“Pode prometer ao público britânico que irá a Bruxelas pedir mais um adiamento do Brexit?”, perguntou ontem uma repórter do The Sun ao primeiro-ministro Boris Johnson. “Sim, posso”, respondeu, acrescentando: “Preferia estar morto numa valeta”. Poucas horas antes desta conferência de imprensa – onde Boris apareceu rodeado de polícias em uniforme – o Governo anunciou que esta segunda-feira vai propor novamente ao Parlamento eleições antecipadas para o dia 15 de outubro. Dado que quase toda a oposição está alinhada contra esse cenário, parece improvável que Johnson o consiga. Fica por saber como quer evitar ter de pedir um adiamento do prazo limite do Brexit aos líderes europeus, que reúnem no dia 17 de 18 de outubro, após a Câmara dos Comuns ter aprovado esta semana uma lei que proíbe uma saída não-negociada da União Europeia. A BBC avançou que a lei deverá ser aprovada amanhã na Câmara dos Lordes – a câmara alta do Parlamento britânico – onde a oposição tem maioria.
Uma possibilidade para Johnson evitar ter de pedir uma extensão do Brexit seria conseguir negociar com Bruxelas um novo acordo de saída do Reino Unido, que fosse depois aprovado pelo Parlamento britânico. Contudo, isso parece uma possibilidade remota, se tivermos em conta um documento diplomático visto pelo Financial Times, em que Michel Barnier, o negociador da União Europeia para o Brexit, escreve que as negociações estão num “estado de paralisia” – algo negado pelo Governo britânico.
Fora um acordo, tudo indica que para evitar ter de pedir uma extensão do prazo do Brexit, Johnson teria de ignorar a ordem do Parlamento – passando então a questão para as mãos da Justiça – ou de se demitir. Questionado sobre o assunto, o primeiro-ministro ignorou a pergunta. Limitou-se a responder: “Odeio-o [adiamento do Brexit], custa mil milhões de libras por mês, não alcança absolutamente nada, qual é o objetivo?”.
Problemas de família No seguimento de uma das semanas mais determinantes do rumo do Brexit, o próprio irmão mais novo do primeiro-ministro, Jo Johnson, apresentou a sua demissão do Parlamento e do Governo, onde exercia a função de secretário de Estado das Universidades e da Ciência. “Tenho estado dividido entre a lealdade familiar e o interesse nacional”, escreveu esta quinta-feira Jo no Twitter. “É uma tensão impossível de resolver”, confessou.
“Agradeço muito a Jo por tudo o que fez, foi um ministro fantástico”, respondeu o primeiro-ministro, em declarações à BBC, em que mencionou que já há muito que não se entendia com o irmão no que tocava à UE – aliás, Jo fez campanha pelo ‘não’ no referendo do Brexit, enquanto Boris liderava a campanha pelo ‘sim’. Vários deputados da oposição não hesitaram em ver na demissão um sinal de pânico e desconfiança dentro do próprio Executivo. “Jonhson é uma ameaça tal que nem o seu próprio irmão confia nele”, disse a deputada trabalhista Angela Rayener.