Os militantes do PSD estão a receber e-mails de alerta, em pleno agosto, a recordar que existe uma nova forma de pagamento de quotas, instalada desde 1 de março, com o objetivo de acabar com o pagamento de quotas por «atacado», associado normalmente aos processos de caciquismo. Ora, até aqui, a missiva, a que o SOL teve acesso, não levanta dúvidas, porque o texto é, sobretudo, explicativo. Problema? Há quem veja nesta iniciativa uma forma velada de limpeza de ficheiros para Rui Rio preparar o futuro, leia-se uma eventual contenda interna, após uma derrota nas eleições legislativas de 6 de outubro.
«Mesmo que se acabe com a hipótese de ter vários militantes na mesma morada, e só o próprio receba a referência de pagamentos, a secretaria-geral fica com um retrato real até às legislativas dos cadernos de militantes ativos», frisou uma fonte social-democrata ao SOL, que recebeu o e-mail informativo e estranhou o momento para o envio do e-mail.
De realçar que, normalmente, os apelos ao pagamentos de quotas são feitos mais próximos de algum ato eleitoral interno, ou seja, para secções, concelhias, distritais ou congressos. Ora, o próximo está previsto apenas para o início de 2020. Outra fonte social-democrata ouvida pelo SOL, lembrou, sob anonimato, que quem concorre para eleições internas – e tem o controlo da secretaria-geral-, «normalmente tem mais vantagens». Um sinal de que o partido vive dias de paz podre, porque qualquer iniciativa pode ter sempre segundas interpretações.
Outros militantes do PSD ouvidos pelo SOL não encontraram qualquer problema no e-mail enviado, ainda que um tenham apontado que o mês de agosto não é o mais indicado para enviar missivas sobre quotas porque «meio país está de férias».
O SOL tentou obter explicações adicionais sobre o e-mail, designadamente sobre se o momento escolhido resultaria da falta de pagamento de quotas, quantos militantes do PSD têm a militância suspensa e se o PSD ganhou novos militantes desde dezembro de 2017 (antes da entrada de Rui Rio para a liderança do partido). Porém, não se obteve respostas em tempo útil.
Quando o PSD anunciou as novas formas de registo e de pagamento de quotas, fê-lo para colocar um ponto final numa «prática que se arrastava há muito anos e que era utilizada ilicitamente para tentar comprar votos e manipular resultados eleitorais internos». Em março deste ano, os sociais-democratas explicaram que cada militante receberia uma «notificação com uma referência de multibanco aleatória», do conhecimento exclusivo do próprio e «com uma validade de 90 dias». Mais, antes do arranque do novo processo, o PSD assegurou ao SOL que seria possível pagar as quotas «através de mbway ou cartão de crédito».
No e-mail enviado, fica o apelo a quem tem a militância suspensa para atualizar moradas e contactos. O objetivo será o de acautelar que cada militante tenha pelo menos um contacto de telemóvel ou e-mail atualizado.
O PSD só arranca para a pré-campanha na última semana de agosto, mas até lá existem vários processos para gerir. Além de desistências, há demissões anunciadas e é necessário encontrar diretores de campanhas em alguns distritos que estão em dificuldades. Oficialmente, o secretário-geral, José Silvano, não recebeu, até ao início da semana passada, qualquer pedido para sair das listas de candidatos. Certo é que o ambiente é de desmobilização em alguns distritos, mesmo que o discurso público diga o contrário.
Entretanto, quase duas semanas depois do Conselho Nacional, a formação das listas do PSD ainda dá que falar. Em Leiria, após a demissão do presidente da distrital, Rui Rocha, demitiram-se também o vogal da distrital Paulo Batista Santos, e Humberto Marques, presidente da Câmara de Óbidos e da concelhia. De realçar que Rui Rocha era considerado um dos apoiantes de Rui Rio desde a primeira hora. Agora, promete colaborar e apoiar a cabeça-de-lista, Margarida Balseiro Lopes, (elogiada pelas estruturas) sempre que for solicitado.
Alternativa em marcha em Aveiro?
Em Aveiro, o processo pode não ter efeitos diretos em campanha, mas deixará marcas para a liderança do presidente da distrital, Salvador Malheiro. Isto depois, do presidente da câmara de Vagos, de Silvério Rodrigues Relgaldo, ter deixado críticas e acusações «algum autoritarismo» , a par da intenção de demissão em bloco da secção de Vagos.
De facto, o descontentamento em Aveiro deu lugar a uma nova fase interna. Há quem já admita ao SOL que é necessário preparar uma alternativa à atual liderança da distrital, de Salvador Malheiro. E, neste ponto, há um nome que tem sido apontado, o de Rui Vilar, da concelhia de Arouca, um dos primeiros a apresentar a demissão da comissão política distrital. Contactado pelo SOL, Rui Vilar limitou-se a afirmar: «Estou preocupado em ir de férias para recuperar energias e, depois, ajudar o PSD a ganhar as eleições em outubro».
Saltam quatro vices
Numa análise à atual direção da bancada do PSD, quatro deputados e vices da bancada estão de saída: António Leitão Amaro, por vontade do próprio anunciada há um ano, António Costa da Silva, porque não aceitou ceder o lugar de cabeça-de-lista em Évora, Margarida Mano, que acabou por ser ‘sacrificada’ no processo de gestão da crise dos professores, e não aceitou concorrer fora do círculo eleitoral de Coimbra e Rubina Berardo que não foi indicada pela Madeira.
Resistem como candidatos, além do líder parlamentar, Fernando Negrão, número dois em Setúbal, Adão Silva, Carlos Peixoto, cabeça-de-lista por Braga e Guarda, respetivamente, e Emídio Guerreiro, em número sete pelo círculo eleitoral de Braga. Na prática só concorrem três dos atuais vice-presidentes da direção da bancada do PSD.
Entretanto, em Braga, há mais um pedido de desistência das listas. O deputado Joel Sá pretende deixar de ser candidato, após o seu nome ter sido colocado no 10º lugar, uma posição de risco para garantir a eleição. Mais, Joel Sá estaria, numa primeira versão da lista, em 8º lugar, mas caiu duas posições, a favor do também deputado Rui Silva, acusado num processo de corrupção em Vila Verde no passado mês de junho. Acresce-se que a entrada no 4º lugar de Carlos Eduardo Reis, que lidera uma lista de treze conselheiros nacionais, obrigou também a mudanças na lista. A sua entrada pelo círculo eleitoral de Braga foi encarada no distrito, por alguns militantes, como a resposta ao seu apoio dado à moção de confiança a Rio em janeiro.
No círculo fora da Europa também existem pedidos de desfiliação nas secções de Santos e Rio de Janeiro, com o mal-estar pela formação das listas.
Nesta fase, o PSD vive dias de gestão de silêncios, mas o antigo líder do partido e ex-presidente do Conselho Nacional Rui Machete reconheceu ao SOL a sua apreensão para as legislativas, depois dos maus resultados nas sondagens e da confusão nas listas: «Preocupado estou. Mas quero manter-me longe dessa confusão. Quero manter-me equidistante».