Longe vão os tempos em que o mês de agosto, em Lisboa, era sinónimo de uma cidade vazia. Hoje, Lisboa é invadida pelos turistas que tornam este mês mais vazio de lisboetas mas preenchido com turistas.
Lisboa deixou de ser (só) dos lisboetas. Por vezes parece invadida, tal é o número de turistas que nos visitam (por vezes em excesso). Lisboa é procurada porque é uma cidade que atrai e recebe bem. A ‘nossa’ Lisboa passou a ser partilhada. A cidade de que gostamos é ‘gostada’ por outros. É justo que temperemos o sentimento de posse pelo sentimento de partilha com orgulho de que, sendo partilhada, não deixa de ser nossa. E quando somos nós os turistas noutras cidades, gostamos que partilhem as cidades ‘deles’ e sermos bem recebidos.
O debate sobre as vantagens e os inconvenientes do turismo está longe de estar esgotado. O turismo é incontornável e por isso, mais do que uma posição fundamentalista contra ou a favor, importa mitigar os inconvenientes e potenciar as vantagens. E há muito por fazer: A definição dos segmentos preferenciais, a diversificação da oferta geográfica e, dentro da cidade, a criação de polos de atração que dispersem a concentração e a limitação da concentração de alojamentos turísticos. Em suma, importa não matar a ‘galinha dos ovos de ouro’, evitando a criação de um sentimento de repulsa dos turistas.
Lisboa está mais confusa. Mas dispõe de uma oferta muito maior e mais variada de pontos de interesse que enriquecem a cidade. Parte da renovação e qualificação urbanas, dos espaços de lazer, dos restaurantes, das esplanadas, das atividades e equipamentos de lazer ou cultura são uma realidade sustentável graças ao turismo.
Neste mês de agosto (ou noutro qualquer), podemos fazer uma experiência: apreciar Lisboa como fazem os turistas e entender o encanto da cidade.
Para começar, deve deixar-se o carro em casa e optar pelos transportes públicos – por exemplo os elétricos. Pode-se também fazer um passeio num tuk-tuk ou escolher um percurso num autocarro turístico ‘hop-on-hop-off’.
Visitar um ou dois (ou mais) miradouros com vistas diferentes sobre Lisboa é uma experiência única que nos permite admirar a luz, a cor e os telhados de Lisboa. Os jardins de Lisboa são outra opção interessante – e ainda há jardins pouco conhecidos (e menos concorridos) que merecem ser visitados e que nesta altura têm programações com música ou cinema ao ar livre.
Depois há os monumentos e os museus, alguns menos centrais e menos concorridos que merecem uma visita (os mais concorridos implicam alguma paciência nas filas).
A gastronomia é impar em Lisboa. Porque reúne a diversidade do país e do mundo (e já bastaria se fosse apenas de Lisboa) e porque ainda se encontram (por toda a cidade) restaurantes que resistem à ‘oferta para turista’.
A zona ribeirinha é sempre uma experiência única que permite conjugar um passeio, visitas a espaços verdes, monumentos e gastronomia e ainda permite apanhar o barco e estender a experiência à margem sul (de onde se avista Lisboa de forma esplendorosa).
Em Lisboa, sobretudo, deve-se andar a pé, percorrer as avenidas, praças e as ruas estreitas, olhar a impressionante e ímpar calçada portuguesa que é parte da nossa identidade, mas também olhar para as pessoas, observar, fotografar, vivenciar e compreender a atração da cidade que é nossa mas que partilhamos com quem gosta.