A eurodeputada socialista Maria João Rodrigues levou uma reprimenda por assédio psicológico à sua assistente Simone Santos Lima. O caso foi despoletado no verão e arrastou-se durante meses, tendo comprometido de forma clara a permanência da eurodeputada na listas do PS às eleições europeias de 26 de maio.
Ontem, no último dia de plenário em Estrasburgo, antes da campanha eleitoral, o vice-presidente do Parlamento Europeu, Pavel Telika, anunciou, pelas 08h30, a decisão do presidente do Parlamento Europeu, Antonio Tajani, de «impor uma sanção à deputada Maria João Rodrigues».
A fórmula encontrada foi a da «repreensão» face às queixas da sua assistente (que ainda figura na lista de trabalhadores afetos à equipa da eurodeputada). A reprimenda é a versão mais benigna das sanções aplicáveis aos eurodeputados. Normalmente, nestes casos, determina-se a suspensão das senhas de presença de um eurodeputado, qualquer coisa como 300 euros diários.
A queixosa, recorde-se, acusou a eurodeputada socialista de lhe exigir trabalho fora de horas, de uma tentativa de redução salarial após a licença parental (facto que a eurodeputada sempre negou), ou do desempenho de tarefas num período em que esteve de baixa.
A visada pode recorrer da sanção aplicada e ontem deu sinais disso mesmo numa reação dura, feita num comunicado.
Primeiro, Maria João Rodrigues começou por lamentar que «um dos seus colaboradores tenha sentido mal-estar e nunca o tenha mencionado». Porém, a eurodeputada não concorda com a decisão porque «as acusações feitas são ou injustificadas ou baseadas em factos não ocorridos». Mas, a parlamentar não fica por aqui nas críticas. Maria João Rodrigues queixa-se de «casos fabricados e ampliados para atacar posições e opções políticas». Aparentemente magoada, a antiga ministra socialista acrescenta que «deplora esta forma de fazer política ».
Depois das críticas e acusações feitas com base em factos injustificados, Maria João Rodrigues quase que arrisca a tese de cabala ao sublinhar que o caso foi divulgado «com grande impacto mediático e instrumentalização (…) no momento crítico de formação da lista de candidatos do PS para as eleições europeias». A parlamentar acaba por fazer uma leitura direta do processo à sua exclusão das listas do PS, numa altura em que tudo apontava para que fosse a número dois da equipa candidata.
Dada a amplitude do processo, Maria João Rodrigues também admitiu que o caso teve alguns efeitos no seu trabalho. «Defendi objetivos fundamentais para Portugal, contei com muitos apoiantes, mas encontrei alguns opositores noutros países, no que respeita à reforma da zona euro e ao orçamento comunitário, e que contra-atacaram usando este caso», esclareceu a eurodeputada.
Por fim, Maria João Rodrigues lamenta não poder continuar a sua atividade no Parlamento Europeu depois das eleições, considerando que o «prejuízo» não será só seu, mas também «porventura» da família socialista.
O registo acaba por ser também um desabafo pelo facto de ter ficada arredada das listas para as eleições europeias.
A delegação portuguesa do PS «não faz qualquer comentário» à decisão, aguardada há várias semanas pelos eurodeputados.
O processo começou em junho, com a entrega da queixa de Simone Santos Lima, e arrastou durante todo o verão de 2018, tendo chegado ao comité de sábios, que avalia estes processos, no final do ano passado. A assistente queixosa é casada com Marcel Mersch, um dos chefes de departamento do Grupo da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas no Parlamento Europeu, ou seja, da família europeia do PS.