Apesar de no Egito os protestos estarem proibidos na prática desde 2013 – após o golpe de Estado que levou ao poder o ex-general Abdel Fattah el-Sisi -, milhares de egípcios saíram à rua este fim-de-semana. Sábado, os manifestantes na cidade de Suez deparam-se com barricadas policiais e veículos blindados. “Dispararam gás lacrimogéneo, balas de borracha e fogo real, houve ferimentos”, contou à AFP um dos manifestantes. Pelo menos 74 pessoas terão sido detidas, num país onde “a tortura se tornou no cartão-de-visita dos serviços de segurança”, segundo a Human Rights Watch.
À semelhança da revolução de 2011, que derrubou a ditadura militar de Hosni Mubarak, no auge da Primavera Árabe, os protestos deste fim de semana começaram na Praça de Tahrir e espalharam-se para outras cidades por todo o país. “Fora Sisi, fora”, gritou-se na Praça Tahir. “Apenas há alguns dias atrás, este seria um cenário impensável para muitos egípcios”, explicou uma repórter da BBC. A lei egípcia proíbe que mais de 10 pessoas se reunam sem receber autorização do ministério do Interior – algo que raramente acontece – podendo os infratores ser condenados a até cinco anos de prisão.
Os protestos surgiram após os apelos online do empresário exilado Mohamed Ali, que acusou Sisi de fomentar corrupção generalizada entre as forças armadas. Isto ao mesmo tempo que Sisi impõe, desde 2016, uma estrita política de austeridade, a troco de um empréstimo de 12 mil milhões de dólares (mais de 10 mil milhões de euros) do Fundo Monetário Internacional.
Enquanto um em cada três egípcios vive abaixo do limiar de pobreza – com menos de 1,3 euros por dia, segundo as estatíticas oficiais – Ali alegou que Sisi despendeu milhões de euros em palácios, residências de luxo e hotéis. O assunto tomou tais proporções que ainda na passada semana Sisi foi forçado a negar as acusações do empresário, assegurando que se mantém “honesto e fiel” ao país.
Tanto os vídeos de Ali como os protestos subsequentes se tornaram uma “ameaça legítima” ao regime, afirmou à Al Jazeera Mohamad Elmasry, professor de media e jornalismo no Instituto Doha. “Milhões de pessoas viram os vídeos [de Ali], enquanto os seus hashtags anti-Sisi se tornaram virais”, notou.