A estranha mania de nos apoucarmos

Entre nós, se há uma cabeça que se destaca da mediania, corta-se, quando o normal seria apontá-la como exemplo. Se há uns que, vencendo todos os obstáculos, triunfam, podem contar com a especial combinação de inveja e ódio, visível na forma como tratamos Cristiano Ronaldo.

A Espanha ganhou o Mundial de 2010 e rejubilou com a ‘grandíssima vitória’. Portugal venceu o Euro 2016, mas os portugueses torceram o nariz a um Fernando Santos resultadista, longe do futebol bonito… que valeu o segundo lugar de 2004.

Entre nós, se há uma cabeça que se destaca da mediania, corta-se, quando o normal seria apontá-la como exemplo. Se há uns que, vencendo todos os obstáculos, triunfam, podem contar com a especial combinação de inveja e ódio, visível na forma como tratamos Cristiano Ronaldo.

Um bem-sucedido empresário alemão disse-me um dia: «Não compreendo Portugal. Quem é competente, é perseguido; quem fica a dever, é levado ao colo até à próxima falência». O juízo continua verdadeiro: empresa que apresenta lucros é atacada, suspeita de explorar os trabalhadores, enganar os clientes e fugir aos impostos.

Um Estado insaciável sindicatos esclerosados, e opinion makers apostados no bota-abaixo prestam um mau serviço quando perseguem os bons e reservam ‘proteção carinhosa’ aos maus: os que não cumprem, os especialistas da trapaça e da fraude.

Fruto de uma conjuntura especialmente favorável, na última década do século passado o sistema financeiro nacional modernizou-se e surgiu em plano destacado entre os mais avançados do mundo. O sucesso foi aplaudido por todo o lado, mas, cá na terra, os bancos foram atacados. Ganhavam dinheiro… imagine-se! Agora, que só dão lucro são estrangeiros, e os portugueses dão prejuízos e pedem apoios ao Estado… a Pátria recuperou a serenidade do tempo da banca nacionalizada.

É certo que os tempos da abundância conduziram a um deslumbramento que foi um péssimo conselheiro. Uma ostentação escusada pôs em evidência a falta de uma cultura que ensine a viver com o sucesso, e criou anticorpos que contagiaram todas as camadas sociais. Foi nesse terreno infetado que germinou a censura e se reclamaram punições exemplares. Cereja em cima do bolo, as autoridades produziram uma avalanche de leis e normas, com a finalidade controlar, fiscalizar, sancionar… Tudo em nome da redenção das Sodomas e Gomorras que precisavam de regressar à boa ordem em que nada acontece… nem mau, nem bom.

Com a burocracia inventada para esconder a incapacidade de agir, chegaram os ‘gestores profissionais’. As contas de exploração começaram a derrapar, mas a culpa era ‘dos outros’. É sempre assim: se as coisas não correm bem, acusam-se os suspeitos do costume a quem é fácil endossar as culpas. Já se tinha visto disto com as nacionalizações, mas nós somos incuráveis. 

Então, vieram os prejuízos, vieram as ajudas estatais e a receita dos medíocres: CORTAR, CORTAR, CORTAR, com planos de ‘rescisões amigáveis’ para os que tinham cargos diretivos e salários elevados. Estes foram substituídos por precários baratinhos, que atendem com a má cara dos explorados e a ignorância de quem não teve tempo para aprender. 

O resultado está à vista: a banca não é lucrativa e a cobrança de novas comissões está ao virar da esquina. Aqui, o povo já não gosta, mas… habituem-se! Lá, onde estão, Salazar e Cunhal sorriem.