«Não vão encerrar maternidades em Lisboa nos meses de verão». A garantia foi dada no Parlamento pelo secretário de Estado da Saúde Francisco Ramos. O que vai acontecer ao certo, não se sabe. O plano para o funcionamento das urgências de obstetrícia das quatro principais maternidades da grande Lisboa (Santa Maria, Alfredo da Costa, São Francisco Xavier e Amadora-Sintra) só vai ficar fechado na próxima semana. A proposta em cima da mesa é que exista um fecho rotativo, em que três urgências estão a funcionar e a quarta está com uma equipa reduzida. Com que periodicidade, que casos serão sempre atendidos, como será avisada a população – em particular as grávidas com partos previstos para determinado hospital e que entrem em trabalho de parto – é a incógnita.
O cenário de rutura por falta de médicos durante as férias, que levou à necessidade de avançar para este plano, levou os partidos a tecerem críticas ao Governo e a chamarem Marta Temido à AR e o Presidente da República pediu explicações. A Ordem dos Médicos considera o fecho rotativo inaceitável, por pôr em causa a segurança das grávidas. «É um remendo e não resolve nada. Santa Maria recebe 70 a 80 mulheres na urgência, faz sete ou oito partos por dia. Se no dia em que fecha a MAC receber 150, não há espaço. Vai haver um efeito em cascata. Grávidas em corredores, aumenta-se a taxa de cesarianas para desenrascar, é preciso anestesistas, não há os mesmos meios para vigilância, não se está a contemplar o reforço de enfermeiros. Estas coisas têm de ser planeadas com tempo, não é em cima do joelho», disse esta semana ao jornal i o bastonário Miguel Guimarães, que acredita que é possível encontrar uma solução recorrendo à contratação de tarefeiros. A Ordem está disponível para ajudar a encontrar médicos e pediu uma reunião à Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo. Luís Pisco, presidente da ARS, confirmou ao SOL que a reunião foi marcada para a próxima terça. Só depois desta e de outra reunião que já estava marcada pela ARS com os hospitais haverá uma decisão definitiva sobre o plano que está previsto entrar em vigor em julho.
Ontem, na AR, o secretário de Estado da Saúde clarificou que o que está em causa são as admissões externas nas urgências e «a forma como ao longo dos meses de verão o INEM vai encaminhar grávidas através do CODU para esses hospitais», disse, garantindo que, se três das quatro maternidades estarão sempre a funcionar, a outra terá «níveis mínimos de urgência externa». Que casos serão contemplados é a dúvida, sendo que os médicos temem que exista um congestionamento, até porque os partos não diminuem no verão. O histórico consultado pelo SOL revela mesmo o contrário: tanto Santa Maria como a MAC têm mais nascimentos no segundo semestre do ano. Os partos começam a aumentar no verão, atingindo um pico no fim do ano. Em 2018 Santa Maria fez 4807 partos nos meses de julho, agosto e setembro e a MAC 6629.