade» do espanhol.
Depois do momento insólito no estádio de Wembley, Maurizio Sarri e Kepa afinaram a justificação de modo a minimizar os efeitos na imprensa. Disseram que tudo não passou de «um grande mal-entendido», que havia deixado, recorde-se, o técnico italiano de tal forma irritado, que ameaçou abandonar a zona técnica ainda antes de se ficar a saber que o encontro só ficaria resolvido no desempate através das grandes penalidades.
Apesar da harmonia possível mostrada entre os dois envolvidos, na terça-feira, o treinador dos blues não fez questão de esconder o desagrado perante a atitude do seu jogador.
Na conferência de imprensa do jogo com o Tottenham, disputado no dia seguinte, o ex-treinador do Nápoles surgiu sem papas na língua: «Kepa cometeu um grande erro. Isso tem consequências». Questionado sobre se o facto de o guarda-redes poder vir a ficar de fora das opções para o jogo com os spurs era um castigo ou uma questão tática, o treinador dos blues apenas disse que seria uma decisão tomada «a pensar no melhor para o grupo».
Assim, o momento da verdade só chegou cerca de uma hora antes desta 28.ª jornada da Liga inglesa, quando o Chelsea deu a conhecer o onze inicial, sem Kepa a figurar na lista.
«Agora tem que estar preparado para jogar ou para ficar no banco», havia garantido o treinador na mesma conferência, adiantando que, apesar deste erro, o Chelsea não iria «matar» Kepa.
Um duplo castigo para o espanhol, que já tinha visto o emblema londrino multá-lo em 222 mil euros, correspondente a uma semana de salário.
O guarda-redes mais caro da história
Kepa chegou a Inglaterra no verão passado, depois de o Chelsea ter desembolsado os 80 milhões de euros da sua cláusula de rescisão, fixada pelos espanhóis do Athletic Bilbao.
O valor dispensado pelos blues tornou, aliás, o guarda-redes espanhol, à data com 23 anos, o mais caro da história do futebol – ultrapassando a transferência de Alisson Becker (da Roma para o Liverpool), que custou 62,5 milhões de euros.
Na altura, o espanhol rendeu o guardião belga Thibaut Courtois (Real Madrid) e assinou um contrato com os londrinos válido por sete temporadas.
Numa carreira com uma ascensão meteórica, o espanhol fez a sua formação no Athletic, onde chegou com apenas nove anos. Depois de alguns empréstimos, estreou-se pela formação basca em 2016.
Na época transata, apesar de o emblema de Bilbau ter terminado em 16.º lugar, sofreu menos golos do que o Villarreal, quinto classificado. Além disso, representou todas as seleções espanholas desde os sub-18 e estreou-se pela principal em novembro de 2017. O seu ponto alto internacional aconteceu no Euro Sub-19 de 2012, quando defendeu dois penáltis nas meias-finais, frente à França. Chegou mesmo a ser apontado como reforço dos merengues, mas acabaria por fazer história com a sua transferência para Inglaterra.
Em janeiro deste ano, o seu treinador disse que iria ser «um dos melhores guarda-redes da Europa».
Fora das quatro linhas, Kepa ficou conhecido por ter um hobbie incomum, relacionado com os pássaros. Durante a sua juventude, o guarda-redes apanhava pintassilgos – que treinava – e chegou até a ganhar competições de pássaros.
Todavia, nem mesmo o facto de ter as regras do jogo a seu favor, – já que a Lei 3 do International Board (IFAB), órgão que regulamenta as regras do futebol, diz que «se um jogador que vai ser substituído se recusar a deixar o terreno de jogo, o jogo continua» -, foi um impedimento para voar para o banco.
Oitenta milhões no banco, até quando?
Os blues acabaram mesmo por vencer na receção aos spurs (2-0) e mantém, assim, a sexta posição na tabela, a 16 pontos do líder Liverpool, que soma mais um jogo do que o Chelsea.
Os comandados de Sarri voltam a entrar este domingo em campo (3 de março), no terreno do Fulham, em novo jogo a contar para as contas do campeonato inglês.
Já na quinta-feira (7 de março), os blues recebem o Dinamo Kiev, em jogo referente à primeira mão dos oitavos-de-final da Liga Europa. Resta, por isso, saber até quando é que o técnico italiano vai manter este castigo ao guarda-redes espanhol e deixar 80 milhões de euros parados no banco…