Os trabalhadores do Haitong Bank, antigo BESI, acusam a atual administração de clima de bullying e de perseguição. O SOL sabe que este mal-estar interno já chegou aos ouvidos dos sindicatos do setor, que prometem estar atentos. As ameaças na redução de benefícios, o afastamento de quadros de topo, a anulação de acordos de pré-reformas a colaboradores doentes, o trabalho em feriados sem compensação, a redução de remuneração – que inclui o corte de subsídios complementares – e a eliminação de benefícios (um exemplo são os empréstimos à habitação que estão congelados desde 2014) estão na base deste conflito interno.
Contactada pelo SOL, fonte oficial do banco diz que «não tem em curso nenhum processo de redução generalizada de benefícios aos seus colaboradores» e assegura também que tem «na verdade implementado um conjunto de medidas de valorização do conjunto dos seus colaboradores de forma transparente, em linha com critérios de produtividade, dentro das melhores práticas de mercado e enquadrado com a regulação do setor financeiro, assegurando uma gestão sã e prudente».
No entanto, o SOL sabe que estas questões ganharam maiores proporções com a chegada do novo CEO à instituição financeira, em 2017. Com a entrada em cena de Wu Min na liderança do Haitong, apenas um administrador executivo do momento de aquisição se mantém em funções.
E os números falam por si. Nos últimos três anos, saíram cerca de 11 administradores do banco de investimento. Encontram-se atualmente em funções, além de Wu Min, também Alan Fernandes, Paulo Martins, Nuno Carvalho e Vasco Martins. Já António Domingues – antigo presidente da Caixa Geral de Depósitos – e Vincent Marie reforçam a sua presença como não executivos, numa lista que é completada pelo chairman Lin Yon e Pan Guangtao, como representante do acionista Haitong Securities.
Ao que o SOL apurou, a atual liderança tem provocado vários problemas nas equipas de gestão. «Existe perseguição a quem manifeste opiniões diferentes ou discorde de alguma medida decidida pelo CEO», revela uma fonte. Uma outra diz que «existe da parte da atual estrutura diretiva uma falta de capacidade técnica, experiência e verticalidade moral que os impede de ser frontais».
A opinião é unânime junto daqueles que foram ouvidos pelo SOL: «Não só têm existido dificuldades de adaptação às práticas de governance ocidentais, como também não há qualquer interesse em se adaptarem à realidade e ao mercado português».
Este braço de ferro culminou com as ‘ameaças’ que foram surgindo nos últimos meses de práticas que, até aqui, não eram comuns no banco de investimento. A par da eliminação de benefícios como viaturas de serviço, complementos de ordenado e tentativa de anulação de acordos de pré-reforma, nomeadamente a colaboradores doentes, o SOL sabe que o Haitong Bank não tem concedido empréstimos aos seus trabalhadores, uma prática que está consagrada no acordo coletivo de trabalho do setor bancário. E recentemente recusou-se a pagar os feriados, pagando apenas o subsídio de almoço a quem fosse trabalhar nesses dias. Uma questão que ganha outros contornos quando, na maioria dos feriados em Portugal, as bolsas internacionais estão a funcionar, o que implica que trabalhadores de determinadas áreas sejam ‘obrigados’ a estar no banco. É o caso das áreas de asset management – gestão de ativos – operações e informática.
Também a possibilidade do banco de investimento vir a alterar ou, até mesmo eliminar, o atual fundo de pensões está a agravar este conflito interno.
Vida de CEO causa polémica
Ao que o SOL apurou, o estilo de vida do CEO, Wu Min, em Portugal provoca ainda maior perplexidade. De acordo com as contas publicadas no relatório e contas do ano passado, o presidente auferiu uma remuneração fixa de 644.689 euros, o que o torna um dos gestores mais bem pagos da banca portuguesa.
A par da remuneração, WU Min conta com uma série de regalias. O SOL sabe que é o banco de investimento que paga a renda na ordem dos cinco mil euros de um apartamento de luxo, na Av. da Liberdade. Também a mensalidade do colégio do filho, no St. Julian’s, no concelho de Cascais, é paga pelo Haitong Bank. Nos recibos a que o SOL teve acesso, os valores que foram pagos variam trimestralmente entre os 3.460 euros e os 7.952 euros. O mesmo acontece com as aulas de línguas da mulher, que está a receber formação de português. O valor dos recibos varia entre os 434 euros e os 608 euros mensais.
Mas as regalias não ficam por aqui. O CEO do banco tem ainda acesso a milhares de euros para despesas de representação, duas viaturas de luxo – modelos Audi Q7 e Mercedes S – tanto para uso pessoal como familiar. E acesso a motoristas apenas para uso pessoal, apurou o SOL.
De prejuízos a lucros
O ano de 2018 marcou uma mudança nos resultados do Haitong Bank ao apresentar um lucro de 1,2 milhões de euros, após quatro anos de perdas, recuperando de prejuízos de 130 milhões de euros do ano anterior. «É com orgulho que o Haitong Bank regista resultados positivos. Criámos as bases para a sustentabilidade do banco em termos de governo, modelo de negócio, disciplina nos custos e orientação estratégica. Estes resultados são igualmente uma motivação para toda a equipa prosseguir o seu trabalho, numa organização alicerçada na meritocracia e integridade», afirmou Wu Min, em comunicado.
Este resultado deveu-se à venda de ativos e à concentração em áreas de negócio específicas. Exemplo disso foi a venda de subsidiárias no Reino Unido e nos Estados Unidos, o que permitiu gerar mais-valias de 13,2 milhões de euros. «Esta foi uma parte muito importante do plano de restruturação, que permitiu ao banco focar-se nos negócios de banca corporativa e de investimento, operando com uma base de custos mais eficiente. Os resultados de operações descontinuadas tiveram um impacto neutro no resultado operacional do banco», disse, em comunicado. Também em marcha está a venda da operação na Irlanda que irá permitir ao banco de investimento cortar no seu crédito malparado.
O número de funcionários sofreu igualmente um corte, passando de 462 colaboradores em 2017 para 389 trabalhadores no final do ano passado, uma redução de quase 16%. Daí, os custos terem totalizado os 78 milhões de euros em 2018, menos 38% do que o verificado em igual período do ano anterior, justificado pela implementação do plano de reestruturação.