Os alarmes voltaram a soar em torno do risco de uma nova crise financeira. Os alertas têm ganhado maior relevo nas últimas semanas e ainda esta semana foi a vez de Kristalina Georgieva, na sua primeira intervenção enquanto diretora do Fundo Monetário Internacional (FMI), chamar a atenção para o facto de a economia mundial ter de estar preparada para enfrentar uma nova crise económica.
A responsável reconhece que é uma «grande responsabilidade» ter de liderar a instituição numa altura em que «o crescimento da economia mundial continua a dececionar, as tensões comerciais continuam e a dívida alcançou níveis históricos». E garante que a prioridade imediata do FMI é «ajudar os países a minimizarem os riscos de crise e a prepararem-se para lidar com uma desaceleração».
O que é certo é que os sinais de abrandamento económico refletem-se nos dados que têm vindo a ser divulgados. «A atividade de manufatura na zona euro contraiu ao ritmo mais rápido dos últimos sete anos. Este abrandamento deveu-se sobretudo à Alemanha, ao atingir o nível mais baixo em mais de uma década. A manufatura em França também saiu em valores moderados bem como os serviços por toda a Europa», afirma ao SOL Nuno Mello, Head of Sales da XTB. Segundo o analista «com a guerra comercial entre a China e os Estados Unidos, a manipulação cambial do yuan por parte das autoridades chinesas e a situação do Brexit com a cada vez mais provável saída do Reino Unido sem qualquer acordo com a União Europeia são fatores que criam uma atmosfera explosiva e portanto prejudicial para a confiança dos investidores». Uma opinião partilhada por Pedro Amorim, analista da corretora Infinox, que aponta os mesmos riscos.
Portugal preparado?
Os dos analistas contactados pelo SOL lembram, no entanto, que os bancos centrais já começaram a implementar medidas facilitistas, como cortes nas taxas de juro e programas de compra de ativos. Aliás, Pedro Amorim reconhece que bancos centrais estão a arrastar cada vez mais o assunto para os anos seguintes. «Os sinais estão aí, apenas temos o BCE a ‘meter doping’ na economia para que a queda não seja já. Eu aponto para os próximos três a quatro anos para que a crise volte a acontecer».
Já em relação ao impacto que terá em Portugal, Nuno Mello acredita que o excedente orçamental registado até agosto ajudou a criar uma almofada financeira para tempos de crise. Mas deixa um alerta: «Se o desaceleramento da economia mundial se traduzir numa recessão, Portugal também irá ser arrastado». Por seu lado, Pedro Amorim acredita que, em comparação com a crise passada, o nosso país estará mais bem preparado. E vais longe: «A crise de uns pode transformar-se numa oportunidade para a nossa economia. Somos uma porta de entrada e de saída na Europa para o Atlântico. As economias da América Latina (economias emergentes) vão ser alvo dos maiores investimentos enquanto na Europa a regulação e o compliance afastam cada vez mais investimentos. O foco das empresas e da economia deve ser a exportação e não o consumo interno. Se continuarmos com o foco no consumo, não temos qualquer medida para atenuar o impacto de uma nova crise», diz ao SOL.
Ao mesmo tempo, o analista defende que tudo dependerá de a responsabilidade das contas públicas se mantiver como nestes últimos quatro anos. «Estas eleições legislativas serão muito mais importantes do que se está à espera», diz, lembrando que «uma vitória com maioria absoluta do PS é o cenário mais desejado pelos investidores e pelo mercado para permitir uma maior estabilidade. Uma coligação com algum dos parceiros atuais poderá ser perigosa devido à natureza politica e criará alguma queda na confiança do investidor», conclui.