Com as eleições à porta, o PSD aproveitou as jornadas parlamentares, no Porto, para endurecer o discurso contra o governo socialista. Rui Rio encerrou o encontro com a garantia de que «este Governo, tirando o gonçalvismo, é o mais à esquerda que tivemos em Portugal».
O líder social-democrata criticou o discurso de «meias verdades» do Governo. «Aquilo que nós precisamos é de melhor gestão, mais rigor, menos compadrio, mais coragem, mais reformismo, mais crescimento económico e um discurso político de coragem e de verdade».
Fernando Negrão abriu as jornadas e disparou em várias direções. A remodelação por causa das europeias serviu para o líder parlamentar do PSD acusar António Costa de escolher uma equipa «cada vez mais enredada nas teias familiares de maridos e mulheres e de pais e filhos».
Negrão criticou a falta de ambição do Governo, nomeadamente em relação ao crescimento económico, e acusou António Costa de «só ser grande no desejo de manutenção no poder», porque «este consegue ser o Governo dos pequeninos. Dos objetivos pequeninos, das responsabilidades pequeninas, dos erros pequeninos, das medidas pequeninas e do crescimento pequenino».
O PSD já está a preparar a campanha eleitoral e vai insistir na ideia de que os serviços públicos pioraram com a geringonça. «É o caos total e universal», disse Fernando Negrão, numa referência aos problemas no Serviço Nacional de Saúde.
Paulo Rangel também garantiu que o diabo «não veio pela porta», mas «entrou na janela do Serviço Nacional de Saúde e entrou na janela da segurança das pessoas e bens». O cabeça de lista do PSD às europeias defendeu que «o maior dano que este Governo cometeu foi a destruição, pedra por pedra, tijolo por tijolo, do Serviço Nacional de Saúde. Este governo está a destruir rapidamente o SNS».
A direção do PSD acredita que está criado o clima para que o partido comece a recuperar. «Já se nota», diz ao SOL o secretário-geral do partido. José Silvano garante que a estratégia de Rui Rio foi desde o início esperar pelo aproximar das eleições para endurecer o discurso. «Houve uma fase mais serena e mais propícia a entendimentos, mas é evidente que a contestação é maior com o aproximar das eleições. O Governo cada vez dá mais razões para que essa contestação seja em força». Silvano acredita que «as pessoas já perceberam as asneiras que o Governo está a fazer» e «mais facilmente dão atenção à oposição, porque tem um discurso que corresponde à realidade».
O primeiro teste eleitoral de Rui Rio são as eleições Europeias, no dia 26 de maio. A seguir, o PSD aposta forte nas eleições regionais na Madeira. Pela primeira vez, os sociais-democratas não dão a vitória como certa e a direção social-democrata acredita que uma derrota dos socialistas naquela região, à beira das legislativas, poderá dar alento ao um momento de viragem, pelo qual os sociais-democratas tanto esperam.
Nicolau Santos incomoda deputados passistas
Com o desafio lançado por Luís Montenegro para antecipar as eleições, Rui Rio conseguiu calar a oposição interna. Não agradou, porém, a alguns deputados sociais-democratas, mais próximos do passismo, o convite feito pela direção do partido ao jornalista Nicolau Santos, presidente do conselho de administração da agência Lusa, para participar nas jornadas parlamentares.
O jornalista foi o moderador de um debate em que participaram António Saraiva, Carlos Magno, David Justino e Hernâni Dias, mas alguns deputados não gostaram do convite a um dos jornalistas críticos de Passos Coelho. «Fui às jornadas, mas não fui ao painel onde ele esteve presente. Havia outras pessoas para convidar», diz ao SOL Miguel Morgado, deputado e antigo assessor de Passos Coelho.
Acabar com os pagamentos de quotas em massa
No dia do encerramento das jornadas parlamentares, a direção do PSD anunciou o fim do pagamento das quotas de militantes em massa. As quotas podem ser pagas por via postal, mas também por multibanco. E, até, ontem, a referência bancária para pagar quotas numa ATM correspondia ao número de militante, acrescido de vários zeros. Segundo a sede do PSD, essa possibilidade acabou porque a referência eletrónica passa a ser gerada aleatoriamente e tem um prazo de vida de 90 dias para ser utilizada. «Esta reforma, embora pequena, é um ajustamento administrativo para aquilo que é a transparência política que se pretende ao nível dos partidos, acho que é absolutamente fundamental. Pode haver uma quebra na receita, mas a democracia está em primeiro lugar», afirmou ontem o líder do PSD, Rui Rio, em Matosinhos.
Líder não fez convite para as Europeias de maio
O presidente do PSD encerrou ontem as jornadas parlamentares do partido, no Porto, mas antes fez questão de esclarecer que ainda não fez convites para completar a lista às eleições Europeias de 26 de maio, encabeçada por Paulo Rangel. Para o efeito, o presidente social-democrata aproveitou, mais uma vez a rede social Twitter para fazer um ponto de ordem: «Parece que começaram as notícias (como sempre, de fonte bem colocada) sobre a lista do PSD às eleições europeias. Serão todas muito credíveis, mas há um pequenino pormenor; a proposta a fazer ao CN [Conselho Nacional] só está na minha cabeça e eu ainda não convidei ninguém. E esta, hein?.»
A alegada lista de que Rio falava é a versão que tem surgido na discussão de bastidores e inclui Isabel Meireles, José Manuel Fernandes e Álvaro Amaro na equipa em lugares elegíveis, deixando o nome a indicar pelo PSD/Açores num lugar de risco. Do lado da direção, o vice-presidente do PSD Salvador Malheiro preferiu apenas sublinhar que os primeiros dez nomes da equipa estão «exclusivamente na cabeça de Rui Rio e que tudo o resto é especulação». O PSD tem Conselho Nacional marcado para o próximo dia 13 para aprovar a lista. Com Cristina Rita