Como escrevi há oito dias, é um grave erro projetar o resultado das eleições europeias nas eleições legislativas.
A abstenção foi enorme e não foi transversal: os partidos da esquerda, que têm militantes muito mais empenhados, foram beneficiados, os da direita foram prejudicados.
Assim, o PCP, o BE e o PAN tenderão a cair nas legislativas, e o PSD e o CDS tenderão a subir.
Isto mesmo se passou nas eleições anteriores: nas europeias de 2014, o PSD e o CDS tiveram 27,7%, correspondentes a 910 mil votos – e nas legislativas seguintes subiram para 36,9% e quase 2 milhões de votos.
Muitas das análises que se fizeram sobre estas europeias não têm, pois, a mínima sustentação.
Mas isso não significa que o PSD e o CDS não devam refletir.
Em toda a Europa se verifica uma tendência no sentido da radicalização, que ainda não chegou a Portugal.
A esquerda moderada tende a tornar-se mais radical e a assumir ‘causas’ novas, a direita tradicional tende a inclinar-se para a extrema-direita.
Ora, os grandes partidos portugueses não podem ignorar isso.
A esquerda já começou a fazê-lo há algum tempo, com o aparecimento de novos partidos como o BE, o Livre ou o PAN, mas a direita só agora deu uns tímidos passos com o Chega, o Aliança e o PNR.
E os seus partidos tradicionais, o PSD e o CDS, parecem mergulhados numa grande desorientação.
Rui Rio não consegue libertar-se da ideia de que quer ser uma muleta do PS depois das próximas legislativas; e o CDS parece hesitar entre ficar numa posição centrista, com vergonha de se dizer da direita, ou assumir mais claramente esta condição.
Nestas eleições, foi notória a dessintonia entre Nuno Melo e Assunção Cristas.
Enquanto ele insistia na palavra ‘direita’ e introduzia temas como os migrantes, ela piscava o olho ao centro e evitava os temas de rutura.
É isto que o CDS tem de resolver: fica envergonhadamente no centro ou assume-se como de direita, na direção apontada por Melo?
Os maus resultados destas eleições podem fazê-lo arrepiar caminho.
Mas para que serve um CDS ao centro?
Já lá estão o PSD e o próprio PS, além de que o centro está em queda.
Assim, o CDS ou é de direita ou não é nada.
O PSD vive o tal drama de Rui Rio ser visto como ‘o amigo de Costa’.
E está quase impossibilitado de crescer.
Porquê?
Porque só pode crescer à esquerda – e , enquanto o Governo socialista tiver bons resultados na economia e conseguir manter a estabilidade política, Rio não tirará um único voto ao PS.
Esta é a realidade.
E, perante ela, o PSD tem de pensar muito mais em termos estratégicos e menos em termos táticos.
Aliás, isto é válido para toda a direita, CDS incluído.
Tal como a esquerda tem ‘causas’ – a igualdade, a mitificação do Estado, a aversão à iniciativa privada, o feminismo, a propaganda gay, a proteção dos animais, etc. – a direita também tem de ter as suas.
E quais deverão ser as ‘causas’ da direita?
Logo a abrir, o combate à corrupção.
Estando a administração pública muito minada pela corrupção, pelo tráfico de influências, pela troca de favores, etc., e sendo o PS o partido mais identificado com esta situação, a direita tem de pôr o combate à corrupção e ao compadrio na 1.ª linha das suas causas; e Rui Rio tem perfil para o fazer, pois a seriedade é a sua principal marca.
A burocracia e o gigantismo do Estado também têm de ser combatidos.
Assim como a enorme carga fiscal sobre os cidadãos e as empresas, que asfixia a economia e cuja cobrança assume por vezes aspetos desumanos e indignos.
E a iniciativa privada tem de ser assumida sem complexos como a mola do crescimento económico.
A natalidade é outro tema-chave. Um país com a população a decrescer, a envelhecer, cada vez com menos crianças, é um país sem futuro, em que até as reformas das pessoas estão em risco; por isso, a direita tem de propor medidas drásticas para atacar este problema (que a esquerda se envergonha de discutir, dada a defesa que faz do aborto, da contraceção, etc.).
A desertificação do interior é igualmente um tema obrigatório.
Um país tem de ser ocupado. Um território abandonado é uma imensa fonte de problemas, a começar pelos incêndios. São necessárias medidas de emergência para fixar as populações no interior e levar gente para lá.
Ainda no tocante às ‘causas’, não pode esquecer-se o orgulho patriótico e a assunção da História, fazendo uma ponte entre o passado e o futuro (por oposição à esquerda, que quer construir o futuro sobre as ruínas do presente e do passado).
E há que estabelecer regras para a imigração, tendo em conta que uma política de portas escancaradas provocará reações racistas e favorecerá a direita radical.
Deve também reforçar-se a ligação ao mar.
E diversificar a política externa, equilibrando os seus dois grandes vetores: a vertente europeia e os países de língua portuguesa – Brasil, Angola, Cabo Verde, etc. – com os quais temos um passado comum.
E por que não retomar corajosamente a defesa do ambiente, em que o PSD já deu cartas (com Carlos Pimenta, Macário Correia, etc.)?
E, no caso do CDS, não deve ser esquecida a ligação à Igreja – pela sua condição de partido democrata-cristão.
A direita ou assume as causas da direita ou não será coisa nenhuma.
Até pode perder votos em próximas eleições, mas se encontrar um rumo, se definir uma linha de atuação e a perseguir de modo perseverante e sem complexos, terá sucesso.
Mas precisa de o fazer com convicção.
Não pode praticar, como até aqui, uma política de toca-e-foge, a apalpar o terreno para ver os temas que dão mais votos ou mais mediatismo.
Num mundo onde tudo é muito tático, a direita tem de ter uma estratégia.
Uma estratégia para lá dos líderes e das circunstâncias.
Com ela, chegará mais tarde ou mais cedo, de forma consistente, ao poder.