Cristiano Ronaldo é todos os F’s que faltavam a Portugal

Dos 689 golos da sua carreira, 160 foram em hat-tricks, pokers ou manitas. Impossível? Não, Cristiano Ronaldo

Cristiano Ronaldo dos Santos Aveiro. Cristiano Ronaldo dos Santos Aveiro. Cristiano Ronaldo dos Santos Aveiro. Assim mesmo. 3 vezes. Mas podiam ser 88. Como podiam ser 689 a ocupar toda a página deste jornal. Tanto já foi dito e escrito acerca desta lenda viva, que a mera repetição do seu nome até à exaustão remete-nos imediatamente para a sua grandeza. Como o cântico entoado esta semana no Dragão e por cujo eco nas bancadas ansiamos novamente na final de amanhã. Haja papel para escrever este nome até aos limites da repetitividade: Cristiano Ronaldo dos Santos Aveiro. Haja palavras para o eternizar, gargantas para o gritar, mentes para o guardar bem presente na memória coletiva de todos nós. Um dia vamos levantar a cabeça e olhar em redor, pedir silêncio aos jovens presentes e dizer plenos de orgulho: «Eu vivi na era do Cristiano Ronaldo, acompanhei a sua carreira do princípio ao fim, vibrei com os seus golos, chorei com ele nas suas vitórias e nas suas derrotas. Aquilo de que vocês ouvem falar? Eu estava lá! Aquilo que vocês calculam que tenha sido? Foi muito mais do que isso! Aquilo que se vê nos vídeos? É apenas uma amostra! Aquilo que os livros contam? São meras palavras que tentam descrever o indescritível! O inexplicável! O impossível!». E quando nos responderem que sim, que imaginam que tenha sido tudo épico e extraordinário, só uma resposta fará sentido: «Não, não imaginam… Só mesmo estando lá para ver…».

Cristiano Ronaldo é muito maior do que Portugal. Que sosseguem os patriotas e os fundamentalistas, que esta afirmação nada tem de depreciativa para a pátria. Ronaldo é maior do que Portugal e é maior do que qualquer outra nação. Cristiano Ronaldo é um mundo inteiro. Um planeta com gravidade própria e em torno do qual tudo gira. No país que deu ao mundo Luís Vaz de Camões e Fernando Pessoa, José Saramago e António Lobo Antunes, Eusébio da Silva Ferreira e Luís Filipe Madeira Caeiro Figo, há uma ilha no meio do Atlântico que viu nascer há 34 anos a maior de todas as suas preciosidades. Um homem tão conhecido no mundo como o Papa Francisco. Um talento cujo rosto é reconhecido e cujo nome é pronunciado nos mais recônditos recantos do Planeta. Um astro sem paralelo no passado e sem repetição no futuro. Uma fonte inesgotável. Uma montanha inescalável. Sabem o que é o impossível? Cristiano Ronaldo é isso mesmo que imaginam quando ouvem a palavra: Cristiano Ronaldo é a definição absoluta de impossível. Os seus números, reais mas tão surreais que chegam a ser assustadores, refutam a velha máxima de que não há impossíveis. Há, sim. O impossível existe. Chama-se Cristiano Ronaldo. Tantos são os golos marcados, tantas são as conquistas, tantos são os feitos inimagináveis. Aquilo que o vimos protagonizar na passada semana frente à Suíça, três golos num só jogo ao mais alto nível do futebol mundial, é algo que a esmagadora maioria dos jogadores de topo passa uma carreira inteira sem conseguir alcançar uma única vez. Cristiano Ronaldo já marcou três ou mais golos em 53 ocasiões. Isso mesmo, leu bem. Não é engano. Só em jogos épicos de hat-tricks, pokers e manitas, Cristiano Ronaldo dos Santos Aveiro já marcou 160 golos. Dos 689 da sua carreira, 160 foram em jogos que muitos não sonham sequer protagonizar uma vez que seja na vida. Impossível? Não, Cristiano Ronaldo.

 

Num país que outrora foi o Portugal do ‘Fado, Futebol e Fátima’, Ronaldo é todos esses F’s e muitos mais. Ronaldo é naturalmente Futebol, é o arquétipo máximo do jogo e o pináculo da sua perfeição no relvado. É também Fado, desfecho amargo traçado para todos aqueles que se intrometem entre ele e os seus objetivos. É a Fé dos milhões que depositam em si, jogo após jogo, a esperança de renovadas alegrias em vidas tantas vezes marcadas e cicatrizadas pelas agruras de amargas existências. Mas Ronaldo é também Fantasia em cada ação por si imaginada e pelos seus pés desenhada. É Filigrana de precisa perfeição. É Família em todos os momentos, que sem família nada somos e a sua – linda e sempre disponível – é parte integrante da sua vida nas horas mais brilhantes e nos dias mais difíceis. Ronaldo é Fatídico como o destino, não falha quando as decisões apertam e não desilude quem nele acredita. Em suma, e num vernáculo que não ofende ninguém, Cristiano Ronaldo é Foda! Assim mesmo! Sem tirar nem pôr! É todos os F’s que faltavam a uma nação que parou naqueles três dos tempos bafientos do Estado Novo. É a prova de que não há limites para os sonhos nem barreiras para a ambição. É o exemplo acabado que todos – sem exceção – devemos adotar na nossa luta diária.

 

Quis o destino que a terceira final internacional da Seleção Nacional – a terceira da era CR7 – seja amanhã contra a Holanda. A mesma Holanda frente à qual Ronaldo, então com 19 anos, marcou nas meias-finais do Euro 2004 e, ao festejar de tronco desnudo, tornou-se instantâneo fenómeno mundial. A mesma Holanda frente à qual Ronaldo, então com 21 anos, saiu em lágrimas e esgares de dor nos oitavos-de-final do Mundial 2006, depois de ser cobardemente agredido pelo ogre Boulahrouz que parecia ter como missão única colocar o nosso craque fora da partida ainda na primeira parte do jogo. Em ambos os jogos – históricos para Portugal – o mesmo desfecho: vitória das cores lusitanas. Que amanhã se repita o destino e Portugal possa sagrar-se vencedor da primeira edição da Liga das Nações. Com Ronaldo a liderar um grupo tão talentoso como o nosso, o céu é o limite e o impossível não existe! Não existe? Sim, existe. Chama-se Cristiano Ronaldo…