A campanha eleitoral para as europeias de 26 de maio começará oficialmente a 13 de maio, e esta quarta-feira os seis cabeças-de-lista das forças políticas com assento no Parlamento Europeu esgrimiram argumentos na SIC. Durante cerca de hora e meia, Pedro Marques (PS), Paulo Rangel (PSD), João Ferreira (CDU), Nuno Melo (CDS), Marisa Matias (BE) e Marinho e Pinto (PDR) debateram os temas de atualidade nacional, a Venezuela, os fundos estruturais europeus, mas também a extrema-direita na Europa.
O debate começou com uma intervenção inicial de 1 minuto para cada um dos candidatos e as leituras nacionais das eleições europeias não se fizeram esperar. Paulo Rangel, do PSD, chegou a dizer que as eleições de 26 de maio são “as mais importantes” e criticou o primeiro-ministro por tentar nacionalizar a campanha. “As eleições têm uma dimensão europeia e isso é o que o PS se recusa a ver”, declarou o eurodeputado.
Mais à frente, Rangel admitiu estar confiante na vitória do PSD, mas sem se comprometer com valores: “Estamos muito confiantes quanto à vitória do PSD porque tem a melhor lista, os melhores candidatos e ao mesmo tempo as melhores propostas.”
Do lado socialista, Pedro Marques socorreu-se do discurso do primeiro-ministro para insistir que "os portugueses reconhecem a alternativa do PS". Já Nuno Melo, cabeça-de-lista do CDS, atacou a estratégia de António Costa, ao pedir uma moção de confiança ao Governo nas eleições europeias, chegou a dizer que o PS "escondeu o candidato", e usou um tweet de Pedro Marques para atacar o passado do PS.
Para o efeito, Nuno Melo levou cartões bem legíveis para as câmaras com uma frase a defender o legado de Mário Soares e o papel do PS na Europa, atribuída ao cabeça-de-lista do PS." Sabe Pedro Marques sobre legados não sei se isto lhe diz qualquer coisa. Também estava nesta fotografia", atirou Melo, mostrando uma foto de José Sócrates, ex-primeiro-ministro, com António Costa (então seu ministro). De realçar que Sócrates já não é filiado no PS. Ainda assim, Nuno Melo quis mostrar o passado "trágico" dos governos de José Sócrates para a dívida do País. Tanto Pedro Marques como António Costa fizeram parte de um dos seus executivos.
Do lado do Bloco de Esquerda, Marisa Matias defendeu que o trabalho que seu partido tem feito “justifica uma maior confiança” no BE. Nem mesmo quando João Ferreira, da CDU, reclamou os louros de ter sido a primeira força política a reconhecer a solução de uma “geringonça”, na noite eleitoral das legislativas, abalou a candidata. Marisa Matias considerou que se houve melhorias no País, mesmo com limitações, “tudo teve a ver com os acordos” de esquerda.
As sondagens foram tema de debate na primeira parte da discussão e João Ferreira, cabeça-de-lista da CDU, procurou desdramatizar os números da coligação, lembrando o seu papel para travar os cortes de 600 milhões de euros nas pensões: “Creio que há uma percentagem ampla de pessoas na sociedade que reconhece este papel da CDU nos últimos anos da vida nacional”.
Marinho e Pinto, do PDR, chegou a defender ,por seu turno, um subsídio de desemprego mínimo na Europa, tal como uma pensão mínima e atacou a CDU por apoiar o Governo do PS em Portugal e contestá-lo na Europa. Marinho e Pinto classificou-o de “teatro da política que afasta as pessoas”. Sobre as sondagens lembrou as de 2014, que lhe davam 1,7 por cento. Afinal acabou por ser eleito.
Fundos estruturais: há ou não há cortes?
O tema dos fundos europeus foi talvez o mais difícil para Pedro Marques. O candidato do PSD, Paulo Rangel, quis confrontar o seu adversário socialista, perguntando “há ou não há cortes?”. Em causa estarão menos cerca de 1600 milhões de euros, a aplicar até 2027. Pedro Marques assegurou que houve uma boa negociação dos fundos e assegurou que não se verificará cortes de fundos a “preços correntes”.
Marinho e Pinto,do PDR, defendeu que o fundamental é aplicar-se bem os 12 milhões diários que o País vai receber. Por seu turno, Marisa Matias anunciou que o Bloco irá votar contra o Orçamento Comunitário.
Já Nuno Melo ouviu Pedro Marques a acusar o anterior governo de ter perdido 20 milhões de euros do Proder. Na resposta, lembrou que a execução de fundos de coesão para a ferrovia está atrasada.
A CDU preferiu realçar que PS, PSD e CDS preferem apostar na defesa do que nos fundos de coesão.
Venezuela: Promiscuidade, Paulo Portas e pernil de porco
A situação da Venezuela acabou por dominar parte discussão. João Ferreira, da CDU, lembrou que cabe aos venezuelanos decidir o que será a Venezuela.
Mas o cabeça-de-lista do PSD, Paulo Rangel atacou a “promiscuidade”, particularmente do governo de José Sócrates com o regime de Hugo Chávez e Nicolás Maduro. E insistiu na preocupação sobre a situação de portugueses refugiados dos quais não há informação.
Pedro Marques ouviu e lembrou também os “abraços” de Paulo Portas, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, com o regime venezuelano, designadamente, de Nicolás Maduro. Nuno Melo, do CDS, quis interrompê-lo, sem sucesso, mas depois lá conseguiu confrontar o também ex-ministro do PS: “Como é que um homem que foi espécie de braço direito de Sócrates no Governo que arruinou Portugal tem o topete de falar sobre isso?”.
Marinho e Pinto considerou que a Venezuela não é uma democracia, mas a União Europeia deveria atuar contra “outras ditaduras mais doentias”.
Já Marisa Matias foi muito clara. O Bloco de Esquerda considera que não cabe ao Parlamento Europeu ou a Portugal eleger os representantes do povo venezuelano. E atirou: “Nós não pusemos o pernil de porco à frente dos direitos humanos”, numa farpa tanto ao PS como ao governo de coligação PSD/CDS.
Os candidatos ainda abordaram os avanços da extrema-direita na Europa e Nuno Melo, do CDS, foi criticado por ter admitido a entrada do Vox no PPE, a família europeia do CDS, mas também do PSD. Na resposta Nuno Melo disse estar “genuinamente” com a extrema-direita, mas também “muito preocupado com a extrema-esquerda”.