A Polícia de Segurança Pública (PSP) vai estar com especial atenção à conferência que reúne várias organizações europeias da extrema-direita, nacionalista e neonazi, este sábado, em Lisboa, e aos protestos antifascistas consequentes, que também irão decorrer no mesmo dia, na capital.
Contactada pelo SOL, fonte oficial da força policial garantiu que tem conhecimento «dos eventos em questão» e que «adotará o planeamento adequado».
A reunião organizada pelo movimento português Nova Ordem Social vai juntar membros da extrema-direita – como Josele Sanchez (Espanha), Adrianna Gasiorek (Polónia), Blagovest Asenov (Bulgária), Francesca Rizzi (Itália), Mattias Deyda (Alemanha) e YvanBenedetti (França). O local exato onde este evento vai ocorrer em Lisboa, só será divulgado na manhã deste sábado.
Porém, a manifestação convocada contra a realização da «conferência nacionalista» já tem sítio e horas marcadas. Na sequência da divulgação de um manifesto e do lançamento de uma petição por 65 organizações antifascistas portuguesas e 37 estrangeiras, «todos os cidadãos, partidos, sindicatos, movimentos e organizações» são chamados a participar numa concentração no Rossio, no dia 10 de agosto, por volta das 13 horas.
Na petição, que já conta com mais de 8 mil assinaturas no espaço de uma semana, os grupos antifascistas afirmam que o protesto tem como objetivo que o povo português deixe uma mensagem clara: «Os neonazis não são bem-vindos! Fascismo nunca mais!», pode ler-se no texto da iniciativa.
Dirigida ao presidente da Assembleia da República, presidente do Tribunal Constitucional, ministra da Justiça, grupos parlamentares e direções de partidos, este documento pede que a realização do encontro seja impedida e argumenta que a Constituição proíbe a existência de «organizações racistas ou que perfilhem a ideologia fascista, ou ainda que promovem a violência». A Esquerda Revolucionaria – A Centelha, a Frente Unitária Antifascista, o SOS Racismo e a UMAR – União de Mulheres Alternativa e Resposta são algumas das associações que marcaram a concentração.
Partidos de esquerda contra reunião
PCP, o Bloco de Esquerda e PAN manifestaram-se, esta semana, publicamente contra a conferência preparada por Mário Machado, o líder da Nova Ordem Social que já foi condenado por vários crimes de ódio e discriminação racial.
O BE foi a primeira estrutura política a expressar-se contra o evento e a exigir que o mesmo fosse cancelado. «O partido repudia a realização desta reunião e considera que ela deve ser impedida pelas autoridades portuguesas, pois visa promover organizações cujos membros se distinguem no apelo à violência racista», informaram os bloquistas num comunicado enviado às redações, na passada quarta-feira. O partido liderado por Catarina Martins acrescentou que o BE irá estar presente na manifestação e convidou todos os portugueses a juntarem-se à concentração contra o evento da extrema-direita.
No mesmo dia, o PCP também se declarou contra a reunião evocando, igualmente, «os valores progressistas constantes na Constituição da República de rejeição do racismo e xenofobia e de estruturas que perfilhem a ideologia fascista».
Os comunistas sublinharam ainda que, para o partido, o evento representa uma ofensa. «A realização de tal evento, no ano em que se comemoram os 45 anos da Revolução de Abril, é uma ofensa aos que durante décadas se bateram pela liberdade e a democracia e em vários casos, nomeadamente militantes comunistas, pagaram com a própria vida», refere uma nota divulgada pelo PCP.
Esta sexta-feira, o PAN também se chegou à frente e mostrou «o seu repúdio pelo evento». Reforçando que o partido trabalha «por uma sociedade que pugne pela garantia e proteção dos direitos humanos de todas as pessoas», a força política liderada por André Silva recordou que o passado já demonstrou «que a apatia ou a indiferença relativamente a esse tipo de ameaças e posicionamentos ideológicos» podem ter «graves consequências».
Sem se referir diretamente sobre os eventos marcados para o início do fim de semana, o Presidente da República apontou, na semana passada, que Portugal se devia manter um exemplo de estabilidade política e social e «não de radicalismos» ou de «fenómenos inorgânicos», afirmou Marcelo Rebelo de Sousa em declarações à Lusa, durante a sua segunda visita oficial à Alemanha.
Tensão entre extremistas e antifascista aumenta em 2018
Segundo o último Relatório Anual de Segurança Interna (RASI), «a tensão entre extremistas de direita e grupos antifascistas agravou-se significativamente, por responsabilidade de ambas as partes, gerando um clima potenciador de violência ideologicamente motivada».
O relatório avança também que o setor neofascista «mantém-se bastante ativo» no país, organizando, maioritariamente, «conferências, ações de protesto ou até eventos musicais».
Por outro lado, os movimentos skinheads e neonazis são apontados pelo RASI como grupos com menos expressão em Portugal. Ainda assim, regista-se a realização de «atividades como concertos ou reuniões» por parte destes movimentos.
O maior alerta deixado no relatório remete para «uma intensa difusão» de ideias associadas à extrema-direita em «ambiente virtual», com o objetivo de «criar condições favoráveis ao sucesso eleitoral de forças nacionalistas ou populistas em 2019», conclui a análise aprovada em reunião do Conselho Superior de Segurança Interna.