Foi a olhar para o passado, mas principalmente para o futuro que o movimento "Nascidos a 5 de julho" se apresentou hoje em Lisboa. Inspira-se na Aliança Democrática de Sá Carneiro, mas não se fica por aí: quer "refundar" a "família não socialista" e, para isso, quer ser um movimento alargado em que tanto militantes do PSD como do CDS-PP, não esquecendo os dos novos partidos recém-nascidos, se reconheçam e queiram aderir.
O movimento foi apresentado por Miguel Morgado, antigo assessor político de Passos Coelho e figura que é visto como eventual candidato à liderança do PSD, pela vice-presidente do CDS-PP Cecília Meireles e pelo presidente da Iniciativa Liberal, Carlos Guimarães Pinto. Também existem intelectuais a apoiarem o movimento, como é o caso do historiador Rui Ramos, a jornalista Maria João Avillez e o antigo secretário de Estado da Cultura Francisco José viegas.
"Insurgimo-nos contra o imobilismo socialista e a sua conceção hegemónica de poder, que vê esse exercício como o alargamento de redes de dependência e clientelas, contra a colonização do Estado, que desvitalizar a sua autoridada, e contra a ocupação dos principais centros de decisão na sociedade, que torna o país cativo de compadrios e substitui a autonomia e a liberdade de subserviência", pode ler-se no manifesto, linhas que perfazem o último dos dez princípios orientadores do novo movimento.
O documento do movimento não tem meias palavras para a situação pela qual a direita portuguesa passa nos dias que correm, ora com divisões ora com guerras internas pelo poder. "A direita atravessa hoje uma crise política e cultura que é evidente para todos. O perigo que a espreita não é menor do que a oportunidade que abre – refundar-se e construir-se para depois se federar", lê-se no manifesto, com o movimento a auto propor-se para avançar com essa "tarefa" de união.
Uma situação que é, em parte, resultado da situação sem rumo que o quadrante político vive por haver uma solução governativa nunca antes tentada e que ficou conhecida por "geringonça" – governo minoritário do PS com o apoio parlamentar do Bloco de Esquerda, PCP e Verdes. E, se PSD e PS acordam pactos de regimes nas questões fundamentais para a governação, o movimento critica esses mesmos pactos: "Já chega de fórmulas vazias como a 'convergência com a Europa'. Basta de apelos repisados a 'pactos de regime'". E, rompendo com a ideia federalista no centro político, o movimento recusa "projetos de construção de um super-Estado federal europeu".
E, como alternativa, diz ao que vem e o que quer. "Partimos da livre iniciativa económica e damos primazia à economia de mercado concorrencial. E, por isso, recusamos o burocratismo e o estatismo socialistas, os pais da estagnação económica", diz o manifesto, referindo que o movimento é defensor da "valorização da mobilidade social" e das "oportunidades para todos, independentemente da cor da pela que se tem, da família onde se nasceu, do bairro onde se vive, ou a terra em que se habita".
Valores que não fazem com que o movimento não deixe de criticar "a oligarquização da sociedade" e o "socialismo que protege com a cumplicidade dos grandes interesses empresariais".
Olhando para o passado num momento de dificuldades, o movimento sabe as dificuldades que se lhe confronta na federação das direitas, "pela primeira vez consumada há 40 anos" sob a Aliança Democrática de Francisco Sá Carneiro.
Além da possível oposição no seio dos dois principais partidos da direita portuguesa, PSD e CDS-PP, o movimento tem ainda um outro concorrente: André Ventura, fundador do Chega. Ventura tem tentado recolher apoios para construir uma coligação alargada de direita para as eleições europeias de 26 de maio e, porventura, também para as legislativas de 6 de outubro.
Ventura sofreu na semana passada um percalço quando o Partido Popular Monárquico recusou apoiá-lo, chamando-lhe "racista" e "populista". No entanto, o antigo vereador do PSD em Loures mantém o apoio de outras forças políticas, como o Democracia 21, e o Partido Cidadania e Democracia Cristã (PPV). Além disso, o Palácio de Ratton, sede do Tribunal Constitucional, não validou a formação do seu partido por nas 7500 assinaturas obrigatórias constarem menores e agentes das forças de segurança.