Não faltaram temas para as sete maiores economias do mundo discutirem este fim de semana durante a cimeira G7, em Biarritz, no sudoeste da França. Mas os que ecoaram mais na cidade basca foram a guerra comercial, o Brexit e a Amazónia.
O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deu sinais confusos sobre o futuro da guerra comercial contra Pequim. “Na verdade, estamos a dar-nos muito bem com a China neste momento. Estamos a falar. Acho que querem fazer um acordo muito mais do que eu”, sugeriu o chefe da Casa Branca, este domingo, quando ainda há poucos dias tinha escrito no Twitter que as empresas norte-americanas deviam “procurar alternativas à China”.
Questionado sobre se estava a ter dúvidas em relação à sua postura hostil contra Pequim, Trump foi sintético: “Claro, porque não?”. As palavras do Presidente foram interpretadas como uma passo atrás no conflito com a China. Mas apenas cinco horas depois, a Casa Branca realçou que as palavras do Presidente estavam a gerar confusão nos meios de comunicação. “A sua resposta foi muito mal interpretada”, garantiu Stephanie Grisham, porta-voz da Casa Branca.
Trump protagonizou outros momentos durante este fim de semana. Por seu lado, mostrou empatia e encheu-se de elogios ao primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, abrindo portas para um acordo de livre comércio com o Reino Unido. “Ele não precisa de conselhos. É o homem certo [para levar o Brexit à avante]. Digo isto há imenso tempo”, reiterou o chefe da Casa Branca, depois de ter tomado o pequeno almoço com o líder de Governo britânico. Um apoio que Johnson não teve um dia antes, após as palavras de Donald Tusk, Presidente do Conselho Europeu, que avisou o primeiro-ministro britânico a não ficar conhecido como o “senhor não-acordo”.
Nas vésperas da cimeira, o Presidente francês e anfitrião do evento, Emmanuel Macron, apelou aos países que formam o G7 para que se concentrassem na defesa da democracia, igualdade de género, educação e meio ambiente.
Só que após se reunir com Trump para um almoço à margem da cimeira, no sábado, os assessores do chefe da Casa Branca acusaram o Presidente francês de se concentrar demasiado em questões “politicamente corretas” como o aquecimento global e a desigualdade, ao invés do crescimento económico, segundo o New York Times.
As palavras do assessores do Presidente norte-americano foram principalmente uma crítica à tentativa de Macron de formar uma coligação que pressione o Brasil a atuar contra os incêndios que estão a devorar a maior floresta tropical do mundo. O chefe de estado francês ameaçou, juntamente com a Irlanda, bloquear o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, caso o Brasil não cumpra com as suas obrigações ambientais.
Porventura, o apelo até teve eco noutros líderes. Segundo uma fonte anónima à Reuters, as potências concordaram em fazer todos os possíveis para ajudar nos incêndios: “Foi a parte mais fácil das negociações”. Contudo, em público, não se quiseram comprometer com as medidas de embargo económico propostas por Paris, preferindo salvaguardar o acordo comercial. “Acho que estaria relutante em fazer qualquer coisa neste momento muito difícil para o livre comércio global, cancelando outro acordo comercial”, admitiu Johnson.
Num momento raro de consenso entre Londres e Bruxelas, Tusk também admitiu que prefere manter o acordo comercial como está, embora admita que não será um processo pacífico caso a Amazónia continue a arder: “É difícil imaginar um processo harmonioso de ratificação”.
Este fim de semana também foi marcado pelos protestos habituais contra o G7. França cercou a cidade com 13 mil agentes policiais, o que não impediu vários milhares de pessoas de se deslocarem para mostrarem o seu desagrado com os líderes mundiais, nas localidades nas margens de Biarritz. No sábado foram recebidos com canhões de água e gás lacrimogéneo. Muitos ficaram feridos, e outros tantos detidos. Tudo isto apesar de se terem manifestado a uns largos quilómetros do local onde os políticos se encontravam.