Rui Mão de Ferro, o homem que o Ministério Público acredita ser o testa de ferro de Carlos Santos Silva, garantiu ontem durante a instrução da Operação Marquês que nunca se apercebeu de qualquer esquema ilegal de dinheiro e que tudo o que fazia era por ordem de Santos Silva.
No decurso da inquirição do juiz Ivo Rosa, Mão de Ferro chegou mesmo a contrariar a tese já apresentada por Domingos Farinho, professor universitário, que segundo o MP fez o livro do ex-primeiro ministro. Farinho disse sempre que o contrato que celebrara e através do qual recebeu pela colaboração foi feito por Rui Mão de Ferro e que tinha sido José Sócrates a indicar o nome do mesmo.
Mas Rui Mão de Ferro, também arguido na Operação Marquês, desmente que conhecesse o antigo primeiro-ministro.
Acrescentou ainda que quem lhe pediu para fazer o contrato com Domingos Farinho foi Carlos Santos Silva, justificando que seria para prestação de serviços jurídicos. Segundo Mão de Ferro nunca lhe foi referida qualquer colaboração de Farinho na produção de um livro.
Ao que o i apurou Domingos Farinho ainda tentou ficar livre de prestar declarações durante a fase de instrução da Operação Marquês, invocando que vai ter de depor num outro processo que nasceu com a extração de uma certidão por falsificação de documento – e em que se investiga Farinho e a sua mulher, António Peixoto e a mulher de Pedro Silva Pereira, Ana Bessa. Mas o juiz Ivo Rosa terá negado tal pretensão, por considerar que, como não é arguido na Operação Marquês, não se pode recusar a falar.
Quando for ouvido, o professor universitário será assim confrontado com a versão de Mão de Ferro, que contraria o que sempre disse à Justiça.
Durante a sessão de ontem, Rui Mão de Ferro foi ainda confrontado com o facto de ter feito com regularidade diversos levantamentos de dinheiro, tendo justificado que sempre que o fez foi por ordem de Carlos Santos Silva. Questionado sobre para que poderia querer Santos Silva tanto dinheiro em cash, respondeu que deveria ser para levar nas viagens. Uma tese que não convenceu o juiz de instrução.
Confirmou ainda que tinha uma avença da XLM, do universo de Santos Silva, apesar de o MP não encontrar saídas desses valores, apenas saídas de grandes montantes e sem periodicidade fixa.
Mão de Ferro está acusado dos crimes de branqueamento de capitais e falsificação de documentos.
Tendo ontem assumido que a empresa RMF, detida por si, emitia faturas que não tinham correspondência com a realidade, o que configura um crime de falsificação de documento.