A decisão de Israel de proibir a entrada de duas congressistas democratas norte-americanas, Rashida Tlaib e Ilham Omar, foi recebida com indignação em Washington e Telavive. Tanto é que Israel deu um passo atrás e disse que autorizaria Tlaib – que tem descendência palestiniana e família na Cisjordânia – por «razões humanitárias» a visitar a avó de noventa anos que lá vive. No entanto, impôs uma condição: desde que não promova o boicote a Israel.
O Governo de Benjamin Netanyahu, através de uma carta do Ministério do Interior publicada esta sexta-feira, referia que afinal autorizava a visita da congressista do Michigan, caso esta prometesse, por escrito, não promover o boicote de Israel. «Visitar a minha avó sob essas condições opressivas vai contra tudo o que acredito», respondeu Tlaib no Twitter, salientando: «Silenciar-me e tratarem-me como criminosa não é o que ela quer para mim».
No entanto, o ministro do Interior israelita publicou uma carta, aparentemente assinada por Tlaib, a solicitar a entrada em Israel, a título meramente pessoal, para visitar a avó, reiterando que poderia ser a última vez que a via e que, para isso, respeitaria «quaisquer restrições» e que não iria «promover o boicote durante a sua visita» . A carta foi alegadamente enviada por Tlaib na quinta-feira, na sequência da decisão de Israel de não permitir a sua entrada. Até ao fecho desta edição, Tlaib não se pronunciou sobre o teor da carta.
As congressistas, que são as duas primeiras mulheres muçulmanas eleitas para o Congresso, planeavam visitar Israel a partir de domingo e percorrer, com uma delegação da Autoridade Palestiniana e uma organização de defesa dos direitos dos palestinianos, cidades da Cisjordânia, como Belém, Ramalá, Hebron e Jerusalém Oriental, que à luz da lei internacional é território palestiniano anexado por Israel.
O Governo de Netanyahu impediu a entrada das congressistas democratas devido ao seu apoio ao movimento Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS), uma organização de origem palestiniana que preconiza campanhas para boicotar Israel económica e culturalmente, visando a desocupação da Cisjordânia e da Faixa de Gaza. A proibição foi baseada numa lei recente que permite o Governo de impedir a entrada no país de apoiantes do BDS.
O assunto teve alta repercussão nos Estados Unidos, não tivesse Trump instado Israel a barrar a entrada de Omar e Tlaib horas antes do anúncio de proibição da entrada das congressistas. Uma ação sem precedentes na história da relação entre os dois países.
«É uma afronta que o primeiro-ministro Netanyahu, sob a pressão de Trump, tenha negado a entrada de duas representantes do Governo dos EUA», reagiu Omar. No mês passado, Trump sugeriu ao quarteto congressista conhecida como o «Pelotão», do qual Omar e Tlaib fazem parte, que «voltassem» para os seus países, embora sejam cidadãs norte-americanas. A vasta maioria do Partido Democrata tem uma política automática de apoio a Israel e muitos membros do partido já condenaram este apoio de Tlaib e Omar ao movimento BDS, considerando-o anti-semita. Mas à semelhança dos ataques de Trump no mês de julho, a proibição de entrada teve novamente um efeito unificador nos democratas. «Como alguém que ama Israel, estou muito perturbada com a notícia de que Israel decidiu não permitir a entrada de membros do Congresso no país», reiterou Nancy Pelosi, líder da Câmara dos Representantes, num comunicado.
Outro membro democrata do Congresso, conhecido até pela sua oposição ao movimento BDS, escreveu, também em comunicado, que a decisão de Telavive ia «providenciar uma narrativa falsa e negativa de Israel – como fraca e temerosa -, uma perceção que será com certeza explorada pelos seus inimigos».