É o fim da linha para o mais poderoso senhor da droga mexicano, Joaquin “El Chapo” Guzman, de 62 anos condenado por um tribunal de Nova Iorque a pena perpétua mais 30 anos de prisão, esta quarta-feira. Descrito pelos procuradores como o “impiedoso e sanguinário líder” do cartel de Sinaloa, Guzman cumprirá a sua pena numa prisão de segurança máxima no Colorado, apelidada de “Alcatraz das Montanhas Rochosas”, para além de ser condenado a pagar uns astronómicos 12,6 mil milhões de dólares (cerca de 11,2 mil milhões de euros).
“El Chapo” ouviu a sua condenação num tribunal a abarrotar, em Brooklin, usando o seu famoso bigode enquanto mandava beijos à sua esposa, a ex-miss Emma Coronel Aispuro. “Ao longo da sua carreira criminal, este arguido não mostrou um rasgo de remorsos pelos seus crimes”, afirmou a procuradora Gina Parlovecchio, que garantiu que o senhor da droga merecia a sua sentença.
“Estão a mandar-me para uma prisão onde o meu nome não será ouvido outra vez”, afirmou Guzman, que ficará preso em solitária pelo menos 22 horas por dia durante o resto da sua vida. Além disso, ficará impedido de contactar qualquer pessoa para além do seu advogado e a família mais próxima, para evitar que continue a gerir o seu império criminoso a partir da prisão – como já fez anteriormente no México.
Testemunhos
A sentença é tudo menos inesperada. Ao longo de três meses os júris ouviram 56 testemunhas descrever o macabro funcionamento interno do cartel Sinaloa, que controla com mão de ferro boa parte da sociedade mexicana e inundou os Estados Unidos com centenas de toneladas de cocaína.
Entre os testemunhos, destaca-se o de Egar Galvan, um dos contrabandistas de “El Chapo”, que contou como um dos seus assassinos de confiança, Antonio “jaguar” Marrufo, mantinha um quarto próprio para homícidos em sua casa. Num cenário que podia ser tirado de um pesadelo, o quarto revestido de ladrilhos brancos, equipado com um ralo para escoar o sangue e insonorizado para abafar os gritos das vítimas. Já Isaias Valdez Rios, que era ele próprio um dos assassinos a soldo de El Chapo, testemunhou como este não tinha receio de sujar as mãos, tendo-o visto a torturar e executar três traficantes rivais, enterrando um vivo e partindo os ossos aos outros dois.
Ainda assim, as revelações mais bombásticas vieram do traficante colômbiano Alex Cienfuentes, um velho sócio de “El Chapo”, que chegou a viver com ele durante três anos, na serra de Sinaloa. Para além de descrever como Guzman violava regularmente raparigas menores – a quem chamava de “vitaminas”, porque “lhe davam vida” -, Cienfuentes contou que mal Enrique Peña Nieto tomou posse como Presidente do México, em 2012, contactou Guzman – na altura traficante mais procurado do mundo – e pediu-lhe 250 milhões de dólares (à volta de 222,5 milhões de euros), a troco de acabar com a caça ao homem em curso. Após algum regateio, o Presidente terá aceite uma quantia mais modesta, de apenas 100 milhões de dólares (cerca de 89 milhões de euros).
Defesa
Desde o início que a defesa assegurou que Guzmán não teve nada a ver com os subornos, dizendo que terão sido feitos por Ismael “El Mayo” Zambada, considerado o atual líder do cartel de Sinaloa – mencionando que este também terá subornado o antecessor de Peña Nieto, Felipe Calderón. “O mundo está a focar-se nesta criatura mítica, ‘El Chapo’, mas não em ‘Mayo’ Zambada”, acusou o principal advogado de Guzmán, Jeffrey Lichtman. O advogado afirma que o seu cliente, na realidade, nunca liderou o cartel de Sinaloa, e que não passa tudo de uma trama para deixar escapar Zambada, que continua à frente do cartel. Entretanto, as operações de Sinaloa foram pouco afetadas pela detenção de Guzmán, “que era importante mas não essencial”, afirmou à BBC Mundo Guillermo Valdés Castellanos, ex-diretor do Centro de Informação e Segurança Nacional do México.