Quarta-feira (28), Brasília. Jair Bolsonaro liga para o primeiro-ministro português no auge de uma guerra de palavras com o Presidente francês, Emmanuel Macron, que havia decidido levar os incêndios da Amazónia à reunião do G-7. O objetivo do Presidente brasileiro é transmitir informações sobre a realidade na Amazónia, mas também falar sobre a importância do acordo entre a União Europeia e o Mercosul – que Macron ameaçou pôr em causa.
Ao SOL, o porta-voz da Presidência da República do Brasil, Otávio Rêgo Barros, revelou que o «Presidente Bolsonaro fez questão de instituir uma conversa bastante franca e amistosa com o primeiro-ministro português para transmitir, com uma leitura objetiva, os dados reais da situação de queimadas e incêndios que estão ocorrendo nos Estados abrangidos pela área conhecida como ‘Amazónia Legal’».
Segundo fonte oficial da presidência daquele país, pretendia-se com tais dados evitar «informações alarmistas, às vezes mesmo desinformações, que circularam nas imprensas nacional e internacional».
Apoio a Bolsonaro e fortes ligações entre os dois países
António Costa já havia dito no dia 23 que o Brasil precisava de solidariedade e não de sanções – no mesmo dia em que Macron ameaçou pôr em causa o acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul, assinado a 28 de junho. E na conversa telefónica terá reforçado a solidariedade a Jair Bolsonaro, segundo contou ao SOL Otávio Rêgo Barros: «O primeiro-ministro se solidarizou com o Presidente brasileiro pelo momento vivido no Brasil».
Quanto à posição de Portugal relativamente ao acordo de livre comércio entre os dois blocos, o chefe de Governo português terá deixado claro que tudo fará para que o mesmo seja aprovado: «Bolsonaro e António Costa reafirmaram a importância do Acordo Mercosul e UE para ambos os países e, naturalmente, para os blocos económicos nos quais estão inseridos e farão todos os esforços para aprová-lo».
As fortes ligações entre os dois países foram também abordadas e reforçadas, uma vez que são um fator determinante para o posicionamento dos dois países nestes e em outros temas. «As autoridades reforçaram as ligações históricas e culturais entre os países irmãos», acrescentou ainda ao SOL a mesma fonte oficial do Executivo liderado por Jair Bolsonaro.
Mas o contacto do Presidente brasileiro tinha um outro objetivo: o de mostrar que o país está aberto a outros pontos de vista e que pretende continuar a apostar nas relações económicas com os seus parceiros internacionais.
Contacto visa mostrar a abertura do Brasil
«Ao fim, há um significado nesse contacto que é transmitir uma mensagem ao mundo: o Brasil estará sempre aberto ao diálogo e buscará vigorosamente uma integração económica com vários players mundiais», explica ainda a presidência.
O SOL questionou ontem o gabinete do primeiro-ministro sobre quais as mensagens que foram transmitidas esta semana a Bolsonaro, bem como se tinha sido oferecido algum tipo de apoio para o combate às chamas na Amazónia, tendo recebido apenas a informação de que não havia nada a acrescentar face ao que António Costa já havia dito em público no dia 23.
Nesse dia, em que Emmanuel Macron chamou mentiroso ao Presidente Brasileiro e avançou com a hipótese de uma oposição do seu país ao acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul, António Costa fora breve quanto à posição de Portugal nesta guerra: «O Brasil precisa de solidariedade e não de sanções. O que nós precisamos é que haja intervenção para ajudar a salvar a Amazónia, não é aumentar o número de problemas que existem nestas relações entre a Europa e o Brasil».
À margem de uma visita à Fatacil, em Lagoa, no Algarve, Costa salientou ainda que a «Amazónia é um dos maiores pulmões do mundo e [que] o que lá acontece é um problema global» e defendeu que os incêndios naquela floresta não devem ser usados pelos «países que sempre se opuseram» ao tratado de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul como uma justificação. Foi a única vez em que António Costa falou sobre o caso.
Quanto à posição do Brasil, de intensificação de contactos com outros Estados, Bolsonaro já tinha deixado claro que quer um Brasil aberto ao diálogo e ao mundo. Numa publicação feita no domingo (25) nas redes sociais, o Presidente brasileiro reagia à discussão do G-7 sobre a Amazónia e a atuação do seu Governo da seguinte forma: «Desde o princípio busquei o diálogo junto aos líderes do G-7, bem como da Espanha e Chile, que participam como convidados. O Brasil é um país que recupera sua credibilidade e faz comércio com praticamente o mundo todo». Nesse post, o Presidente brasileiro agradecia ainda aos chefes de Estado que estão ao lado do Brasil numa «crise que só interessa aos que querem enfraquecer o Brasil».
Ao que o SOL apurou, nos últimos dias, Bolsonaro falou com outros dez Presidentes e chefes de Governo para prestar esclarecimentos e fazer um ponto de situação sobre os incêndios na Amazónia brasileira. Ontem à tarde – horas depois de ter classificado num live de Facebook a ajuda do G-7 como «a esmola oferecida pelo Macron» e de ter reforçado que há países europeus a tentar «comprar o Brasil às prestações» – foi a vez de o Presidente brasileiro manter conversa telefónica com a chanceler alemã, Angela Merkel.