As listas do PSD vão ser alvo de uma grande renovação nas próximas eleições legislativas. Além das saídas pelo próprio de pé de vários deputados, como Teresa Morais, António Leitão Amaro, Paula Teixeira da Cruz, Matos Correia ou Mercês Borges, sucedem-se as mudanças nos cabeças de-lista, face à versão de 2015, e a grande incógnita é a de saber como será gerida a lista de nomes de críticos à atual liderança, propostas a nível distrital.
À cabeça está, por exemplo, Hugo Soares, ex-líder parlamentar do partido e braço-direito de Luís Montenegro, adversário assumido de Rui Rio. Ao que o SOL apurou, Hugo Soares será indicado para integrar as listas pela concelhia de Braga, por unanimidade, contando com o apoio do presidente da Câmara de Braga, Ricardo Rio. Mas existem mais nomes da anterior direção de Passos Coelho nas listas. Por exemplo, no distrito do Porto, serão indicados Luís Vales e Miguel Santos, deputados do PSD com cargos de coordenação ou tarefas na secretaria-geral do partido no tempo de Pedro Passos Coelho.
Entre os cabeças-de-lista, a grande dúvida é a de saber qual será a escolha final em Lisboa. David Justino, vice-presidente do partido e coordenador do Conselho de Estratégia Nacional do PSD, será a solução mais natural, segundo fontes sociais-democratas ouvidas pelo SOL. Contudo, a decisão ainda não está tomada e outro nome surge como hipótese: o de Carlos Moedas, comissário europeu. Que pouco ou nada tem dito sobre a sua vontade em regressar à atividade parlamentar.
Em Lisboa esperam-se, aliás, as maiores mudanças na equipa. que, em 2015, foi encabeçada por Pedro Passos Coelho. De saída estarão figuras como Sérgio Azevedo. Mesmo o futuro do líder distrital do PSD/Lisboa é uma incógnita. Há quem garanta ao SOL que Pedro Pinto já deu sinais de querer sair por vontade própria. Mas também há quem assegure que estará disposto a fazer mais um mandato. O próprio disse ao i que «nunca se pronunciou sobre essa questão» e que «só o fará na reunião distrital» a que preside.
Além de serem previsíveis muitas mudanças, e a direção do partido poder vir a indicar mais cinco candidatos, além do cabeça-de-lista, Miguel Pinto Luz, autarca em Cascais, foi o escolhido pela sua concelhia como candidato a deputado. Pinto Luz, recorde-se, já deu sinais claros de ter ambições para concorrer à liderança.
Várias saídas na calha
O futuro de alguns deputados avizinha-se mais do que difícil. Poderão mesmo estar de saída. É o caso de Duarte Marques, ex-presidente da JSD, ou Nuno Serra, ex-líder da distrital de Santarém. Ambos apoiaram Santana Lopes nas eleições diretas de janeiro de 2018. No distrito de Santarém antecipam-se, assim, várias alterações e existe um também muita incerteza sobre quem será o cabeça-de-lista. Nas últimas eleições, em 2015, a escolha recaiu sobre Teresa Leal Coelho, uma solução que não deverá repetir. Mais, o futuro da parlamentar também é incerto.
Neste balanço de potenciais saídas, há ainda um dado novo em cima da mesa. Carlos Coelho, eurodeputado durante 20 anos, não conseguiu a eleição nas europeias de 26 de maio. Resultado? O seu nome tem sido apontado como cabeça-de-lista para o distrito, ou, então, poderá entrar na quota da direção nacional por Lisboa. Os cenários são vários e existem ainda muitas incertezas, sobretudo porque o líder do partido, Rui Rio, não costuma partilhar as suas reflexões sobre nomes a escolher.
Definhar o PSD
Certo é que Teresa Morais, que foi cabeça-de-lista de lista em Leiria em 2015, decidiu bater com a porta. E fê-lo de forma dura. Na última reunião da assembleia distrital de Leiria, anunciou que não estava disponível para continuar nas listas. Teresa Morais escreveu um comentário na rede social Facebook a assumir a decisão, acusando Rio de estar a «definhar» o partido. Por isso, a deputada disse não ter «rigorosamente nada em comum» com quem está «a tornar o PSD num partido maneirinho e homogéneo». Mais, a ex-ministra da Cultura, Igualdade e Cidadania considerou que o PSD de hoje não é o seu e corre o risco de se tornar «mediano e ideologicamente puro, onde só cabem amigos e acólitos subservientes».
De saída (já anunciada) está também o deputado Ulisses Pereira e tanto Carlos Abreu Amorim como Miguel Morgado dificilmente ficarão nas listas. De acordo com fontes sociais-democratas, os seus nomes não deverão mesmo constar das listas finais.
Setúbal com Negrão
No distrito de Setúbal, o nome apontado para cabeça-de-lista é o do líder parlamentar do PSD, Fernando Negrão. No passado recente, o seu nome não foi pacífico na distrital e Negrão foi mesmo incluído na lista de Braga nas últimas eleições legislativas em 2015. Agora, a decisão será de Rui Rio que o escolheu para dirigir a bancada do partido. Pelo distrito serão indicados nomes como a ex-ministra das Finanças Maria Luís Albuquerque (pela concelhia de Almada). Bruno Vitorino, líder da distrital, será indicado pela concelhia do Barreiro.
Vitorino, recorde-se, integrou a lista de distritais que defenderam a tese de Luís Montenegro, antigo líder parlamentar, de eleições diretas no início de 2019. Perderam a contenda para Rui Rio e agora ninguém sabe o que é que a direção fará com os críticos na elaboração das listas. Talvez, por isso, Maurício Marques, da distrital de Coimbra, e Manuel Frexes, da distrital de Castelo Branco, já tenham anunciado que sairiam do Parlamento e abandonavam funções nas respetivas distritais.
Ainda no distrito de Setúbal estão confirmadas mais duas baixas: Mercês Borges, a deputada que protagonizou uma polémica sobre o registo de presença do colega de partido, Feliciano Barreiras Duarte, no Parlamento, e Pedro do Ó Ramos, que chegou a dirigir uma campanha de Pedro Passos Coelho, em eleições internas no PSD. Ambos saem por vontade própria.
Quem também anunciou esta semana que está de malas aviadas do Parlamento é Marco António Costa. É mais um vice-presidente de Passos Coelho que bate com a porta. Apesar de sair sem estar em conflito com ninguém, como referiu em entrevista ao Público e à RR, Marco António Costa defendeu que teria sido «útil» um refrescamento da liderança do partido após a derrota nas eleições europeias.
As listas só devem ficar fechadas a 19 de julho, mas já existem nomes bem colocados para encabeçar dois círculos. Em Viseu, Fernando Ruas, que saiu do Parlamento Europeu deverá ser a solução e, em Aveiro, o deputado António Topa é o desejado pela distrital, liderada pelo vice-presidente do PSD, Salvador Malheiro.
Em Coimbra surgem dois cenários: a manutenção de Margarida Mano como cabeça-de-lista ou a opção por Paulo Mota Pinto, presidente do Conselho de Jurisdição Nacional. Na próxima semana, as concelhias entregam os nomes propostos às distritais para coligir as listas, um processo que se prevê confuso em vários pontos do país.