Ficou surpreendido com o estado financeiro do Sporting?
Não, não me surpreendeu nada. Quando eu cheguei lá comecei a saber algumas coisinhas. Na prática estive lá de maio até ao dia a seguir às eleições no início de setembro, ou seja, três meses, não soube muitos detalhes, não tivemos que nos pronunciar sobre contas e naqueles três meses não houve contas. Mas tivemos que nos pronunciar sobre um orçamento que tinha sido feito por Bruno de Carvalho com pressupostos que, na altura, dissemos que estavam todos errados. Não era um orçamento que se apresentasse e estamos a falar do clube, porque a Comissão de Fiscalização era só sobre o clube, não era da SAD. Muita gente perguntava-me coisas da SAD e eu dizia ‘Eu não sei da SAD, não sou auditor da SAD, não tenho nada a ver com a SAD, portanto desculpem-me’. O do clube estava assente em pressupostos de que iria continuar a crescer. Era de loucos, estava tudo mal feito. Como é que iríamos dar um parecer positivo sobre isto? Demos portanto um parecer negativo e nem houve assembleia para votar aquele orçamento porque era ridículo. Então decidimos adiar e quando entrou a nova direção lá se fez um orçamento novo. Apercebi-me logo que o sistema de gestão do clube daria azo a tudo e mais alguma coisa: super centrado numa pessoa, era de loucos. Imagine o que é um clube ter todas as despesas, mas todas as despesas, assinadas pelo presidente? Está tudo dito. Se quisessem comprar uma lâmpada tinham que pedir autorização ao presidente. Isto é um clube? Isto é de loucos. Mas depois tinha saldos de tesouraria em cash elevadíssimos. Assim que soube disse percebi logo que tinha tudo para correr mal.
A antecipação das contas da NOS será a tábua de salvação para equilibrar mais as contas?
Sem dúvida. O Sporting estava com problemas sérios de tesouraria e precisava de cumprir prazos, aliás já estava com um problema com o Guimarães que ameaçava requerer a falência da sociedade. Acho que no fim disto tudo é um milagre o Sporting ainda existir formalmente. Este Sporting tal como nós temos. Podia criar-se outro Sporting. O clube estava a implodir: oito ou nove jogadores a saírem porta fora, o treinador também. Estava tudo a desmoronar-se, mas o que é inacreditável é que três meses depois o Sporting já estava outra vez a competir e fez uma temporada normal face às anteriores. E o Sporting não está lutar para o título agora por umas coisinhas leves. Porque o Sporting quase que se arriscava a estar a competir mesmo pelo título. Ganhou a taça de inverno, está na final da Taça de Portugal, coisa que nem o Benfica está. Há um ano estava tudo de pantanas e por isso acho que foi um percurso admirável.
Leia a entrevista na íntegra na edição de fim de semana do i