Quando se demitiu da liderança do PSD, há mais de dez anos, criticou a ‘canalha’ que lhe fez a ‘vida negra’. Teve uma liderança bastante conturbada devido às constantes críticas que lhe eram feitas por alguns setores do partido. Há alguma comparação com a contestação que foi feita a Rui Rio?
Graças a Deus, para ele, não passou pelas minhas agruras. Eram entrevistas televisivas de opositores dia sim, dia sim. Era o estalinista da Marmeleira a colocar o blogue de luto de setas de pernas para o ar. Era o manifesto de sete ex-secretários-gerais a dizer que a permissão de pagamento de 12 euros de quotas em espécie abriam a porta ao branqueamento de capitais…
Não contribuiu para essa instabilidade?
Quando anunciei o inquérito ao Banco de Portugal e à supervisão financeira, quando suscitei suspeitas sobre a situação do BPN e denunciei a escolha das administrações da Caixa e do BCP, à porta fechada, por iniciativa de Vítor Constâncio, reeditei o tsunami de Krakatoa séculos depois. Só tive tempo e discernimento para fazer a mala, enquanto a tinha.
Os líderes que não são de Lisboa têm mais dificuldade em se afirmar?
Portugal é um país obsessivamente centralista, mas nunca senti que esse fosse o obstáculo à ascensão política.
Teve pena de não ter sido candidato a primeiro-ministro?
Claro que sim, mas com a compreensão do realismo. O poder não se conquista, normalmente perde-se. E para chegar a primeiro-ministro ou a Presidente da República também é necessária a sorte de estar no sítio certo na hora certa. Nem sempre isso significa ser o melhor.
Por que decidiu, nessa altura, desistir da liderança do PSD? Estava cansado das críticas internas?
Obviamente que sim. E alguns dos episódios críticos ainda não devem ser, por sensatez e sentido de Estado, do domínio público.
Admite regressar à política ativa ou é uma possibilidade totalmente afastada?
Há política ativa significando cargos eletivos e devassa voyeurista da vida privada, uma das loucuras para que se caminha de forma cada vez mais irresponsável, nem pensar. Uma colaboração formal ou informal com o meu partido de sempre, é uma possibilidade.
Há alguma coisa de que se arrependa na vida política?
Não ter batido com a porta e ter abandonado a candidatura ao Porto, quando em Maio de 2013 Passos Coelho me chamou a São Bento e me comunicou que Marco António Costa não seria candidato a Gaia e que, definitivamente, Paulo Portas apoiaria outro candidato ao Porto. Instabilidade na retaguarda que era a minha mais-valia, a minha obra, e a incongruência do principal parceiro nacional, aliado durante 16 anos em Gaia, afrontar o PSD na única grande cidade onde a vitória era possível, era suicida.
Não se arrependeu de ter afirmado, no congresso do PSD, no Coliseu dos Recreios, que se Durão Barroso conquistasse a liderança ganharia ‘um eixo sulista, elitista e liberal’.
Nem pensar. Foi algo normal, no contexto de um congresso muito disputado, numa lógica forte e objetiva de contraditório discursivo. Anos depois fui eleito líder com maioria absoluta em Lisboa. Os militantes de base são inteligentes e justos.
Voltou a ser pai há não muito tempo. Como está a ser essa experiência?
Muito Boa. Ainda por cima o Afonso, que é de Albuquerque, o que lhe dá pedigree de valentia e patriotismo, é super alegre e ativo. Como tenho uma boa genética familiar espero viver a sua formação como homem justo, português dedicado e sábio, quiçá líder do PSD.