José Antonio Reyes. Lágrimas e cânticos no último adeus

Velório do jogador espanhol no Estádio Ramón Sánchez-Pizjuán (Sevilha). Milhares de pessoas marcaram presença nas imediações da casa do emblema andaluz na hora da despedida.

“Não podíamos dar uma notícia pior. Faleceu num acidente de viação o nosso querido José Antonio Reyes. Descanse em paz”. Ao início da tarde de sábado, dia 1 de junho, a mensagem era publicada nas redes sociais do Sevilha, a equipa que viu Reyes nascer no futebol. Em dia de final de Champions, numa decisão feita entre Tottenham e Liverpool, o mundo do futebol ficava em choque com a morte do jogador espanhol de 35 anos. 

Ficou entretanto a saber-se que Reyes morreu num acidente de viação em Utrera (Sevilha), de onde era natural. O carro que o ex-jogador conduzia, um Mercedes Brabus S550, de 380 cavalos de potência, despistou-se, saiu da estrada, capotou e incendiou-se de seguida. Do acidente resultaram ainda mais duas vítimas mortais, dois primos do jogador que também seguiam dentro da viatura. Jonathan Reyes morreu no local e Juan Manuel Calderón acabaria por falecer já no hospital, para onde tinha sido transportado em estado muito grave, com mais de 65% de queimaduras no corpo.

De acordo com a imprensa espanhola, as primeiras investigações apontam como causa do acidente o excesso de velocidade, referindo que o Mercedes conduzido pelo atleta seguia a mais de 200 km/h.
Os carros desportivos de alta cilindrada eram, aliás, uma das paixões do antigo jogador andaluz, que durante a sua passagem pelo futebol inglês chegou a adquirir cerca de uma dezena de carros de luxo, todos eles de grande potência.
José Antonio Reyes deixa três filhos menores: o mais velho, José Antonio, de 11 anos, fruto de uma relação anterior. Do atual casamento, nasceram duas meninas, Noélia, de cinco anos, e Triana, de dois.

Uma carreira de sucesso Formado no Sevilha, Reyes foi o jogador mais jovem a atuar no principal escalão do futebol pelo Sevilha, com apenas 16 anos. Na época 2003/04, o espanhol foi transferido para o Arsenal por 25 milhões de euros – um valor recorde à época. Ao serviço do clube inglês, o antigo extremo ganhou um campeonato inglês (2004) – tornando-se o primeiro jogador espanhol a vencer o campeonato em Inglaterra –, uma Taça e uma Supertaça de Inglaterra (ambas em 2005). 

Foi entretanto vendido ao Real Madrid (2006), onde ganhou um campeonato espanhol (2006/07). Antes de chegar ao Benfica de Quique Flores, em 2008/09 (conquistou uma Taça da Liga), Reyes passou pelo Atlético Madrid (2007/08). Depois da passagem pelos encarnados, o futebolista voltou a fazer parte do plantel colchonero e regressou também ao emblema andaluz onde se formou; jogou depois nos espanhóis do Espanyol e do Córdoba, alinhou pelos chineses do Xinjiang e no Extremadura UD – clube da 2.a divisão espanhola que representava desde janeiro de 2019. 
Reyes fica também na história do futebol como o jogador recordista de troféus conquistados na Liga Europa, que venceu por cinco vezes (três pelo Sevilha e duas pelo Atlético Madrid). Além disso, o espanhol conta ainda como uma Supertaça europeia no currículo ao serviço do Atlético Madrid (2010/11). 

No que diz respeito à sua carreira na seleção espanhola, o avançado somou 22 internacionalizações (e quatro golos), após a sua estreia em 2003, num jogo frente a Portugal que os espanhóis venceram por 3-0. 

A “alegria” e o “sorriso” ficam As reações ao falecimento do espanhol multiplicaram-se nas redes sociais e na imprensa. Clubes, instituições, dirigentes, jogadores e antigos colegas mostraram-se profundamente chocados com a morte do atleta, que prometem agora manter vivo nas recordações da “alegria de viver” e do “sorriso” do jogador. Entre as várias mensagens, porém, houve uma que deu que falar em Espanha. Santiago Cañizares, antigo guarda-redes, escreveu no Twitter que “circular com excesso de velocidade é uma atitude reprovável”, adiantando que “Reyes não merece uma homenagem como se fosse um herói”. “No acidente houve mais vítimas além do condutor. Mas isso não impede que lamente o que aconteceu e reze pelas suas almas”.

Após ter tornado pública a sua mensagem, Cañizares foi alvo de duras críticas, pelo que o ex-internacional espanhol optou por fazer um esclarecimento sobre a sua posição: “Talvez não me tenha explicado bem. Claro que [Reyes] merece uma homenagem e uma grande recordação pela sua carreira e tudo o que deu ao futebol”.

Reyes fez o seu último jogo a 18 de maio, com uma vitória por 1-0 contra o Alcorcón. O Extremadura tinha um jogo marcado contra o Cádiz para este domingo, entretanto adiado, para o qual o avançado não tinha sido convocado. 
O corpo de José Antonio Reyes esteve ontem em câmara ardente no Estádio Ramón Sánchez-Pizjuán, onde milhares de pessoas fizeram questão de marcar presença para o último adeus ao jogador. O funeral acontece na manhã desta segunda-feira, em Utrera, sua terra natal.

Citações:

“Recordar-te-ei com o sorriso no teu rosto, amigo. Estou muito triste com esta notícia terrível”
Coke, ex-jogador do Sevilha, atualmente no Levante

“Irmão, só Deus sabe porque te levou tão cedo deste mundo. Viverás no meu coração para o resto dos meus dias”
Ivan Rakitic, ex-jogador do Sevilha, atualmente no Barcelona

“Profundamente triste e sem palavras ao saber desta trágica notícia. Nunca esquecerei a tua magia e o teu sorriso, José, nunca”
Unai Emery, treinador do Arsenal

“Foi em choque e com profunda tristeza e consternação que tomámos conhecimento do fatídico acidente que vitimou o nosso ex-jogador José Antonio Reyes. O atleta e homem exemplar ficará para sempre na nossa memória”
Luís Filipe Vieira, presidente do Benfica

“José foi uma figura muitíssimo popular no nosso clube e terá sempre um lugar especial guardado nos nossos corações”
Arsenal