Primeiro foi “pai” dos dinossauros, depois passaram a chamar-lhe avô. Galopim de Carvalho sorri à alcunha e à passagem do tempo, que não o atormenta. Não foi ele quem descobriu o trilho com 132 metros numa pedreira desativada de Carenque, mas dois alunos, Carlos Coke e Paulo Branquinho. Tornaram-se uma causa: bateu-se – bateram-se – para que a construção da CREL, que viria a ser inaugurada em 1995, não arrasasse essa porta aberta para o passado. Em abril juntou-se a um cordão humano contra o estado de abandono a que foram votadas as pegadas que o país ajudou a salvar. Aos 87 anos, não esconde que é dos sonhos que mais gostava de ver concretizados: poder ver nascer ali um espaço de interpretação, o museu que nunca saiu do papel. Curioso desde pequeno, na escola aprendeu sobretudo que tipo de professor não queria ser. Hoje vê desalento e frustração numa classe maltratada e currículos estereotipados que anulam o gosto por saber e ensinar. Recebe-nos na sua casa na Lapa, em Lisboa, rodeado de livros, gravuras, pedras, dinossauros e outros bichos de antigamente, ao lado da mulher, Isabel, com quem começou a namorar no Liceu de Évora. São 62 anos de casamento e o essencial é fazer todos os dias o balanço, diz. Nunca foi de dormir muito. Hoje deita-se cedo e acorda pelas quatro da manhã. Dedica-se à escrita, livros, blogues, aos seus seguidores no Facebook. É de contar histórias que gosta – são a melhor forma de aprender.
A história de Galopim de Carvalho começa em Évora. Nasce em 1931. Era um país muito diferente?
Muito. Vou publicar um livro que se chama Évora, Anos 30 e 40, deve sair no próximo ano. Mostra bem o que era a vida. Lembro-me perfeitamente da Guerra Civil de Espanha. Havia uma estrutura no tempo do Estado Novo que era a Legião Portuguesa. Combateram em Espanha ao lado do Franco. Fomos vê-los chegar, vieram a pé de Badajoz. Tinha oito anos quando a guerra acabou. Foram tempos terríveis. Morreram muitos, outros foram fuzilados. Os anarquistas e comunistas portugueses iam combater ao lado dos republicanos, os fascistas e falangistas estavam ao lado de Franco. Quando os republicanos perderam, muitos foram fuzilados em Badajoz. Marcou-nos muito.
O que o leva a escrever esse livro tantos anos depois?
Tinha muitos elementos, muitos testemunhos, muitas vivências. No tempo da II Guerra Mundial vivemos o racionamento. Tínhamos senhas para comprar arroz, açúcar, manteiga. Só não era racionado o feijão, a batata, o que era produzido nas aldeias.
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