«É a minha vez de atacar!», afirmou ao i, e em seguida numa entrevista concedida ao SOL, Michel Platini, em Paris, onde mantivemos uma longa conversa.
Na passada terça-feira, o antigo presidente da UEFA foi conduzido aos serviços anticorrupção da Polícia Judiciária francesa, em Nanterre, arredores da capital, e esteve sujeito durante várias horas a um interrogatório. Tal como no mesmo dia o seu advogado, monsieur William Bourdon nos confiou, Platini não foi constituído arguido e colaborou como testemunha num caso que se alarga cada vez mais ao espetro político tendo Nicholas Sarkozy, Presidente francês entre 2007 e 2012, como foco principal.
No mesmo dia que Platini foi interrogado, também Sophie Dion, secretária do Eliseu para questões desportivas ao tempo de Sarkozy, foi obrigada a apresentar-se na Rue des Trois Fontanots para prestar declarações. A Polícia Judiciária francesa está, neste momento, a juntar todo o tipo de testemunhos sobre uma reunião havida na residência oficial do presidente francês no dia 23 de Novembro de 2010. Recordem-se as palavras de Platini ao SOL: «Fui ao Eliseu prestar contas ao presidente da França da minha intenção em votar no Catar para sede do Mundial de 2022, tal como era minha obrigação. Não fazia a mínima ideia de o emir do Catar, Tamin bin Hamad al Thani, iria estar presente. Até foi confrangedor para mim. Mas que podia fazer? Ir embora. Ninguém vira as costas ao presidente da França. E eu era seu convidado. Tudo o que se escreveu depois disso são idiotices. A decisão estava tomada. Tudo o resto me ultrapassa». Aliás, foi este o teor das afirmações que Platini prestou em Nanterre, tal como confirmámos mais tarde. O Libération publicou, entretanto, que Sophie Dion, Claude Guéant, ex-secretário-geral do Eliseu e Hamad bin Jassem al Thani, primeiro-ministro catari, estiveram presentes na reunião e que Guéant será chamado a depor. Sarkozy, que soube na quarta-feira, que irá a julgamento no Caso das Escutas realizadas a um um membro do Tribunal de Segunda Instância, Gilbert Azibert, recusado que foi o seu último recurso, acusado de corrupção e tráfico de influências, deverá também ser intimado brevemente.
Pelo caminho, e por via de duas queixas apresentadas pelo antigo secretário-geral da FIFA, expulso do organismo em 2016, Jérôme Valcke, o Tribunal Federal helvético decidiu suspender o procurador-geral do Ministério Públo Suíço e dois dos seus assistentes responsáveis pelas investigações levadas a cabo na FIFA sobre suspeitas de corrupção no Catagate. Motivo? Reuniões clandestinas mantidas com o atual presidente da FIFA. Para Platini, que anunciou no i e no SOL que tinha avançado com dois processos contra o MP suíço por difamação, a notícia deve ter sido recebida com o seu habitual sorriso trocista. Afinal, Valcke é tido como o delator da verba de cerca de um milhão de euros paga a Michel pela FIFA naquilo que ele defende, palavras suas, «como contrapartida por serviços prestados durante dois anos» e que conduziu ao processo que o suspendeu da presidência da UEFA. A quatro meses de cumprir a pena, Platini está a provocar grande ondulação na justiça francesa e suíça. Sem deixar de apontar o dedo a Sarkozy na questão do Mundial do Catar.