E se a compra de alimentos saudáveis fosse comparticipada?

Estudo publicado ontem na revista PLOS Medicine estudou o cenário nos EUA e conclui que poderia prevenir milhares de mortes. 

“Em quase todos os países, os gastos em saúde continuam a aumentar de forma dramática, com os problemas relacionadas com a dieta a serem um dos principais fatores”. Foi esta a premissa na base de um estudo conduzido pela Universidade Tufts, em Massachusetts. Os investigadores analisaram a fundo uma forma inovadora de abordar o problema: incentivos para comprar alimentos saudáveis. 

As conclusões foram publicadas ontem na revista científica “PLOS Medicine”. A equipa, que estudou a implementação da medida na população abrangida pelos programas de saúde Medicaid e Medicare, concluiu que uma comparticipação de 30% na compra de frutas e vegetais poderia prevenir 1,93 milhões de episódios de doença cardiovascular e 350 mil mortes. Estudaram ainda um cenário em que o subsídio seria alargado a outros alimentos saudáveis como produtos integrais, frutos secos, peixe e óleos vegetais e apontam, neste caso, para a prevenção de 3,28 milhões de episódios de doença cardiovascular e 620 mil mortes evitadas. Também haveria menos casos de diabetes, com uma poupança global de 100 mil milhões de dólares em gastos de saúde. 

As contas foram feitas tendo em conta o perfil de saúde da população abrangida pelo que são dois dos principais seguros de saúde norte-americanos e pensando que a medida vigoraria ao longo de toda a vida dos cidadãos. A ideia seria passarem a ter este incentivo através de um cartão que poderiam usar em estabelecimentos aderentes e que subsidiaria 30% da fatura. Os modelos que usaram para simular o impacto da medida tiveram por base uma meta-análise de estudos que calculou o impacto das alterações de preço na ingestão de alimentos saudáveis.

“Esta meta-análise demonstrou que cada variação de 1% nos preços leva a uma alteração de 1,24% na ingestão de alimentos saudáveis”, lê-se no estudo. A equipa concluiu que a medida seria custo-efetiva ao fim de cinco anos e ainda mais ao fim de 20 e acreditam que o trabalho dá bases para que se possa avançar com um projeto-piloto no âmbito dos dois programas de saúde. Estimaram que os cartões custariam entre 110 e 185 dólares por ano por individuo, sendo o custo-benefício igual ou superior àquele que se apura para a prescrição de medicação para a hipertensão ou para o uso de estatinas na prevenção da doença cardiovascular.

Nos EUA, a ideia de incentivar a prescrição de alimentos saudáveis tem estado a ganhar terreno. Depois de projetos locais, no final de 2018 foi aprovada uma nova lei agrícola que inclui o conceito de prescrição de vegetais e prevê experiências-piloto ao longo dos próximos cinco anos.