Não há processo de formação das listas do PSD ( como de outros partidos) que não tenha polémicas, momentos de tensão e mesmo alguém que bata com a porta por não se rever nos métodos, nas escolhas ou nas exclusões. Dito isto, em 2019 há um acrescento à equação: a liderança do PSD foi alvo de críticas, pela estratégia e estilo, e, agora, quem apoiou Passos Coelho, o antecessor de Rui Rio, ou preferia ter levado o partido a novas eleições diretas corre o risco de não ficar na equipa. Tudo depende da vontade… de Rio.
Assim, em várias distritais, o sentimento é o de suspense pelos próximos capítulos, com passistas e críticos ( confirmados) nas listas já fechadas em várias estruturas. Além disso, existem já vários casos com outras polémicas à mistura. Mas, vamos por partes.
No caso de Lisboa, a reunião da distrital não teve grandes polémicas. A equipa de Pedro Pinto ( que teve um voto político) para concorrer a mais um mandato, cumpriu as instruções da sede nacional e vai enviar a lista por ordem alfabética, ( regra imposta pela Comissão Política Nacional ). Mas escolheu o próprio líder da distrital, Pedro Pinto, Miguel Pinto Luz e Matos Rosa como candidatos. E estes três nomes não são alinhados, por razões diferentes, com a atual direção.
Pedro Pinto chegou a ser um dos rostos principais do Conselho Nacional de janeiro deste ano a favor de eleições diretas. Rio arrumou o assunto com uma moção de confiança. E ganhou a batalha.
Miguel Pinto Luz é autarca em Cascais e a sua indicação está a ser vista como um sinal de que tem a ambição de concorrer à liderança do PSD num cenário de derrota eleitoral nas legislativas. O próprio preferiu sempre dizer que está disponível para colaborar com a direção do partido.
Já Matos Rosa foi secretário-geral do PSD durante o consulado de Passos Coelho. Não será propriamente um crítico, mas o seu nome está ligado ao passado e Rio tem sido criticado por tentar descolar do mesmo. O ex-secretário-geral foi indicado pela concelhia de Vila Franca de Xira. E a lista final da distrital passou por unanimidade.
A distrital aprovou um conjunto de regras para os candidatos a deputados, como o relatório de atividades trimestrais no Parlamento, mas também um outro ponto que pode criar fricção com a direção do partido. A distrital mandatou Pedro Pinto para «encetar negociações de forma a assegurar a representatividade» não só das concelhias, dos TSD e da JSD, mas também respeitar ( dentro do possível) os lugares ocupados pelos deputados, eleitos em 2015, que serão reconduzidos como candidatos nas eleições legislativas de 6 de outubro. Agora, tudo depende do número de nomes que Rio queira colocar, sendo que, dentro da distrital, espera-se que o presidente do partido não queira impor Rodrigo Gonçalves, seu ex-consultor na lista. Isto porque o seu nome está associado a várias polémicas em Lisboa, tendo já sido contestado pela forma como mobilizou apoios em eleições internas.
Concelhia de Lisboa em polvorosa
A semana passada começou com uma demissão no PSD, a do líder da concelhia do PSD/Lisboa, Paulo Ribeiro. Que ontem se explicou, finalmente, aos militantes numa carta em que é duro com figuras como Luís Newton, líder da bancada municipal de Lisboa, ainda que sem nunca o referir. O seu texto confirma uma guerra interna por causa dos nomes indicados pela concelhia. «A comissão política foi confrontada com duas imposições previamente negociadas nos bastidores – um ‘golpe palaciano’, num regresso às velhas práticas e com os mesmos protagonistas de sempre», escreveu Paulo Ribeiro. Na reunião da comissão política foram aprovados dois nomes – Rogério Jóia e Joana Monteiro – , depois do líder da concelhia ter pedido uma solução mais alargada e ter telefonado a todos os deputados do PSD, com residência em Lisboa, a aferir a sua disponibilidade.
As escolhas aprovadas tiveram o apoio de Luís Newton, personalidade a quem Ribeiro se uniu no passado para destronar Rodrigo Gonçalves do poder (uma figura próxima de Rio). Agora, entraram em rota de colisão. Pelo meio surgiu algo surpreendente. Joana Monteiro, a candidata indicada, afinal nunca quis ser incluída, apesar de ter o seu aval, por cortesia, a que o seu nome fosse usado para avaliação. Confuso? Sim, e o único nome que vai para a sede do PSD na próxima semana, proposto pela concelhia é do Rogério Jóia, número dois da concelhia. Entretanto, demitiram-se mais figuras daquela estrutura como Victor Reis.
A tensão segue após as legislativas quando ocorrerem eleições internas e já há uma a militante disposta a ir a votos: Sofia Vala Rocha.
Pelo país existem mais casos com outros contornos. Por exemplo, o deputado Duarte Marques, que ganhou visibilidade parlamentar em áreas como a proteção civil, não foi indicado pela distrital de Santarém. Que propôs o líder distrital, João Moura, como cabeça-de-lista, algo que Rio terá de confirmar o vetar. Marques disse ao SOL que «isso não é grave, grave é o estado dos nossos hospitais, o caos nos serviços públicos e uma economia que não cresce. É um processo que não está terminado e que se trata dentro do partido».
Em Setúbal, a distrital liderada por Bruno Vitorino aprovou a lista por ordem alfabética, mas fez saber à secretaria-geral, liderada por José Silvano, que veria com bons olhos a manutenção de Maria Luís Albuquerque como cabeça-de-lista, tal como em 2015. A recomendação não é oficial, é mais oficiosa, porque a estrutura não aprovar esta versão, deixando tudo nas mãos de Rio. Mais, segundo apurou o SOL se Fernando Negrão, o líder parlamentar, for o cabeça-de-lista, será difícil a Maria Luís Albuquerque aceitar ir em segundo. Certezas absolutas ninguém tem.
No PSD, há ainda quem não tenha qualquer sinal sobre o seu futuro e há quem se apresse a dizer que não pretende voltar à política, caso surja algum convite. É o caso de Luís Filipe Menezes, antigo líder do PSD, que tem sido apontado como cabeça-de-lista por Aveiro. Aliás, na distrital de Aveiro, liderada pelo vice-presidente do PSD, Salvador Malheiro, há, pelo menos, uma polémica com a JSD e a indicação de André Neves.
O antigo candidato à liderança da JSD foi indicado para as listas, mas a JSD de Oliveira do Bairro, Arouca e São João da Madeira fizeram uma declaração de voto contra a escolha. Ao que o SOL apurou, a desaprovação de André Neves deve-se, sobretudo, ao facto de ter sido imposto pela distrital de Salvador Malheiro.
Hugo Soares proposto
Ontem à noite, a distrital do PSD/Braga reuniu para aprovar as listas com a certeza que a escolha da concelhia de Braga, Hugo Soares, braço-direito de Luís Montenegro, (o challenger de Rio no início deste ano) não seria vetada à partida. Cabe a Rio tomar uma decisão, sendo certo que existem sinais contraditórios: há quem acredite que o líder vai dar um sinal de inclusão, há quem admita que nenhum dos críticos ficará nas listas. A decisão final só será conhecida a 18 de julho, depois das reuniões com todas as distritais. Até lá, Rio terá de escolher os cabeças-de-lista. Em cima da mesa estará Carlos Moedas, o comissário europeu, em Lisboa, mas o próprio tem dados sinais de alguma equidistância e o mandato ( em Bruxelas) só termina em outubro, em cima das eleições.
*com Mafalda Tello Silva