O PS apoiou o voto de condenação dos comunistas contra o nascimento de um museu dedicado a Salazar, mas não descarta apoiar o projeto. Os socialistas, na declaração de voto entregue na Assembleia da República, consideram que o debate público sobre esta matéria não foi ainda “suficientemente clarificador quanto aos detalhes, programa e contexto da iniciativa”.
Para os deputados socialistas, as entidades que promovem o projeto devem ter em conta o voto de condenação, e consideram “imprescindível a existência de certezas absolutas quanto à qualidade e seriedade do trabalho historiográfico”.
Ou seja, apesar de apoiar a iniciativa do PCP contra a construção de um museu dedicado ao ditador, o grupo parlamentar do PS não afasta a hipótese de apoiar o projeto do autarca socialista de Santa Comba Dão.
Os socialistas avisam, porém, que “iniciativas desta natureza, ainda que bem intencionadas, podem criar riscos desnecessários de branqueamento do período histórico em causa ou até de criação de espaços de romagem ou hagiografia para aqueles que se opõem ao regime democrático e que pretendem valorizar o legado da ditadura”.
A criação de um museu dedicado a Salazar tem gerado bastante polémica, com os ex-presos políticos e várias personalidades de esquerda a contestarem a ideia do presidente da Câmara de Santa Comba Dão, Leonel Gouveia. O autarca do PS, em resposta à polémica, já garantiu que a intenção nunca foi construir um museu dedicado ao ditador, mas “criar um Centro Interpretativo do Estado Novo, em parceria com outras entidades regionais”.
O voto de condenação do PCP foi aprovado, anteontem, na Assembleia da República, com os votos do PS e dos partidos à sua esquerda e com a abstenção da direita. O PSD assume, numa declaração de voto entregue no Parlamento, que “não se revê no aproveitamento político que várias forças partidárias têm feito deste caso, nem subscreve o enviesamento demagógico patente no voto de condenação do PCP”. Mas, para já, não assume uma posição clara sobre o projeto, porque necessita de “uma informação mais detalhada e profunda”.
O Aliança foi, até agora, o único partido a assumir uma posição clara a favor da construção do museu. O partido liderado por Pedro Santana Lopes defende, em comunicado, que “a História não se pode apagar, existe. E existe independentemente do juízo que cada um faça sobre os diferentes protagonistas e os diferentes períodos históricos”. Santana Lopes assume que discorda de “qualquer proibição” e que, se o Aliança “já estivesse representado no Parlamento, teria votado hoje contra o voto do PCP”.
Local de romaria
O voto de condenação aprovado no Parlamento alerta que este projeto do autarca de Santa Comba Dão “mais não seria, a ser concretizado, do que um local de romaria de antigos saudosistas da ditadura e de novos apoiantes de uma extrema-direita que se pretende assumir cada vez mais como ameaça à democracia”.
A iniciativa apela também “aos promotores da criação de tal ‘museu’ para que reconsiderem a sua posição e a todas as entidades, públicas e privadas, para que não apoiem, direta ou indiretamente, essa iniciativa”. O PCP rejeita a construção de um museu, “independentemente da sua designação”.
Domingos Abrantes, conselheiro de Estado, defendeu que “a memória de Salazar tornada um objeto de turismo é uma coisa absurda e que pode ter graves consequências, como já se constatou noutros países”. O histórico do PCP defende que a apresentação da iniciativa “deixou claro que o projeto não tem o objetivo de denunciar o fascismo, um termo que nem sequer foi utilizado”.
O projeto foi apresentado há uma semana e os seus promotores garantiram que o único objetivo é criar um espaço “com grande grau científico”, para integrar a “Rede de Centros de Interpretação de História e Memória Política da Primeira República e do Estado Novo”. A iniciativa resulta de um trabalho conjunto dos municípios de Santa Comba Dão, Penacova, Carregal do Sal, Tondela e Seia.
“É imprescindível a existência de certezas absolutas quanto à qualidade e seriedade do trabalho historiográfico e quanto à inexistência de riscos de aproveitamento político contrário aos valores do Estado de Direito e da Democracia” Declaração de voto do PS “O grupo parlamentar do PSD defende o princípio de que o conhecimento – quando rigoroso, isento e avalizado – é sempre, e em qualquer circunstância, preferível à ignorância” Declaração de voto do PSD “A memória de Salazar tornada um objeto de turismo é uma coisa absurda e que pode ter graves consequências, como já se constatou noutros países” Domingos Abrantes conselheiro de estado “A História não se pode apagar, existe. A Aliança é contrária a qualquer proibição” Santana Lopes conselheiro de estado “É imprescindível a existência de certezas absolutas quanto à qualidade e seriedade do trabalho historiográfico e quanto à inexistência de riscos de aproveitamento político contrário aos valores do Estado de Direito e da Democracia”