Os 29 deputados do Partido do Brexit, formação mais votada do Reino Unido, de Nigel Farage, não deixaram fugir a oportunidade e marcaram a primeira sessão plenária do Parlamento Europeu, em Estrasburgo, ao virarem as costas quando foi tocada a “Ode da Alegria”, hino da União Europeia.
O protesto não é inédito. Durante a sessão de abertura do Parlamento Europeu em 2014, os deputados do Partido de Independência do Reino Unido, liderado na altura por Farage – que entretanto saiu e formou o Partido do Brexit -, também viraram as costas quando foi tocada a Nona Sinfonia de Beethoven, música oficial da organização desde 1985.
O ainda presidente do Parlamento Europeu, Antonio Tajani, respondeu ao gesto ao afirmar: “Vocês defendem o hino de outro país”. A justificação para o protesto veio da parte de um deputado do partido brexiteer, David Bull. O político garantiu que o hino não é “nacional”, mas sim um “hino federal” e por não acreditarem num “Estado federal europeu” entenderam que era essa a ação correta a tomar.
O gesto não foi bem digerido por várias fações políticas do Parlamento. A deputada Nadine Morano, do partido de centro-direita francês, chamou Farage de “palhaço” e disse que a quebra de protocolo dos deputados britânicos era “inaceitável” e “escandalosa”.
Já Michèle Rivasi, deputada dos Verdes Europeus, pôs em questão a presença do líder do Partido do Brexit: “O que é que Farage faz aqui?”, acrescentando que a sua formação é “oportunista” e de estar “a destruir a Europa”.
Outro protesto completamente contrário ao do Partido do Brexit, e que demonstra bem a divisão política no Reino Unido em relação ao abandono do país da organização, foi o dos 16 deputados eleitos pelos Liberais Democratas, que vestiram camisolas amarelas onde se lia o lema do partido durante as eleições de 26 de maio nas costas: “Tretas para o Brexit”. No final, quando foi a sessão foi suspensa por Tajani, os deputados reuniram-se no centro da sala e gritaram: “Stop Brexit”.
O dia ficou também marcado pelos protestos catalães, que juntaram entre 8 a 10 mil pessoas às portas da sede do Parlamento, de acordo com a polícia francesa. Os líderes catalães que foram eleitos para o Parlamento em maio passado, Carles Puigdemont, ex-presidente da Região Autónoma da Catalunha, Toní Comin e Oriol Junqueras, foram impedidos de entrar no hemiciclo por não terem prestado juramento em Madrid.
Puigdemont e Comin encontram-se exilados em Bruxelas para escapar às acusações de traição das autoridades espanholas, devido ao referendo de independência catalã. Junqueras encontra-se detido em Espanha e a enfrentar julgamento.
A sessão foi curta e os trabalhos foram adiados devido à incerteza que pairava nas negociações do Conselho Europeu, para a nomeação dos cargos da Comissão Europeia. Se o nome apontado pelos líderes dos Governos europeus para presidência da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, for aceite pelo Parlamento, a ministra da defesa alemã será a primeira mulher a liderar a Comissão (ver última página).
Os 751 eurodeputados, além do presidente da assembleia, também vão eleger os 14 vice-presidentes do Parlamento e a composição das comissões parlamentares.