As autoridades espanholas revelaram ontem que os autores do assalto à embaixada da Coreia do Norte em Madrid, no dia 22 de fevereiro, escaparam para os Estados Unidos através de Portugal. Sete dos 10 assaltantes já foram identificados, sendo na sua maioria de origem sul-coreana e tendo vários deles ligações à CIA, segundo fontes das secretas espanholas, citadas pelo El País. Tudo aponta que o assalto, que ocorreu nas vésperas da cimeira entre o líder norte-coreano, Kim Jong-un e o presidente dos EUA, Donald Trump, tenha sido uma operação conjunta entre Washington e Seul.
De acordo com o relatório do caso, tornado público pelo juiz espanhol José de la Mata, os criminosos colocaram-se em fuga imediatamente após o crime, dividindo-se em quatro grupos e embarcando no aeroporto de Lisboa rumo a Newark, em Nova Iorque, onde chegaram no dia seguinte. Fontes ligadas à investigação revelaram ao i que os espanhóis pediram às autoridades portuguesas as imagens do aeroporto Humberto Delgado, permitindo rastrear o percurso dos suspeitos. Foi ainda emitido um mandato de captura internacional contra os sete assaltantes identificados, por detenção ilegal, roubo com violência e intimidação, ameaças e organização criminal.
O auto judicial faz uma descrição detalhada tanto da preparação como da execução do assalto, que foi levado a cabo com elevado nível de sofisticação operacional. É referido como líder do grupo Adrian Hong Chang, um cidadão mexicano residente nos Estados Unidos.
Duas semanas antes do crime Hong Chang terá estudado a embaixada, fazendo-se passar por um empresário que queria investir na Coreia do Norte, encontrando-se com o encarregado de negócios da representação diplomática, Yun Sok So. Depois, terá comprado uma série de material tático e de combate, entre os quais quatro facas de combate, seis pistolas falsas Heckler & Koch, seis coldres de extração rápida, um deles para o ombro, quatro óculos de tiro e cinco algemas de diferentes tipos. Outros quatro membros do grupo, incluindo o cidadão norte-americano Sam Ryu e o sul-coreano Ram Lee, terão comprado entre o dia 20 e 22 de fevereiro o restante material utilizado no assalto, nomeadamente alicates, vários pés-de-cabra, 33 rolos de fita adesiva e um escadote.
Ao chegar à embaixada no dia 22, às 17 horas, Hong Chang pediu para falar de novo com Sok So. Enquanto esperava para ser recebido, Hong Chang abriu a porta aos outros nove criminosos, que irromperam pela embaixada com facas, barras de ferro e armas de plástico. “Começaram a golpear violentamente os ocupantes, até que os conseguiram subjugar, algemando-os para os imobilizar”, descreve o auto judicial.
Os assaltantes revistaram as instalações, levando materiais informáticos e telemóveis, enquanto o alegado líder do grupo visou em particular o encarregado de negócios da embaixada, a quem os assaltantes “golpearam e provocaram diversas lesões”. Depois taparam-lhe a cabeça com um saco, apontaram-lhe as aparentes armas de fogo à nuca e levaram-no à força para a casa de banho para o interrogarem.
O sequestro durou horas, até que uma das funcionárias conseguiu fugir e pedir socorro. Os assaltantes acabaram por escapar em carros de alta cilindrada roubados da embaixada. Após abandonarem os veículos utilizaram uma aplicação de aluguer de carros, onde o líder do grupo tinha uma conta falsa sob o nome Oswald Trump.
O assunto do interrogatório a Sok So, permanece desconhecido. É de notar que o diplomata trabalhou de perto com o ex-embaixador da Coreia do Norte em Espanha, Kim Hyok Chol. Chol foi expulso do país em setembro de 2017, após uma disputa entre Madrid e Pyongyang, tornando-se numa das pessoas de maior confiança de Kim Jong-un, tendo sido um dos principais organizadores da cimeira entre o líder norte-coreano e Trump, que ocorreu pouco depois do assalto.
A trama adensou-se com a revelação de que, após a fuga para os EUA, Hong Chang contactou o FBI a 27 de fevereiro, para entregar o material audiovisual obtido no assalto, dando detalhes de “como foi levado a cabo o assalto e como mantiveram o controlo do edifício”, mencionando que teriam contactado alguém da embaixada que “estaria suscetível a desertar”.