A tensão entre os Estados Unidos e a Rússia em torno da Venezuela continua elevada. Ontem, mais avisos foram feitos de parte a parte durante uma conversa telefónica entre o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, e o seu homólogo russo, Sergei Lavrov. O primeiro avisou o Kremlin para “acabar com o comportamento não construtivo”, ou seja, o apoio a Maduro e o veto às resoluções dos EUA que estipulam o reconhecimento do autoproclamado Presidente venezuelano, Juan Guaidó. Por sua vez, Lavrov não deixou de alertar Pompeo para os riscos de uma intervenção militar no país e na região, desestabilizando-os à semelhança do que aconteceu no Médio Oriente com a invasão do Iraque, em 2003.
No fim de semana, dois aviões Antonov-124 aterraram no aeroporto de Caracas, capital da Venezuela, com 100 soldados russos e 35 toneladas de equipamento militar, segundo o jornalista venezuelano Javier Mayorca. De acordo com o site russo Sputnik, os militares têm como missão o “cumprimento de contratos militares” e discutir a manutenção de equipamento militar e programas de treino com os militares venezuelanos.
O Kremlin tem enviado nos últimos anos tropas russas para teatros de operações onde soldados norte-americanos confrontam os seus aliados, como aconteceu na Síria ou na Ucrânia. No primeiro, venceu a coligação dos aliados dos EUA; no segundo, o conflito está em estado latente.
Moscovo é, em conjunto com a China, um dos principais aliados internacionais de Caracas, tendo já enviado 100 toneladas de medicamentos em “assistência técnica” e mercenários para reforçar a segurança pessoal do Presidente venezuelano. Além disso, o Kremlin destacou no passado recente dois bombardeiros russos Tu-160 para participarem em exercícios militares com as forças armadas venezuelanas – foi a primeira vez que Moscovo o fez e foi a maior ingerência no subcontinente latino–americano desde o apoio soviético à Cuba de Fidel Castro, na década de 60.
A aliança não é apenas por Caracas se opor aos EUA, mas principalmente por tanto a Rússia como a China terem investido centenas de milhões de dólares na indústria petrolífera venezuelana – indústria que já foi alvo de inúmeras sanções norte-americanas.
O envio dos militares é também uma demonstração de força perante as constantes ameaças e avisos de Washington tanto contra Caracas como para a Rússia. Washington garantiu inúmeras vezes que “todas as opções estão em cima da mesa” no que diz respeito à Venezuela, incluindo a intervenção militar.