A nova presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, podia representar uma lufada de ar fresco na política bafienta da Europa.
Só tendo entrado na vida política aos 43 anos, sendo mulher e mãe de 7 filhos, é uma pessoa muito diferente das que enchem os corredores do Berlaymont em Bruxelas.
E também dos políticos de aviário que começam nas juventudes partidárias e não sabem fazer mais nada além da política.
São pessoas que conhecem pouco da vida, que em geral não têm sensibilidade para as questões práticas, que são treinadas para os golpes palacianos e para os truques em que a política é fértil, que se acomodam com frequência e facilmente se transformam em cinzentos burocratas.
Von der Leyen não tem nada que ver com esta gente.
Para lá do currículo familiar invulgar, não é católica mas luterana, e tem um percurso universitário também inusual: é licenciada em Economia e doutorada em Medicina.
Entretanto, para ser eleita à primeira volta pelo Parlamento Europeu, teve de fazer muitas concessões.
Pertencendo ao PPE mas precisando dos votos dos socialistas, foi obrigada a fazer múltiplas cedências à esquerda.
Segundo resumo de Carlos Moedas, a aprovação de Ursula Von der Leyen «foi um processo difícil e as horas e dias que o precederam mostram que o escrutínio parlamentar dos políticos em Bruxelas é muitas vezes superior aos escrutínios nacionais».
E continua Moedas: Ursula «passou dias e noites no Parlamento Europeu em que tudo foi questionado, em que teve que responder a perguntas que foram desde as novas tecnologias para combater as alterações climáticas, passando pela estratégia espacial europeia, até às grandes questões políticas sobre a sua visão da Europa».
Carlos Moedas considera positivo este ‘escrutínio’.
E terá muita gente com ele – para quem o importante na política é a busca incessante de consensos.
Eu vejo a questão ao contrário: uma pessoa que passa por este exame de deputados europeus de cores políticas muito diferentes tem de ter um discurso neutro, que não incomode ninguém.
Não pode ter um discurso ousado, criativo, com soluções novas para este ou aquele problema.
Tem de fazer um discurso que represente o ‘mínimo denominador comum’ do que pensam os ‘examinadores’.
Um discurso certinho, politicamente correto, sem arestas.
Ora, é em boa parte por isso que a Europa está como está.
A Europa nunca poderá ter um discurso forte – porque tem de procurar constantemente compromissos entre opiniões muito diferentes.
Não pode ter rasgos, grandes ideias, porque essas serão mortas pelas concessões que é necessário fazer a todo o momento.
É por estas e por outras que a Europa, politicamente, conta cada vez menos a nível mundial.
É por isso que Trump, quando quer resolver os assuntos, vai diretamente aos protagonistas que contam: fala com a Rússia, com a China, com a Coreia, com Israel.
Nós irritamo-nos por não dar importância à Europa – mas ele percebe que não vale a pena, porque os processos de decisão aqui são muito morosos, não há capacidade nem espaço para encontrar novas soluções, tudo é muito previsível.
Ursula Von der Leyen, a nova presidente da CE, vai estar metida numa camisa de 11 varas da qual será muito difícil libertar-se.
Num mundo em transformação acelerada, que requer respostas rápidas e soluções arrojadas para enfrentar os problemas cada vez mais complexos colocados pela globalização , a Europa só pode produzir ideias velhas, comida requentada, mastigada, porque a frescura é inimiga dos complicados mecanismos de decisão.
Trump é criticado porque é excessivo, diz barbaridades, é inconveniente – mas vai ao encontro dos problemas, não está sempre a repetir o que se espera.
Ursula podia ser uma lufada de ar fresco, mas não será.
Vai ser mais do mesmo: uma política cinzenta, sem chama, procurando agradar a gregos e a troianos, mais preocupada com os equilíbrios internos do que com os desafios externos.
Vendo bem, no lugar da nova presidente da Comissão Europeia podia estar um robô – a quem se fornecessem os dados e que depois reagisse sempre da forma prevista.
Por este caminho, a Europa será cada vez mais um pântano.
E riscará cada vez menos a nível mundial.
A alta politica exige nervo, imprevisibilidade, imaginação, capacidade de provocar surpresa e de descobrir caminhos novos.
Tudo o que a Europa não tem nem poderá ter.