A menos de duas semanas das legislativas músicos, atores e escritores começam a apoiar publicamente os seus partidos, como já é tradição.
O regresso de Paulo de Carvalho à família comunista foi uma das grandes novidades, ‘depois de um adeus’ que durou vários anos. O cantor e compositor voltou a dar voz ao PCP com a autoria do hino de campanha da CDU para as legislativas, intitulado “Pelo sonho e pela razão”, cuja letra é de João Monge. A canção foi apresentada no evento que arrancou a campanha oficial dos comunistas, na passada segunda-feira, no pavilhão de Loures. Paulo de Carvalho voltou para apoiar o “secretário-geral”, cantou o novo hino e não deixou os camaradas sem recordar os êxitos Nini, Meninos do Huambo e, claro, E depois do Adeus – a música conhecida por ter sido a senha do 25 de Abril.
Ainda assim, este não foi o primeiro hino político que o artista, de 72 anos, já escreveu. Há cerca de 40 anos, Paulo de Carvalho, também conhecido como o Sinatra português, compôs o hino do PSD Paz, Pão, Povo e Liberdade, antes de se ter inscrito na estrutura partidária comunista, na qual foi militante até 1987. Apesar de ter confessado que sempre votou CDU, numa entrevista ao Diário de Notícias, o artista também sublinhou que sempre privilegiou ter “escolhas pontuais”, recordando a sua participação na primeira campanha de Manuel Alegre, PS, e de Pedro Passos Coelho para a Câmara da Amadora, pelo PSD.
“Estou cá para isto” Mas, no arranque da campanha oficial, Paulo de Carvalho não foi o único a apelar ao voto na CDU para estas eleições. Os comunistas contaram também com o apoio público do arquiteto Siza Vieira, do escritor Rui Zink, dos atores Gonçalo Waddington e Rita Lello e de outros músicos tais como Janita Salomé, Fernando Ribeiro e Toy. Sendo já uma cara conhecida da Festa do Avante!, em declarações ao i, Toy avançou que apesar de não ser militante do partido sempre se identificou com o PCP: “Um dos valores mais importantes para mim é a honestidade. E, não chamando desonesto a ninguém, o meu espelho sociopolítico está muito próximo de Jerónimo de Sousa”. O cantor acrescentou que decidiu apoiar publicamente a CDU porque acredita que esta força política tem “um espírito de altruísmo e preocupação com as outras pessoas” que é “benéfico” para a sociedade. “Faz falta alguém que vá alertando para os problemas sociais, para as desigualdades de oportunidades. Ao apoiar a CDU posso ajudar a sociedade a melhorar. Estou cá para isto”, concluiu Toy, em conversa com o i.
Artistas responsáveis pela geringonça O BE também decidiu arrancar o período oficial de campanha na companhia de vários artistas. Num almoço dedicado à Cultura, a coordenadora bloquista, Catarina Martins, começou por fazer um grande elogio aos músicos, atores e escritores portugueses lembrando que durante o período da crise “foram o cimento de empatia e de solidariedade e que, por isso, foram, sim, os grandes construtores da solução política que tivemos nos últimos quatro anos”. No evento, o partido contou com a presença de vários simpatizantes do mundo das artes, como o escritor José Luís Peixoto, as atrizes Cucha Carvalheiro e Lúcia Moniz, o ator Pedro Lamares – que é o mandatário do partido pelo Porto – e ainda os músicos Fernando Tordo e Luanda Cozetti. Contactado pelo i, Fernando Tordo – o cantor ex-militante do PCP que fez correr muita tinta quando anunciou a sua partida para o Brasil, em 2014, durante o período da troika e do Governo de Passos de Coelho – não quis prestar quaisquer comentários sobre a sua presença no almoço bloquista reforçando que é músico e não político.
“O PAN defende causas” Sandra Cóias, atriz e ativista, foi a protagonista de um vídeo, realizado pelo PAN e divulgado pelo partido nas redes sociais no passado domingo, no qual a artista apelou ao voto no PAN. Em 20 segundos, Sandra Cóias – vegana há 20 anos e apoiante de várias causas relacionadas com o ambiente e com os direitos dos animais – deixa claro que apoia a estrutura partidária que passou a ter assento parlamentar em 2015, porque o “PAN defende causas, defende os direitos de todos os seres humanos”, “dá voz e defende aqueles que não têm voz, os animais” e “defende também a natureza”.
Fonte oficial do partido liderado por André Silva avançou ao i que mais figuras públicas vão entrar na campanha do PAN, nos próximos dias, incluindo o ator Philippe Leroux.
PS sem artistas nas mangas Ao que o i apurou, o PS não tem prevista a participação de artistas nesta campanha, confirmou fonte oficial do partido. No entanto, na última corrida às urnas – para as eleições europeias – os socialistas contaram com o apoio de 270 “mulheres progressistas” poucos dias antes do final da campanha eleitoral, que justificaram a confiança no partido afirmando que o “PS tem estado na linha da frente na promoção dos direitos das mulheres” e que “foram os governos do PS que propuseram e aprovaram as principais leis progressistas em prol das mulheres”, esclareceu o grupo através de uma carta enviada, na altura, às redações. As escritoras Alice Vieira e Maria Teresa Horta e as atrizes Maria do Céu Guerra e Maria de Medeiros, foram algumas das mulheres que subscreveram este manifesto.
Já o CDS, apesar de os artistas se virarem tendencialmente para a esquerda, teve apoiantes ligados às artes do seu lado, destacando-se o caso da famosa cantora portuguesa, Dina, que compôs e entoou o hino oficial dos centristas intitulado Para a voz de Portugal ser maior.
“Admiramos muito a Joacine” Não ter assento parlamentar não é sinónimo de não ter o apoio de artistas e prova disso é o Livre. Antes até da campanha oficial ter começado o partido ecologista lançou uma música em honra da cabeça-de-lista por Lisboa do Livre, Joacine Katar Moreira, divulgada através das redes sociais. A música da autoria do projeto musical Fado Bicha chama-se O-sem-precedente e tem como objetivo “refletir sobre o que Joacine representa, apresentar o seu percurso” e também convidar todos os portugueses a dançar “porque a sua mensagem é também de alegria e valentia”, explicou ao i um dos artistas. Os músicos avançaram ainda que o convite para a colaboração foi feito pela própria candidata apesar de já haver uma ligação entre o partido e o projeto. “Aceitámos o convite principalmente por admirarmos muito a Joacine e por acharmos que a sua candidatura é histórica e merece ser refletida – é a primeira mulher negra a encabeçar uma lista de um partido em Portugal!”, argumentaram, salientando que a “falta de representação já não é aceitável e a Joacine traz essas pautas”.