Celebram-se por estes dias os 30 anos da primeira conquista mundial de uma seleção portuguesa: o Campeonato do Mundo de sub-20, na Arábia Saudita – na verdade, a data exata da vitória na final de Riade foi a do último domingo, no passado dia 3.
Para celebrar o feito, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) convidou os campeões do mundo de Riade a passar um dia na Cidade do Futebol para um reencontro onde se desfiaram memórias e se recordaram aqueles dias entre fevereiro e março no continente asiático, no já longínquo ano de 1989. O grupo de jogadores, técnicos e restante comitiva que marcou presença na tarde de confraternização visitou um balneário cheio de imagens evocativas da conquista no Médio Oriente, vestiu equipamentos inspirados naqueles utilizados há precisamente 30 anos e chegou mesmo a pisar o relvado e a fazer um minijogo, já depois de uma palestra motivacional de Carlos Queiroz, o timoneiro dessa conquista – e também da conseguida dois anos depois em Lisboa, na célebre final com o Brasil decidida com um penálti de Rui Costa.
Um detalhe, porém, marca estas e todas as celebrações que têm acontecido ao longo dos anos no que a estas duas vitórias diz respeito: não há taças para ninguém. É verdade: por mais estranho que possa parecer, os troféus referentes às duas caminhadas triunfais só podem ser vistos nas fotografias da festa da altura. Desde então, estão na posse da FIFA, que nem sequer uma réplica ofereceu à FPF.
«Esses troféus, bem como outros que as seleções jovens portuguesas venceram ao longo dos anos, não se encontram na posse da FPF. Na altura a que as competições se referem, a prática era o país vencedor ficar com o troféu apenas durante algum tempo, sendo o mesmo devolvido antes da edição seguinte da prova. Só ficámos com diplomas alusivos às conquistas desses dois Mundiais», revelou fonte da FPF ao SOL, na sequência de um pedido para fazer uma reportagem fotográfica com as duas taças. «No caso de competições da UEFA, nomeadamente no futebol de formação, o que acontece normalmente é ficarmos com miniaturas das taças conquistadas», acrescentou a mesma fonte.
Campeões europeus ficam com réplica
Esta é, refira-se, uma prática que continua a acontecer ainda nos dias de hoje. A taça do Euro 2016, conquistada há quase três anos em Paris pela seleção nacional, sob as ordens de Fernando Santos, também não ficará para sempre no museu que a FPF tem idealizado e que deverá começar a ser construído em breve. No próximo ano, antes do início de mais um Campeonato da Europa, o troféu (criado antes do primeiro torneio, em 1960, e denominado Henri Delaunay em homenagem ao sectretário-geral da UEFA que idealizou a competição), será devolvido à UEFA, que depois o entregará ao vencedor dessa prova; no nosso país ficará para sempre uma réplica, ainda que oficial e igual à original.
O mesmo aconteceu com as taças de campeão europeu conquistadas pelo Benfica em 1960/61 e 1961/62 e pelo FC Porto em 1986/87 e 2003/04, bem como a Taça das Taças do Sporting em 1963/64. A taça original que premiava os vencedores da Taça dos Campeões Europeus, atual Liga dos Campeões – aquela conquistada pelos encarnados -, foi atribuída de forma permanente ao Real Madrid em 1967, depois do clube merengue vencer a competição pela sexta vez (cinco das quais seguidas, entre 1956 e 1960).
Daí para cá, outros quatro clubes conseguiram a honra de ficar para sempre com o troféu nos seus museus: o Ajax, em 1973, depois do terceiro título europeu consecutivo; o Bayern Munique, em 1976, também por ter conquistado o tri; o AC Milan, em 1994, pelo quinto triunfo no seu historial; e o Liverpool, em 2005, pelo mesmo motivo.
Desde 2006, portanto, o troféu atribuído aos vencedores é sempre o mesmo e fica na sua posse apenas durante o momento das celebrações: logo depois, a UEFA oferece ao clube campeão europeu uma réplica à escala real. O mesmo acontece com a Liga Europa, sendo que neste caso o Sevilha tem a honra de poder utilizar o emblema de multicampeão, referente aos três troféus conquistados de forma consecutiva entre 2013 e 2016.
Os troféus que foram para casa… mas por pouco tempo
Da Jules Rimet, roubada duas vezes, à Bola de Ouro de Maradona em 86, muitas têm sido as peripécias com taças de campeão- no futebol e não só.
No caso das conquistas portuguesas nos Mundiais de sub-20, os troféus depressa retornaram para o seu dono original: a FIFA. Outras situações houve, porém, em que os troféus não ficaram com os vencedores… nem com os organizadores. O desaparecimento mais famoso foi o da Taça Jules Rimet, o troféu original de campeão do mundo, oferecida ao Brasil após a conquista do seu terceiro Mundial, em 1970.
Treze anos depois, a 19 de dezembro de 1983, a icónica taça, feita de ouro com uma base de pedras semipreciosas, com 3,8 kg e 35 cm, foi roubada do prédio da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) na Rua da Alfândega, no centro do Rio de Janeiro, juntamente com outros três troféus, e nunca viria a ser encontrada. Curiosamente, essa já era a segunda vez que tal acontecia: a primeira havia sido em março de 1966, em Londres, numa exposição no Central Hall de Westminster, pouco antes de a seleção inglesa celebrar a conquista do Mundial realizado precisamente em terras de sua majestade. Aí, a taça acabou por ser encontrada poucos dias depois por Pickles, um cão rafeiro que ficaria nos anais da história por esse feito heróico. Edward Betchley, um ex-soldado de 46 anos, foi preso por extorsão, depois de ter ameaçado derreter a taça se não lhe fossem pagas 15 mil libras, acabando por morrer dois anos depois. Curiosamente, como se pode ler no livro Day of the Match, nessa ocasião um assessor da CBF referiu que «este sacrilégio jamais seria cometido no Brasil, onde até mesmo os ladrões eram apaixonados por futebol»…
A partir de 1968, e devido a esse primeiro roubo, a FIFA encomendou uma réplica da taça, que passou a ser apresentada como sendo a original em cerimônias e eventos promocionais da entidade – e é também uma réplica banhada a ouro que os campeões do mundo expõem nos seus museus após devolverem a taça original à sede da FIFA, na Suíça, antes de cada Mundial.
A Bola de Ouro atribuída a Diego Maradona, pela distinção como melhor jogador do Mundial 86, foi outro dos troféus a desaparecer misteriosamente. Aconteceu três anos depois, num assalto ao Banco de Nápoles. Em 2014, desapareceram ainda no Rio de Janeiro os troféus referentes às conquistas feminina e masculina do Brasil no Mundial de vólei, mas também 64 taças de Fórmula 1 da Red Bull, em Londres – cerca de 20 acabaram por ser encontradas mais tarde a boiar num lago. E há ainda a recordar a ‘brincadeira’ de Sergio Ramos após a conquista da Taça do Rei frente ao Valência: o capitão do Real Madrid deixou cair o troféu, que foi… passado a ferro pelo autocarro, obrigando o clube merengue a encomendar uma réplica para ter no seu museu.