Marcelo Rebelo de Sousa quer atrair mais investimento chinês. A garantia foi dada durante a sua visita oficial à República Popular da China e surge depois do fracasso da Oferta Pública de Aquisição (OPA) da CTG lançada à EDP. Um desfecho desvalorizado pelo Presidente da República. «É o mercado a funcionar. Não há intervenção dos Estados, não houve sequer intervenção dos reguladores, é o mercado a funcionar. E, portanto, o mercado funciona nos termos em que deve funcionar», referiu (ver páginas 54-55).
Quanto às atividades que quer ver reforçadas não tem dúvidas: «Preferiríamos a instalação de empresas, preferiríamos o investimento no terreno, e não o investimento financeiro, e não a compra de empresas ou de posições nas empresas – às vezes são posições minoritárias ou posições entre muitas empresas de várias nacionalidades». E deu como exemplo uma possível aposta na indústria automóvel. «Preferiríamos que esse investimento fosse um investimento no domínio da indústria automóvel, por exemplo, ou das componentes da indústria automóvel. No domínio turístico, por que não? No domínio agroalimentar, por que não, em associação com portugueses lá? Nós gostaríamos disso», acrescentou.
Já Xi Jinping acenou que o país vai «abrir continuamente» o seu mercado e receber produtos com qualidade de todo o mundo, referindo que «a China está disposta a importar mais produtos agrícolas, bens acabados e serviços competitivos», revelou no fórum Faixa e Rota, iniciativa chinesa de investimento em infraestruturas a que Portugal se associou através de um memorando de entendimento. Uma promessa que ocorre, numa altura, em que a guerra comercial com os Estados Unidos continua sem fim à vista.
Balança comercial
No ano passado, a China era o 13.º cliente de Portugal e o seu sexto fornecedor, enquanto Lisboa era o 61.º cliente de Pequim e seu 67.º fornecedor. As importações de bens de Pequim ascenderam a 2.350 milhões de euros em 2018, uma subida de 14,5% face ao ano anterior, o que representa um saldo da balança comercial negativo para Lisboa em 1.692 milhões de euros. Já as exportações de bens portugueses caíram 21,8% no ano passado, face a 2017, para 657,8 milhões de euros, de acordo com dados do INE.
Entre os principais grupos de produtos exportados para Pequim constam veículos e outro material de transporte (com um peso de 23,1%), pastas celulósicas e papel (11,9%), minerais e minérios (11,2%), máquinas e aparelhos (10,6%) e alimentares (9%). Já as exportações de bens alimentares para Pequim deslizaram quase um terço (31,1%), para 59,1 milhões de euros.
O presidente da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) já justificou esta queda nas exportações portuguesas para a China com mudanças na produção da Autoeuropa. «Houve uma mudança no modelo produzido, que tem outros segmentos que não são voltados para a China», disse à Lusa, Castro Henriques, à margem do início de uma visita oficial do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
Luís Filipe de Castro Henriques disse, no entanto, que há «todo o interesse» em diversificar as exportações, visto que «há setores que registam grandes flutuações».
Maiores investidores
A par das trocas comerciais que, ainda assim têm vindo a cair, a China surge também como um importante investidor no mercado nacional. Os setores da energia, banca, seguros e saúde estão em destaque, mas as apostas não ficam por aqui. E, à boleia das privatizações, durante o período da troika, as empresas chinesas reforçaram a sua presença no mercado nacional e já surgem como um dos principais investidores externos no país, com milhares de milhões de euros aplicados.
A aposta da energia foi a primeira paragem de uma viagem que já vai longa no que diz respeito às relações comerciais entre Portugal e a China com a privatização da EDP – o investimento começou a ser feito no início do mandato do anterior Governo e no arranque do programa da troika – e mais tarde seguiu-se a REN. Em fevereiro de 2012 foi a vez da venda da REN, com os chineses da State Grid a ficarem com 25% do capital, pagando 387 milhões pela posição na empresa gestora das redes energéticas nacionais.
Já a estreia dos chineses da Fosun em Portugal foi feita através do mercado segurador. A empresa pagou mil milhões de euros por 30% do mercado segurador português (Fidelidade e Multicare), mas o encaixe total ascendeu a quase 1209 milhões de euros, em resultado da distribuição prévia de dividendos de 208,9 milhões de euros. O setor da saúde foi o segundo passo dado por este grupo ao adquirir o grupo Espírito Santo Saúde – do qual o Hospital da Luz é um dos principais cartões-de-visita.
Também a banca portuguesa é um dos setores estratégicos para os empresários chineses. O pontapé de saída foi dado com a compra do BESI, banco de investimento do universo Espírito Santo, por parte da Haitong, por 379 milhões de euros. Mais tarde foi a vez do BCP. E novamente pelas mãos da Fosun: o grupo pagou 175 milhões de euros por 16,7% do capital da instituição financeira. A operação foi concretizada através de um aumento de capital, tendo depois reforçado a sua posição para 27%, tornando-se o maior acionista do banco.
O setor da tecnologia também não escapou aos chineses. Em 2012, a Huawei abriu um centro tecnológico em Lisboa, com um investimento de cerca de 10 milhões. A aposta foi ainda reforçada com um centro de inovação e experimentação de produtos.
Os chineses também lideram o investimento através dos vistos gold. Lançado em 2012, o programa de Autorizações de Residência para Atividade de Investimento angariou um total de mais de 4 mil milhões de euros, na maioria através da compra de imóveis.
Outra aposta foi a aviação com a HNA, a maior companhia aérea privada chinesa, mas em março deste ano alienou os 9% que detinha na TAP através da Atlantic Gateway – consórcio que detém 45% – por 55 milhões de dólares (48,6 milhões de euros).