Até ao início da tarde de ontem, as três instituições envolvidas na criação do projeto do Centro Interpretativo do Estado Novo – a Câmara Municipal de Santa Comba Dão, o Centro de Estudos Interdisciplinares do séc. XX da Universidade de Coimbra (CEIS20) e a Associação de Desenvolvimento Local (ADICES) – confirmaram ao i que iria ser realizada hoje uma conferência de imprensa para apresentar o primeiro projeto desenvolvido pelo CEIS20 para o Centro Interpretativo do Estado Novo, também conhecido como o polémico “Museu Salazar”.
Segundo fontes oficiais das referidas entidades, a conferência estava marcada para as 15h na sede do CEIS20, em Coimbra. No entanto, quando o i solicitou um documento oficial sobre o evento às instituições estas não tinham qualquer comunicado para ser disponibilizado à comunicação-social, sendo que o CEIS20 indicou que a comunicação da conferência de imprensa estava a ser tratada pela Universidade de Coimbra.
Contactado pelo o i, fonte oficial do gabinete de comunicação do estabelecimento de ensino superior, esclareceu que ainda não tinha sido enviada nenhuma nota, pois não estava “100% definido” que a conferência se realizasse esta quarta-feira. Até ao fecho desta edição, o i não recebeu qualquer comunicação oficial sobre o caso.
Presidente da Câmara não estará presente Questionada pelo i sobre quem iria participar na alegada apresentação do projeto, fonte oficial da Câmara Municipal de Santa Comba Dão afirmou que a autarquia não ia estar presente no evento. “Hoje [terça-feira] houve uma reunião com a comissão cientifica que está a tratar do projeto. O presidente da Câmara de Santa Comba Dão, Leonel Gouveia, não vai participar, tal como não vai participar nenhum dos presidentes das câmaras envolvidas, como Carregal do Sal e as outras todas. Quem vai estar presente é o coordenador da ADICES que está a liderar o projeto”, explicou a responsável do gabinete da presidência, que, porém, não esclareceu o porquê da ausência da Câmara na apresentação e qual o papel do município do Carregado do Sal ou das “outras autarquias” no projeto.
Porém, é de sublinhar que Leonel Gouveia explicou à agência Lusa, no final do ano passado, que queria que o centro interpretativo fizesse parte de um outro projeto que se chama “Rota das Figuras Históricas” que tem como objetivo juntar a figura de Salazar a outras personalidades importantes de vários concelhos de Viseu, designadamente, a Aristides de Sousa Mendes, em Cabanas de Viriato (Carregal do Sal), a família Lacerda, no Caramulo (Tondela), Tomás da Fonseca e Branquinha da Fonseca, em Mortágua.
O i tentou contactar Leonel Gouveia, mas não obteve qualquer resposta, tal como o coordenador da ADICES, João Carlos Figueiredo.
Sobre o envolvimento da Câmara de Carregado do Sal na apresentação do projeto, fonte oficial da autarquia disse não ter qualquer informação sobre a situação.
Já o CEIS20, avançou ao i que estariam de certeza presentes na conferência de imprensa os professores catedráticos António Rochette, Paulo Avelãs Nunes e Reis Torgal.
Esclarecimentos Perante as várias críticas apontadas à criação do Centro Interpretativo do Estado Novo, o presidente da Câmara de Santa Comba Dão veio esclarecer que o projeto pretende apenas “fazer um levantamento científico e histórico de um regime político, enquanto acontecimento factual”, reforçando que “de modo algum se pretende contribuir para a sacralização ou diabolização da figura do estadista”, pode ler-se num comunicado divulgado em agosto no site oficial do município.
O autarca socialista também explicou que a musealização do projeto estava a ser trabalhada pelo CEIS20, “no quadro de um protocolo de colaboração estabelecido com a associação de desenvolvimento local ADICES”. Na mesma nota, Leonel Gouveia reforçou ainda que o Centro Interpretativo iria “ser um dos edifícios da região centro, a contemplar no projeto alargado da ‘Rota das Figuras Históricas’”.
Em meados do mesmo mês, a autarquia divulgou uma “nota de esclarecimento”, na qual declarou que “jamais” teve a “intenção de promover a criação do denominado ‘Museu Salazar’”, adiantando que o projeto cultural “agregador do potencial turístico da região” visa o “aprofundamento da democracia”, reafirmando que “a consultoria científica e tecnológica é assegurada pela equipa do CEIS20”.
Petições Primeiro, surgiu o abaixo-assinado para travar a criação do centro, “Museu de Salazar, não!”, lançada por personalidades como ex-líder da CGTP, Carvalho da Silva, a escritora Maria Teresa Horta e o antigo reitor da Universidade de Lisboa José Barata Moura. Com 17 mil e 720 assinaturas, os promotores da iniciativa decidiram desativar a petição “por já ter cumprido o principal objetivo: fazer chegar ao primeiro-ministro o repúdio de cerca de 18 mil antifascistas pela criação de um espaço/museu/memorial em Santa Comba Dão”. No entanto, no mesmo mês – agosto – também foi criada a petição “Museu Salazar, sim”, a favor do projeto, dirigida à Assembleia da República. Até ao momento, o abaixo-assinado conta com cerca de 10 mil assinaturas.