Marcelo Rebelo de Sousa não gostou de declarações de camionista

Marcelo Rebelo de Sousa não gostou das declarações de Fernando Frazão ao SOL e telefonou-lhe a mostrar o seu desagrado. Ao jornal, vincou que mandou informar o camionista de que iria enviar a sua carta ao primeiro-ministro e, disse, «ele não se opôs».

Marcelo Rebelo de Sousa não gostou de declarações de camionista

Marcelo Rebelo de Sousa telefonou há uma semana a Fernando Frazão – o motorista de pesados que, em declarações reproduzidas na última edição do SOL, se disse ‘traído’ pelo Presidente – e exprimiu-lhe com dureza a sua indignação, ao mesmo tempo que se  declarou ao lado dos motoristas do setor nos motivos que os levaram, por três vezes, a convocar greves este ano.

Frazão tornou-se conhecido por, em janeiro último, ter transportado o Presidente da República no seu camião para que este pudesse avaliar as condições de trabalho dos motoristas portugueses de pesados. A confiança adquirida com o chefe de Estado levou o motorista, dias antes da greve dos condutores de pesados marcada para o passado mês de agosto, a escrever uma mensagem a Marcelo Rebelo de Sousa para o avisar das implicações catastróficas que daí poderiam advir, dizendo, designadamente: «Quero alertá-lo para o que poderá vir a acontecer, e como tal gostaria de dar o exemplo do Chile ou do Brasil: 26 dias foi quanto durou a greve no Chile, o Governo caiu. Mas, olhando para nós, uma greve dessas dimensões nesta altura seria o desastre nacional».

O Presidente – tal como o próprio recordou agora, insurgindo-se contra o facto de o SOL não ter destacado tal facto em primeira página – informou na ocasião o motorista, através da sua assessora de imprensa, Maria João Ruela, que enviara a mensagem ao primeiro-ministro, para seu conhecimento. «E, nessa altura, ele não se opôs», assegurou o Presidente.
António Costa, por seu lado, tendo recebido a carta, tê-la-á reencaminhado para a Procuradoria-Geral da República e para os serviços de informações, com vista à averiguação de possíveis ameaças à segurança nacional. Foi este destino da sua mensagem que indispôs Frazão contra Rebelo de Sousa, conforme exprimiu ao SOL há uma semana, afirmando mesmo: «Perdi a confiança. Nunca pensei que ele reencaminhasse a carta para o Costa, muito menos que viesse a ser investigado pela secreta. Ainda por cima, houve colegas que me acusaram do fracasso da greve, por causa da carta».

No telefonema que fez ao motorista no sábado passado, na sequência da publicação daquelas declarações pelo SOL, o Presidente exprimiu a sua mágoa e – segundo Frazão – terá insinuado que os trabalhadores do setor podiam perder assim um aliado, o próprio (Rebelo de Sousa), já que, quando tinha sido por ele transportado, teria dado razão aos motoristas em todas as grandes reivindicações que apresentavam. O problema – terá acrescentado – é que aos motoristas não bastava terem razão nos motivos que os levavam à greve, pois era preciso também conquistarem a opinião pública, e isso eles não teriam conseguido fazer. 

Marcelo chegou a afirmar ao interlocutor que lhe podiam ter perguntado como deviam conduzir a luta, mas que, como não o fizeram, ele resolveu não interferir. Acrescentou, porém, que, quando enviou a mensagem (de Frazão) ao chefe do Governo, lhe terá pedido para olhar com atenção para o problema, já que os grevistas teriam razão e o texto não era o desabafo de uma única pessoa, mas sim o sentimento de toda uma classe.

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