Os resultados das eleições europeias são um sinal preocupante sobre a saúde da democracia e um alerta para o PSD. A abstenção revela o alheamento dos cidadãos em relação à participação democrática e o desinteresse pelas questões europeias. O resultado do PSD (especialmente nos centros urbanos) deve conduzir a uma reflexão e a uma reação. De vários pontos de vista, os resultados eleitorais foram maus. Não assumir este facto representará uma oportunidade perdida para corrigir erros.
A abstenção enfraquece a democracia e corresponde ao desinteresse dos eleitores relativamente aos assuntos de que depende cada eleição, mas corresponde também à dificuldade de identificação com os partidos e com as respetivas propostas.
No caso das eleições europeias, os partidos capturaram os assuntos europeus e têm-se recusado abrir à participação e partilha da decisão nas questões europeias. Se em muitas matérias os políticos receiam promover uma democracia mais participada, no caso da União Europeia, não só não convidam à participação como evitam partilhar informação. O resultado está à vista: o afastamento dos cidadãos.
O resultado do PSD nas eleições europeias foi mau. Na verdade até manteve o número de deputados que tinha anteriormente e, se somado com o resultado do CDS (tal como se apresentou em 2014), até subiu em percentagem e em número de votos. O problema é que a comparação com 2014 deve ter em conta que o resultado de então foi baixo e contou com o desgaste de estar no governo e, por outro lado, havia a expectativa de ter um resultado que o lançasse na perspetiva de poder vencer as eleições legislativas.
O resultado nos centros urbanos, especialmente no principal – Lisboa -, foi ainda pior. Sendo uma eleição de caráter nacional, o mau resultado em Lisboa tem, ainda assim, uma leitura nacional.
O PSD tem vindo a perder capacidade de implantação nos centros urbanos. Infelizmente, parece não ter ainda reagido a esta circunstância. Conjunturalmente, em algumas eleições, fruto de escolhas desadequadas de candidatos, mas, sobretudo, por insuficiência de políticas e propostas que deem resposta aos problemas específicos de quem vive nos centros urbanos, cuja construção requer estabilidade e continuidade, para suscitarem confiança.
No plano nacional, o PSD tem de evidenciar as alternativas às atuais políticas prosseguidas, afirmando, primeiro, as diferenças, para depois poder demonstrar a responsabilidade de assumir compromissos nos temas que devem merecer entendimentos.
O PSD, ao longo da história, esteve na vanguarda de temas centrais do desenvolvimento. A preocupação com as questões ambientais é, talvez, o melhor exemplo da aposta em políticas modernas com afirmação no PSD já nos anos 80, quer na ação política quer no fomento de movimentos ambientalistas. O ambiente tem sido uma bandeira do PSD que perdeu fulgor, mas que importa retomar agora que a agenda climática se impôs na sociedade e que alguns tentam apropriar-se de forma oportunista.
O percurso do PSD e a conquista da confiança dos portugueses baseou-se na afirmação de um partido reformista. Todas as reformas que promoveram o desenvolvimento do país tiveram o impulso decisivo do PSD. Urge retomar essa capacidade reformista para conquistar os setores mais dinâmicos da sociedade e para despertar o apoio dos portugueses.
A ação política deve aproximar-se das pessoas. Importa ir fisicamente ao encontro das pessoas na rua e nas filas dos serviços públicos e dos transportes para sentir os seus problemas e apresentar soluções.