As eleições europeias, ao contrário do que indicia os festejos ocorridos em alguma sedes partidárias, não tiveram nenhum vencedor.
Ao invés, houve um claro derrotado: a partidocracia que paulatinamente se vem substituindo à vontade soberana do povo.
Praticamente 70% dos portugueses borrifaram-se para o acto eleitoral, preferindo ir a banhos, e dos que se deram ao trabalho de se deslocarem a uma assembleia de voto houve ainda 7% que entregou o boletim em branco ou rabiscado com dizeres certamente nada simpáticos para a nossa classe política.
Perante este cenário, como pode alguém cantar vitória?
Os políticos que se apresentaram a estas eleições, sem excepção, deveriam, sim, corar de vergonha e absterem-se de qualquer tipo de comemoração, porque todos sairam copiosamente derrotados!
Foi o estado totalitário que se apoderou dos destinos do País, em que uma pequena parte se sobrepõe a um todo, que saiu arrasado nas urnas.
Com o seu gesto, consciente, os portugueses manifestaram o seu desprezo pelo regime que tem manchado o bom nome de Portugal e deram, igualmente, um sinal claro de que não estão dispostos a a concederem o seu aval para que o dinheiro dos seus impostos sejam revertidos na satisfação das mordomias faraónicas com que os deputados europeus se deliciam em Bruxelas e em Estrasburgo.
Um político com valor, íntegro, que exerce o seu dever como entrega à causa pública, com o desejo sincero de servir o próximo e não dele se servir, sacrifica-se com o seu trabalho e dedicação em solo pátrio, ao serviço da sociedade que lhe confiou a sua representação, e não se vende por um exílio dourado nas instituições europeias, auferindo salários e regalias grotescas.
Portugal foi desde os primórdios uma Nação atlântica, posicionamento geográfico que lhe permitiu, não como direito mas sim como obrigação, expandir-se para as paragens mais remotas, aí difundido a civilização cristã ocidental.
Foi esta natureza expansionista que o tornou grande entre os grandes, respeitado e temido pelas outras Nações, enriquecendo, dessa forma, a sua História de como poucos povos se podem orgulhar.
O Portugal moderno, diluído dentro de uma instituição serva da finança internacional, que mais parece, ela própria, um banco de grandes dimensões credor dos países mais débeis, transformando estes em eternos devedores graças às políticas monetárias que lhes impõe, perdeu toda a sua importância e, fruto das fraquezas a que a partidocracia o condenou, tornou-se amiúde motivo de chacota entre os seus supostos parceiros.
Esta é a principal razão pela qual os portugueses já desistiram de participar nesse dito projecto europeu, cujas matrizes desconhecem por completo, pelo simples motivo de que nunca lhes foram facultadas.
E aqui encontra-se a segunda explicação para o abstencionismo que se verificou nestas eleições.
A campanha eleitoral que as antecederam foi de uma pobreza franciscana, de um completo vazio de ideias e de um baixo nível, intelectual e educacional, de todos quantos nela intervieram.
Não se discutiu a Europa, assistiu-se antes a uma verdadeira peixarada e a um lavar de roupa suja, espectáculo que a todos nos enojou, expondo a nu as evidentes debilidades da classe política que desgraçadamente se apoderou do nosso destino colectivo.
Costa, sem dúvida numa jogada magistral, reconheça-se, vendo-se encurralado ensaiou uma fuga para a frente, engendrando um número de vitimização por via do brinde que a oposição lhe ofertou com a questão dos professores, fazendo destas eleições um plebiscito à sua liderança.
E os partidos à sua direita, denunciando uma infantilidade atroz, caíram na esparrela e envolveram-se numa campanha de ataques pessoais, esquecendo-se de rever, antecipadamente, os ensinamentos históricos que nos alertam para a fatalidade de que as investidas quando direccionados a um determinado adversário somente o fortalecem.
Resultado, o eleitorado conservador absteve-se de se envolver num acto eleitoral que, já por si, não o atrai, acreditando-se mesmo que parte do pouco que se dignou comparecer nas mesas de votos optou por votar à esquerda.
Mesmo uma considerável parte daqueles portugueses que ainda sonham com um ideal europeu, seja lá isso o que for, inconformados com a ausência de esclarecimentos que os elucidasse como exercer o seu direito de voto, preferiram o conforto da praia ou do campo, protegendo-se, assim, do calor extremo que nos visitou fora de horas, a perderem o seu precioso tempo numa qualquer fila de votantes.
Seria de toda a conveniência de que os políticos que teimam em envergonhar todos quantos, entre nós, prezam a decência e partilham o amor por uma Pátria cada vez mais ultrajada, aprendam com os seus erros e, consequentemente, mudem radicalmente o comportamento que os tem afastado cada vez mais do eleitorado que os suporta.
Se se recusarem a adquirir essa consciência não se admirem se amanhã, em eleições essas sim de superior importância para a nossa vivência em sociedade, a abstenção venha a atingir números próximos, ou mesmo mais elevados, dos que o que se obteve no passado fim-de-semana.
E nessa altura a partidocracia não sairá derrotada; será enterrada!
Sem direito a honras de Estado!