Numa tentativa para desanuviar a tensão que se vive nas ruas argelinas, o recém nomeado primeiro-ministro, Noureddine Bedoui, começou ontem a dar os primeiros passos para formar um novo governo, segundo a agência de notícias argelina APS. Bedoui pretende constituir um executivo que seja consensual na sociedade, composto por especialistas e pessoas sem qualquer filiação partidária.
Há mais de três semanas que milhares de argelinos saem quase todos os dias à rua para exigir que o presidente, Abdel Aziz Bouteflika, de 82 anos e gravemente doente, não se recandidate para um quinto mandato presidencial nas próximas eleições. Bouteflika cedeu e garantiu não se recandidatar, adiando as eleições presidenciais de 18 de abril. Os manifestantes suspeitam que o adiamento da eleição seja um jogada política do chefe de Estado para se manter no poder, dando origem a mais protestos. Agora, exigem que os mais próximos do chefe de Estado abandonem realmente o poder, isto é, a máquina governativa. Os protestos evoluíram para uma crítica generalizada ao sistema político e à classe governante como um todo.
A formação do novo governo de Bedoui não deverá conseguir desanuviar a situação que se vive no país. Os manifestantes entendem que o país é governado há décadas pelas mesmas figuras políticas, pertencentes à geração responsável pela independência da Argélia do colonialismo francês, em 1962. Com a nova composição do governo, Bedoui pretende mostrar que o futuro imediato não seguirá essa mesma tendência, daí a escolha de elementos sem ligações partidárias para o executivo.
“O novo governo vai cair em 24 horas por lhe faltar legitimidade e apoio popular”, disse o manifestante Fodil Boumala à Reuters.
Na sexta-feira, Argel, foi palco do maior protesto desde o início das manifestações: centenas de milhares de pessoas, com bandeiras do país, encheram as praças e as ruas da capital, segundo a mesma agência. O protesto foi na sua grande maioria pacífico, mas 75 manifestantes foram detidos e 11 polícias ficaram com ferimentos ligeiros.
Um protesto cujo resultado mais visível foi a aceleração da perda de apoio de Bouteflika entre a elite governante, nomeadamente no partido do poder, a Frente de Libertação Nacional.